Os namorados/Van Gogh
A travessia Rio - Niterói feita pela antiga barca mostra um panorama deslumbrante.
É vista a entrada da barra da Baía da Guanabara, o contorno da Serra do Mar, as águas ainda sujas, mas já proporcionando a volta dos botos, que nas suas evoluções, sempre encantaram os que fazem a travessia.
Um homem, taciturno, parecia envolto na leitura do jornal aberto. Seus pensamentos estavam longe. A nova colega de trabalho, moça de seus vinte e oito anos, não lhe saía da cabeça. Seus cabelos curtos, muito bem cortados, sua roupa discreta e elegante, chamando a atenção para um copo bem moldado, melhor dizendo, esculturamente talhado, não lhe saiam da cabeça.
Era sexta-feira, e ele só retornaria a ver sua nova paixão dois dias depois.
Sonhou. Sonhou com todo apaixonado. A face perfeita, o corpo muito bem moldado, onde poderia ver-se o trabalho na academia de ginástica, pintura discreta, era a mulher apaixonante.
Tinha uma companheira, agora inexpressiva. Três anos de convivência amorosos intensa, agora ameaçados pela estranha presença. É comum isso.
Não era um experimentado com este tipo de conquista, que iniciou mal.
Na sua mente, só pensava em vê-la o mais breve possível. Sonhava com o rosto lindo, a pele parecendo com a dum bebê, as pernas maravilhosas. Não deu ouvidos a Zélia, uma colega e amiga de anos. “Cuidado com esta! É carreirista”.
O jornal continua aberto, sem ser lido. A paisagem maravilhosa permanece.
O que não sabe, desconhece completamente, é que sua apaixonada passa em lugares distintos, como Búzios, Angra e hotéis de alto luxo, no Rio de Janeiro mesmo, está em companhia do seu superior, do qual ele é assistente.
terça-feira, 29 de setembro de 2009
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
O veleiro Trismus
Trismus
Até o ano de 1972, mais ou menos, estava ancorado no Iate Clube do Rio de Janeiro um veleiro estranho, de ferro, material que não é empregado na construção destes barcos a vela.
Amarelo e de dois mastros, sua tripulação era tão estranha quanto ele. Bebiam ah! Como bebiam aqueles tipos que pareciam ter saído de alguma história de piratas ou navegadores antigos. Todos, sem exceção, eram estrangeiros das mais diversas nacionalidades. Não me recordo se eram oito ou mais barbudos fortes e queimados, sempre com um copo na mão.
Haviam dado a volta no planeta várias vezes, e quando estavam a bordo do Trismus, parecia ficção. Um deles lembro bem, com longa cabeleira ruiva e encaracolada, subia na gávea – isto mesmo, o veleiro tinha gávea – e punha-se a tocar um estranho instrumento de sopro. Convidavam muita gente, falavam o português com desembaraço e ao som da estranha buzina passeavam pela baia da Guanabara e proximidades.
Som forte, Sol forte, bebidas fortes e mulheres bonitas, todas convidadas. Não, não pensem mal! Muitas delas estavam com os seus namorados, a coisa era passeio e farra mesmo, na mais inocente, louca e inacreditável forma de distração.
Que a gente do mar bebe, todos sabem. Que gostam de mulheres, igualmente. Mas completamente varridos como os tripulantes do Trismus, ninguém do mundo do iatismo conheceu. Estavam ancorados no Rio há três anos. Além das mais variadas batidas que sabiam fazer e marcas de cachaça que conheciam, todos eram bons batuqueiros. Nenhum deles era brigão ou conquistador. Tirando alguns pecados cometidos sob o efeito do álcool, nada desabonava a conduta de qualquer deles.
Faziam trabalhos no próprio clube, para sobreviverem. Pintura de barcos, reparos elétricos, limpeza de cascos das embarcações que ficam no mar, poitadas e recebendo todo o tipo de cracas, inclusive mexilhões, os doidos e simpáticos marinheiros iam desfrutando os prazeres da Cidade Maravilhosa, falando qualquer idioma. Segundo um deles mesmo me contou, estavam no mar há dezoito anos. Conheciam o mundo, mas encantaram-se com a costa brasileira, que já haviam navegado toda. Quatro mil milhas marítimas, cerca de sete mil e quatrocentos quilômetros.
