sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Cumprimento do dever

         

            Já me declarei socialista em crônica anterior.  Liberal e extremamente democrata, com o parlamento livre e pluralidade de partidos.  Socialismo não é igualar os homens; é igualar os direitos deles.
            A introdução é necessária, pois sempre existe alguém para tentar distorcer os fatos.
            José Genoíno, condenado pelo Supremo Tribunal Federal e já cumprindo pena, foi agraciado com a Medalha do Pacificador, a mais alta condecoração das forças armadas brasileiras.  Na época, o agora condenado era assessor especial do Ministério da Defesa.  Desconheço as razões pelas quais a honraria lhe foi concedida.
            Logo após sua condenação, Genoíno pediu para ser exonerado do cargo que ocupava no Ministério da Defesa, mas a presidente Dilma, não se sabe por qual motivo, ainda não despachou o pedido.
            Surge então o problema.  A autoridade capaz de conceder a Medalha é o Comandante do Exército.  É ele também que a pode retirar, e somente ele.  O decreto 4.207, de 23 de abril de 2002, no seu art. 10, alínea “b”, manda ser excluído o agraciado que “tenha cometido atos contrários à dignidade e à honra militar, à moralidade da organização ou da sociedade civil, desde que apurados em sindicância ou inquérito.” O inciso II, "a", fulmina o assunto, quando fala em condenação transitada em julgado, por ato que ofenda a nação.  Cabe ao general Enzo Peri a cassação da Medalha do Pacificador concedida a José Genoíno.
            Entende-se o motivo pelo qual ele ainda não tomou a atitude.  O condenado estava usando de expedientes que envolviam sua saúde para conseguir prisão domiciliar.  Seria extremamente desagradável para o general Enzo tomar a medida.  Laudos médicos demonstraram que o alegado pelo condenado não tinha procedimento.

            Se o general Enzo vai ou não retirar a comenda antes do Natal, é coisa que ninguém sabe.  Mas ele está obrigado a tomar a providência, sob pena de falta ao cumprimento do dever. Vai desagradar muito a Dilma ver a medalha ser cassada. 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Farsantes

                  
 
            — É preciso cuidado.
            — Cuidado com o quê?
            — Estes caras estão vigiando tudo.
            — Qual!  Não tem gente para isso.
            Esta conversa, entre tipos bastante incomuns, estava sendo travada num conhecido e bem frequentado bar da região, onde o chope era conhecido como ponto alto.
            Clima ameno, temperatura agradável, não sendo necessário o uso de agasalhos.  O homem moreno de sol, cabelos brancos e camisa cinza, não parava de olhar os seus sapatos.  Havia comprado no dia anterior.  Bem feito, couro marrom claro, sola macia. 
            — Parece tudo tranquilo e calmo.
            — Mas cuidado não é demais.  São uns bisbilhoteiros de marca maior.
            — Mas é impossível escutar o que estamos conversando — arrematou o único que havia preferido uísque sem gelo ao chope que seus dois acompanhantes bebiam com cara de indisfarçável prazer.  O sol já havia desaparecido quase completamente, e as primeiras luzes dos postes, fotossensíveis, acendiam alternadamente.
            — Este preço pode chegar a quanto?
            — Talvez ao triplo combinado.  Muita chuva, a última causou estragos, o concreto ainda não havia curado totalmente.  Deu trabalho demais!
            — E eles aceitam o aumento?
            — Sempre aceitaram, porque seria a primeira recusa?
            O que bebia uísque pediu mais castanhas de caju.  Olhou para o alto, viu as luzes da favela, que teimam agora de chamar comunidade, serem acesas.  Numa mesa do bar modesto, onde o barulho do ventilador estava incomodando, uns tipos faziam o mesmo.  Estavam sentados, conversando sobre a distribuição do tóxico, enquanto acabavam com o estoque de cerveja.
            Não havia quase diferença entre eles.  Empreiteiros mancomunados em faturar bem mais nas obras contratadas, mediante o pagamento de gorda comissão, e homens de bermudas sentados em local mais alto e de construção ainda mais feia dos que estavam comemorando o final da sexta-feira, com a diferença de que lá encima não tinha nenhum homem admirando seu sapato novo, caro, confortável e muito bem feito...
 