Como não existe marinheiro que acabe em terra firme, num dia ensolarado o Trismus e seus tripulantes foram-se. Toda vez que passava pela bóia onde ficou poitado, sentia saudades do velho veleiro de ferro, dois mastros, gávea e cor amarela berrante. Fazia parte da paisagem.
De vez em quando, mandavam notícias dos mais diversos lugares do mundo. Um dia, elas cessaram. Velejadores famosos do mundo inteiro conheciam o Trismus e seus tripulantes. Não sabiam dizer nada a respeito.
Até hoje ninguém sabe o que aconteceu. Segundo muitos, o Trismus naufragou numa tempestade no Oceano Índico, e Netuno toma conta tanto dele como dos seus marinheiros.
Os fatos narrados nesta crônica são reais.
Até o ano de 1972, mais ou menos, estava ancorado no Iate Clube do Rio de Janeiro um veleiro estranho, de ferro, material que não é empregado na construção destes barcos a vela.
Amarelo e de dois mastros, sua tripulação era tão estranha quanto ele. Bebiam ah! Como bebiam aqueles tipos que pareciam ter saído de alguma história de piratas ou navegadores antigos. Todos, sem exceção, eram estrangeiros das mais diversas nacionalidades. Não me recordo se eram oito ou mais barbudos fortes e queimados, sempre com um copo na mão.
Haviam dado a volta no planeta várias vezes, e quando estavam a bordo do Trismus, parecia ficção. Um deles lembro bem, com longa cabeleira ruiva e encaracolada, subia na gávea – isto mesmo, o veleiro tinha gávea – e punha-se a tocar um estranho instrumento de sopro. Convidavam muita gente, falavam o português com desembaraço e ao som da estranha buzina passeavam pela baia da Guanabara e proximidades.
Som forte, Sol forte, bebidas fortes e mulheres bonitas, todas convidadas. Não, não pensem mal! Muitas delas estavam com os seus namorados, a coisa era passeio e farra mesmo, na mais inocente, louca e inacreditável forma de distração.
Que a gente do mar bebe, todos sabem. Que gostam de mulheres, igualmente. Mas completamente varridos como os tripulantes do Trismus, ninguém do mundo do iatismo conheceu. Estavam ancorados no Rio há três anos. Além das mais variadas batidas que sabiam fazer e marcas de cachaça que conheciam, todos eram bons batuqueiros. Nenhum deles era brigão ou conquistador. Tirando alguns pecados cometidos sob o efeito do álcool, nada desabonava a conduta de qualquer deles.
Faziam trabalhos no próprio clube, para sobreviverem. Pintura de barcos, reparos elétricos, limpeza de cascos das embarcações que ficam no mar, poitadas e recebendo todo o tipo de cracas, inclusive mexilhões, os doidos e simpáticos marinheiros iam desfrutando os prazeres da Cidade Maravilhosa, falando qualquer idioma. Segundo um deles mesmo me contou, estavam no mar há dezoito anos. Conheciam o mundo, mas encantaram-se com a costa brasileira, que já haviam navegado toda. Quatro mil milhas marítimas, cerca de sete mil e quatrocentos quilômetros.
Como não existe marinheiro que acabe em terra firme, num dia ensolarado o Trismus e seus tripulantes foram-se. Toda vez que passava pela bóia onde ficou poitado, sentia saudades do velho veleiro de ferro, dois mastros, gávea e cor amarela berrante. Fazia parte da paisagem.
De vez em quando, mandavam notícias dos mais diversos lugares do mundo. Um dia, elas cessaram. Velejadores famosos do mundo inteiro conheciam o Trismus e seus tripulantes. Não sabiam dizer nada a respeito.