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O socialismo atual

               
 
            É muito difícil explicar, em artigo curto, as bases do socialismo moderno, adequado para os dias de hoje.
            Politicamente ele está estruturado no governo de gabinete, presidido pelo Primeiro-Ministro e a equipe por ele e os congressistas escolhida.  A figura do presidente da República é totalmente afastada; é inexistente.  O Primeiro-Ministro após cada eleição parlamentar é o mais votado membro do partido que venceu as eleições.  Caso haja seu posterior impedimento, é sempre o que tiver maioria simples dos votos do parlamento.
            O parlamento é composto por deputados e senadores, os primeiros devendo obrigatoriamente ter exercido a função de vereador.  Os senadores serão sempre os que já foram deputados, com um mandato completo.  Extingue-se, desta forma, o amadorismo político.  O congresso será preenchido por brasileiros natos, exclusivamente.
            O sistema financeiro é livre.  Sobre ele incidirá imposto único, a ser definido em lei complementar, que garanta a existência de municípios e estados, além da União. 
            São responsabilidades públicas a segurança individual, as liberdades de crença ou religião e opinião, o exercício de profissões, o ensino, a saúde, o saneamento básico, moradia, transporte e o bem-estar de todos os cidadãos, devendo o estado estar preparado para o atendimento gratuito de todas as atividades mencionadas, exceto moradia e transporte, que serão incentivadas.  Faculta-se ao particular o ensino e a saúde, fiscalizadas e autorizadas pelo estado.
            Cabe ao poder público, cada qual na sua esfera, promover de maneira incontestável o desenvolvimento socioeconômico da nação.
            Todos os cidadãos são iguais perante a Lei e o poder exercido pelo povo, garantido o direito de plebiscito nas esferas municipais, estaduais e federal.  O plebiscito é intocável.  Será feito sempre que dez por cento dos eleitores assinarem em lista própria, com título eleitoral, vontade expressa contra ou a favor de qualquer ato emanado do poder público ou agente deste. Submetido à eleição, que poderá ser municipal, estadual ou federal, seu resultado será rigorosamente cumprido, obedecendo ao princípio do poder exercido pelo povo.  Não cabe qualquer tipo de recurso contra esta manifestação de vontade popular, salvo se for manifestamente contrária à lei penal ou civil.
            Caso o Primeiro-Ministro e o seu gabinete cometam ato inequívoco contra a lei ou aos cidadãos, serão imediatamente julgados pelo parlamento, que proclamará o afastamento atingida a votação em maioria simples.  A eleição dos sucessores será feita, no máximo, em sete dias úteis.  O plebiscito é inteiramente cabível também neste caso.
            Estes são os princípios fundamentais do socialismo contemporâneo.

Publicado no Pravda de 20/11/2013, link http://port.pravda.ru/news/science/21-11-2013/35671-socialismo-0/

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Luz


                                      

 

Aurora que desponta no horizonte
trazendo tanta luz qual fosse fonte
de amor, compreensão, cândida harmonia
removendo das gentes a agonia.

Vai para longe a treva da malvada
ira, que faz terrível enxurrada
e tanto leva abaixo, vai destruindo
sonhos, ilusões, tudo o mais bem-vindo.

Mas brilha o Sol, a Terra se ilumina
¾ brumas cinzentas que antes envolviam
somem e a escuridão por fim termina.

Cantam todos, é grande esta alegria
despertando do sono que dormiam...
  A velha e escura noite fez-se dia!
                        



Postagem número 300.


                                            


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Livro digital

        
            Com o aparecimento dos novos livros digitais, que podem ser lidos em aparelhos, todos se perguntam qual o futuro do livro físico.
            O livro digital veio para ficar em definitivo.  Quando usado no instrumento compatível, depois de certo tempo ele mostra mesmo aos mais admiradores do charmoso e elegante objeto de papel, gostoso de ser folheado, que em vários pontos supera o tradicional.  Os mais importantes são a grande quantidade de livros que pode ser armazenada num aparelho eletrônico, a falta de necessidade da limpeza dos mesmos, a durabilidade e o afastamento de ser destruído pelo cupim.
            Tratar de uma biblioteca é trabalho meticuloso.  Não basta o espanador ou aspirador de pó, é preciso estar atento aos ataques de umidade, claridade excessiva, fungos e estragos definitivos, como o já mencionado cupim e o traiçoeiro fogo.
            É claro que o livro físico não vai acabar nunca, mas ficará restrito às bibliotecas públicas, as de universidades, escolas e centros de ensino.  Os livros e principalmente documentos escritos a mão ainda circulam em bibliotecas e cartórios.  O manuscrito não acabou, nem vai acabar.  É tradição do homem, como os frutos da invenção de Gutenberg.
            Nenhuma grande editora atual dispensa o seu e-livro, ou e-book, a mesma coisa.  Livro eletrônico, digital.  Ele não esgota; qualquer autor famoso é encontrado neste formato, é muito barato e fácil de ser lido.  Os melhores aparelhos não têm tela luminosa, que acaba por incomodar a visão do leitor.  Cansou do romance?  Abra o de poesia, é imediato.
            O melhor mesmo é a escolha e compra.  Pelo computador a operação é rápida.  Basta pagar com o cartão bancário e aguardar a quase instantânea liberação. Após, baixar no aparelho a ser usado.  Verdadeira biblioteca, das grandes, num instrumento de pequena dimensão.  
            Coisas atuais, inteligentes e práticas.  As árvores agradecem.  Não é preciso falar muito: para uso e segurança, todas as bibliotecas importantes do mundo digitalizaram seus livros.