Até hoje ninguém sabe o que aconteceu. Segundo muitos, o Trismus naufragou numa tempestade no Oceano Índico, e Netuno toma conta tanto dele como dos seus marinheiros.
Os fatos narrados nesta crônica são reais.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
A moça do parque
Moça
Inventam muitas histórias engraçadas neste mundo.
Talvez algumas sejam verdadeiras, talvez não, nunca se sabe onde mora a verdade, aquela que todos procuram e poucos encontram.
O fato é que numa cidade grande, e aqui não se diz qual, havia um parque de árvores frondosas, brisa fresca, lago e um pequeno bosque.
As mães levavam a criançada para brincar e tomar Sol. Casais de namorados sentavam-se nos bancos e trocavam confidências e carinhos. Mas o bosque não era muito frequentado. Estava quase sempre deserto.
Segundo dizem, uma bela moça abriu um romance, sentada num banco perto do bosque e ficou absorta na leitura agradável.
Um rapaz de excelente aparência, muito bonito mesmo, sentou-se num banco próximo e ficou olhando. A moça percebeu de imediato, e reparou na beleza do espectador desconhecido. Este, calmamente, fez um gesto e se encaminhou até a leitora.
Sendo moça de cidade grande, naturalmente que permitiu que o jovem sentasse ao seu lado, e logo estavam conversando. O livro foi para dentro da bolsa grande.
Não se sabe o que falaram antes. Sabe-se que a moça estava encantada com o seu admirador.
- Vamos dar um passeio neste bosque, Regina?
- Prefiro ficar aqui.
- Conhece o bosque?
- Já fui uma vez. Tem árvores muito altas, é um lugar bonito.
- Ora, eu não conheço. Você poderia guiar um pequeno passeio.
- Não, Sérgio. Afinal eu não o conheço direito. Vamos ficar aqui.
Sentiu seu braço ser agarrado com força. Tentou resistir mas viu que era impossível, e o rapaz mostrou algo que estava debaixo da sua camisa. Parecia uma arma.
- Vamos, ou pode acontecer coisa grave.
Não tendo alternativa, pois não queria levar um tiro e ao invés de morrer ficar tetraplégica como uma conhecida, obedeceu. Qualquer que passasse diria que eram namorados.
Já bastante próximo do centro do bosque, o rapaz jogou-a por terra e ali mesmo consumou o ato que pretendia. Por incrível que possa parecer, não machucou Regina, que só não atingiu o prazer pelo susto e pelo medo. Sofrera uma violência, mas não foi machucada, nem agredida.
Sérgio, se é que era este mesmo o nome dele, desapareceu.
A jovem Regina recompôs suas vestes. Chegando em casa, contou o fato só para a mãe, que achou melhor não colocar polícia no meio. A filha iria sofrer as consequências.
Regina contou o ocorrido a Telma e Cristina, suas amigas de longos anos.
- Era mesmo bonito, Regina? – indagava Telma, a mais atirada.
- Era lindo! Cheiroso e gentil. Pediu desculpas, antes de ir embora.
- E não machucou você?
- Não fez nada mais do que queria fazer. Parecia um príncipe encantado.
O diálogo continuou por muito tempo. Mas aconteceu um fato estranho no parque.
Sempre tem uma moça sentada no lugar onde Regina estava. E como ela, lendo um livro...
Inventam muitas histórias engraçadas neste mundo.
Talvez algumas sejam verdadeiras, talvez não, nunca se sabe onde mora a verdade, aquela que todos procuram e poucos encontram.
O fato é que numa cidade grande, e aqui não se diz qual, havia um parque de árvores frondosas, brisa fresca, lago e um pequeno bosque.
As mães levavam a criançada para brincar e tomar Sol. Casais de namorados sentavam-se nos bancos e trocavam confidências e carinhos. Mas o bosque não era muito frequentado. Estava quase sempre deserto.
Segundo dizem, uma bela moça abriu um romance, sentada num banco perto do bosque e ficou absorta na leitura agradável.
Um rapaz de excelente aparência, muito bonito mesmo, sentou-se num banco próximo e ficou olhando. A moça percebeu de imediato, e reparou na beleza do espectador desconhecido. Este, calmamente, fez um gesto e se encaminhou até a leitora.
Sendo moça de cidade grande, naturalmente que permitiu que o jovem sentasse ao seu lado, e logo estavam conversando. O livro foi para dentro da bolsa grande.
Não se sabe o que falaram antes. Sabe-se que a moça estava encantada com o seu admirador.
- Vamos dar um passeio neste bosque, Regina?
- Prefiro ficar aqui.
- Conhece o bosque?
- Já fui uma vez. Tem árvores muito altas, é um lugar bonito.
- Ora, eu não conheço. Você poderia guiar um pequeno passeio.
- Não, Sérgio. Afinal eu não o conheço direito. Vamos ficar aqui.
Sentiu seu braço ser agarrado com força. Tentou resistir mas viu que era impossível, e o rapaz mostrou algo que estava debaixo da sua camisa. Parecia uma arma.
- Vamos, ou pode acontecer coisa grave.
Não tendo alternativa, pois não queria levar um tiro e ao invés de morrer ficar tetraplégica como uma conhecida, obedeceu. Qualquer que passasse diria que eram namorados.
Já bastante próximo do centro do bosque, o rapaz jogou-a por terra e ali mesmo consumou o ato que pretendia. Por incrível que possa parecer, não machucou Regina, que só não atingiu o prazer pelo susto e pelo medo. Sofrera uma violência, mas não foi machucada, nem agredida.
Sérgio, se é que era este mesmo o nome dele, desapareceu.
A jovem Regina recompôs suas vestes. Chegando em casa, contou o fato só para a mãe, que achou melhor não colocar polícia no meio. A filha iria sofrer as consequências.
Regina contou o ocorrido a Telma e Cristina, suas amigas de longos anos.
- Era mesmo bonito, Regina? – indagava Telma, a mais atirada.
- Era lindo! Cheiroso e gentil. Pediu desculpas, antes de ir embora.
- E não machucou você?
- Não fez nada mais do que queria fazer. Parecia um príncipe encantado.
O diálogo continuou por muito tempo. Mas aconteceu um fato estranho no parque.
Sempre tem uma moça sentada no lugar onde Regina estava. E como ela, lendo um livro...
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Perto do mar
Namorados/Google
Estavam sentados num banco de madeira, local pouco escuro, o que permitia beijos e carinhos mais audaciosos. O clube náutico era conhecido.
- E agora?
- Agora é arranjar uma solução que não liquide com a gente.
- Como vou dizer a ele?
- Dizendo, ora. Ele vai saber logo. É médico.
- Mas eu não quero perder você!
- Não vai me perder. Nem depois de morto.
- Do jeito que você fala, tudo parece muito simples.
- E não é? Onde está a dificuldade?
- A dificuldade, querido, é que nem você é todo meu, nem eu toda sua.
- Vamos ser sempre um do outro.
- Como? Eu não tenho você, não é o meu homem.
- Não sou teu homem? E este neném na sua barriga?
- Não fala!
- Por que deixar de falar numa coisa dessas? É nosso.
- Por isso mesmo. É nosso e você não vai ser o pai dele...
- Eu sou o pai dele. Mais cedo, mais tarde, todos vão saber.
- É, todos. Meu marido, sua mulher, meus pais. Sou a puta da vez
- Puta? Acaso tem outros homens?
- Tenho você!
- E seu marido...
- Meu amor é você. Está cansado de saber disso.
Um longo beijo juntou os corpos que se amavam. Era linda, lábios carnudos, boca bem feita, olhos penetrantes, cabelos dourados. Ficara grávida no primeiro encontro. No momento, sentia os seios dela contra o seu peito, sua pele macia, segurava a cintura bem moldada.
Era preciso ir embora. Ela não podia chegar tarde em casa, embora o marido estivesse trabalhando.
Ele, porque afinal não se leva tanto tempo assim preparando um veleiro para sair no dia seguinte.
Tem muitas coisas que desagradam. Uma delas é esta situação, que para eles, um dia teria fim. Viveriam juntos. Conversariam sem olhar o relógio, bebendo um vinho, trocando carícias, vivendo o sexo.
Sonhos. Sonhos e amor. Impossível viver sem eles.
Estavam sentados num banco de madeira, local pouco escuro, o que permitia beijos e carinhos mais audaciosos. O clube náutico era conhecido.
- E agora?
- Agora é arranjar uma solução que não liquide com a gente.
- Como vou dizer a ele?
- Dizendo, ora. Ele vai saber logo. É médico.
- Mas eu não quero perder você!
- Não vai me perder. Nem depois de morto.
- Do jeito que você fala, tudo parece muito simples.
- E não é? Onde está a dificuldade?
- A dificuldade, querido, é que nem você é todo meu, nem eu toda sua.
- Vamos ser sempre um do outro.
- Como? Eu não tenho você, não é o meu homem.
- Não sou teu homem? E este neném na sua barriga?
- Não fala!
- Por que deixar de falar numa coisa dessas? É nosso.
- Por isso mesmo. É nosso e você não vai ser o pai dele...
- Eu sou o pai dele. Mais cedo, mais tarde, todos vão saber.
- É, todos. Meu marido, sua mulher, meus pais. Sou a puta da vez
- Puta? Acaso tem outros homens?
- Tenho você!
- E seu marido...
- Meu amor é você. Está cansado de saber disso.
Um longo beijo juntou os corpos que se amavam. Era linda, lábios carnudos, boca bem feita, olhos penetrantes, cabelos dourados. Ficara grávida no primeiro encontro. No momento, sentia os seios dela contra o seu peito, sua pele macia, segurava a cintura bem moldada.
Era preciso ir embora. Ela não podia chegar tarde em casa, embora o marido estivesse trabalhando.
Ele, porque afinal não se leva tanto tempo assim preparando um veleiro para sair no dia seguinte.
Tem muitas coisas que desagradam. Uma delas é esta situação, que para eles, um dia teria fim. Viveriam juntos. Conversariam sem olhar o relógio, bebendo um vinho, trocando carícias, vivendo o sexo.
Sonhos. Sonhos e amor. Impossível viver sem eles.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Girassóis
Marinha/ Castagneto
O antigo bairro de Gragoatá, na Vila Real da Praia Grande, guarda segredos antigos e histórias misteriosas.
É conhecida a história de que Dom João, no Brasil ainda colônia, foi um dos primeiros cidadãos a ter no prosaico bairro uma casa. Sofria, segundo consta, de moléstias da pele, provenientes da falta de banho. Seu médico particular, naquela época um verdadeiro faz-tudo, recomendou que o paciente tomasse frequentes banhos de mar. Esperto, este cura. Através de um conselho honesto e eficaz, conseguiu com que o pai de Pedro I ficasse salvo da sua moléstia.
Ainda segundo o que se conta, a primeira casa ali construída era dele. Dom João teria sido o primeiro morador do bairro antigo e simpático, até hoje.
Dizem que ficou curado da moléstia; afinal banhos de mar de água limpa, Sol e alimentação saudável, nunca fizeram mal a ninguém.
O antigo bairro, todo calçado de pedras e mostrando construções antigas, guarda seus segredos. As casas impressionam. Muitas são seculares. O bairro encanta.
Local onde está situada a Universidade, seus frequentadores são simpáticos, tanto professores como alunos. Gente assim dá vida a qualquer local. Surgem restaurantes cuidados, com boa comida e preços bem razoáveis, embora exista o restaurante do campus.
Foi neste antigo lugar que aconteceu um fato estranho. Numa velha casa, muito bem conservada e com um canteiro grande de girassóis, um professor de Física, conhecido e respeitado pelos alunos, passou por experiência inusitada.
Muitos alunos moram nas repúblicas do lugar. Estudam e estão bem próximos às salas de aula. Reúnem-se sempre, em algum bar que acomoda violões, flautas e cantadores. Não existe reclamação de algum vizinho. Não havendo abusos e a cantoria sendo sempre agradável, não há incômodos. Quando está calor, a velha praça serve de ponto mais acolhedor. Casais se beijam, carícias são trocadas, enquanto os seresteiros expurgam suas mágoas.
Todos ali conheciam o velho barbado que não largava o seu charuto. Era uma figura constante nestas reuniões de congraçamento. Sempre sozinho e sorridente, foi abordado um dia por um aluno mais curioso e amante da pintura.
Conversaram bom tempo. O homem era visto de quando em vez, na casa do jardim de girassóis, flores que de imediato fazem pensar em Van Gogh.
- Gosta dos nossos encontros, amigo?
- Muito. Vocês deram vida nova a um lugar que estava moribundo.
- E você, o que faz?
- Pinto paisagens.
- Vende bem?
- Dá para não passar fome. - O rapaz, quieto e sem fazer comentários, cumprimentou o homem e foi-se embora. Reconheceu o pintor Castagneto, famoso marinhista falecido em 1900. Pintou toda a orla do antigo bairro. Não era o habitante da casa dos girassóis, talvez plantados em homenagem a Vincent. Muito menos, professor universitário.
O mundo tem histórias assim. Não acredita?
Um dia você vai acreditar...
O antigo bairro de Gragoatá, na Vila Real da Praia Grande, guarda segredos antigos e histórias misteriosas.
É conhecida a história de que Dom João, no Brasil ainda colônia, foi um dos primeiros cidadãos a ter no prosaico bairro uma casa. Sofria, segundo consta, de moléstias da pele, provenientes da falta de banho. Seu médico particular, naquela época um verdadeiro faz-tudo, recomendou que o paciente tomasse frequentes banhos de mar. Esperto, este cura. Através de um conselho honesto e eficaz, conseguiu com que o pai de Pedro I ficasse salvo da sua moléstia.
Ainda segundo o que se conta, a primeira casa ali construída era dele. Dom João teria sido o primeiro morador do bairro antigo e simpático, até hoje.
Dizem que ficou curado da moléstia; afinal banhos de mar de água limpa, Sol e alimentação saudável, nunca fizeram mal a ninguém.
O antigo bairro, todo calçado de pedras e mostrando construções antigas, guarda seus segredos. As casas impressionam. Muitas são seculares. O bairro encanta.
Local onde está situada a Universidade, seus frequentadores são simpáticos, tanto professores como alunos. Gente assim dá vida a qualquer local. Surgem restaurantes cuidados, com boa comida e preços bem razoáveis, embora exista o restaurante do campus.
Foi neste antigo lugar que aconteceu um fato estranho. Numa velha casa, muito bem conservada e com um canteiro grande de girassóis, um professor de Física, conhecido e respeitado pelos alunos, passou por experiência inusitada.
Muitos alunos moram nas repúblicas do lugar. Estudam e estão bem próximos às salas de aula. Reúnem-se sempre, em algum bar que acomoda violões, flautas e cantadores. Não existe reclamação de algum vizinho. Não havendo abusos e a cantoria sendo sempre agradável, não há incômodos. Quando está calor, a velha praça serve de ponto mais acolhedor. Casais se beijam, carícias são trocadas, enquanto os seresteiros expurgam suas mágoas.
Todos ali conheciam o velho barbado que não largava o seu charuto. Era uma figura constante nestas reuniões de congraçamento. Sempre sozinho e sorridente, foi abordado um dia por um aluno mais curioso e amante da pintura.
Conversaram bom tempo. O homem era visto de quando em vez, na casa do jardim de girassóis, flores que de imediato fazem pensar em Van Gogh.
- Gosta dos nossos encontros, amigo?
- Muito. Vocês deram vida nova a um lugar que estava moribundo.
- E você, o que faz?
- Pinto paisagens.
- Vende bem?
- Dá para não passar fome. - O rapaz, quieto e sem fazer comentários, cumprimentou o homem e foi-se embora. Reconheceu o pintor Castagneto, famoso marinhista falecido em 1900. Pintou toda a orla do antigo bairro. Não era o habitante da casa dos girassóis, talvez plantados em homenagem a Vincent. Muito menos, professor universitário.
O mundo tem histórias assim. Não acredita?
Um dia você vai acreditar...
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Diante a Morte
Capuchinho
Os pensamentos que aquele homem experimentou, diante da morte que se aproximava por sua decisão, eram terrivelmente tumultuados.
Aborrecido com a vida em si, já não ligava mais para o mundo que o cercava. Não tinha doença terminal; a família sempre foi companheira. Muito amiga e solidária com o já velho homem que gostava de ler no parque próximo.
O primeiro local que pensou para por termo à vida foi ali. Desistiu tão logo viu as crianças brincando. Um tiro faz muito barulho. Alguma criança iria ver, seria um choque.
Fechou o livro que fingia ler, enquanto preparava mentalmente a famosa carta do suicida, quando este a faz. Ninguém era culpado, de nenhuma forma não havia pessoa ou pessoas que o levassem ao gesto extremo. Doaria todos os seus órgãos que sobrassem do estrago do tiro. Resolveu que hoje seria o seu dia, que encerraria a passagem pela terra já completamente sem graça.
Caminhou lentamente, os pensamentos mais negros cada vez tomando conta da sua mente. Sim, a arma era boa. Não iria falhar no momento exato. Dizem que feito o disparo, ainda que no coração, estraçalhando os ventrículos principalmente, a morte não é imediata. Ele sabia disso. Tinha um medo. Medo terrível de ainda ficar consciente depois do disparo, e arrependimento de tal gesto. E se ele quisesse viver? De nada mais adiantava, a morte era certa. Este fato deve piorar muito a angústia de quem vai matar-se.
Chegando a casa, tomou um banho ligeiro. Não queria ser lavado por outrem, sem saber que isso aconteceria na autópsia. Examinou a pistola e ficou olhando a máquina de aço, negra, feia, atemorizante.
A carta, pensou. Não a redigira. Só de bermudas, começou a despedida. Interessante, a mão não tremia.
Súbito, um barulho infernal na rua. Choque de carros, gritos, desespero. Olhou o que se passava da janela. Quando viu os ferros retorcidos, lembrou-se do que estava para fazer. Abriu a porta correndo, os dois automóveis estavam amassados e o cheiro de gasolina era forte. Olhou o chão. Gasolina por toda parte, e uma criança presa nas ferragens gritava. Ele gritou mais alto, pedindo aos porteiros dos prédios próximos que usassem as mangueiras de lavar calçadas, proibidas mas ainda usadas, e dessem um banho longo nos automóveis e na rua. O perigo de incêndio era grande. Imediatamente a água jorrou pelos dois automóveis.
O menino que berrava, conforme ele pode constatar, aparentemente estava só com um corte na testa. Sem muito esforço, ele o retirou e levou para a calçada. Parecia simples, só o sangue assustava. Cortes na testa costumam sangrar muito. Rua cheia, ninguém morto e médicos que moravam nas proximidades já examinavam os outros feridos, aguardando a ambulância dos Bombeiros. Uma senhora, de acordo com um médico, estava com a costela quebrada.
O barulho não tinha sido tão grande assim, e os ferros retorcidos só foram visto pelo escritor da última carta, que logo voltou a casa, queimou-a e guardou a arma.
Ele hoje é monge capuchinho. Segundo me disse seu superior, já convenceu muitos e muitos que estão desesperados, assim como um dia ele esteve, a procurarem ajuda, além da que ele mesmo fornece com eficácia e ardor.
Anda feliz, barbado, com suas mãos fortes e santificadas.
Os pensamentos que aquele homem experimentou, diante da morte que se aproximava por sua decisão, eram terrivelmente tumultuados.
Aborrecido com a vida em si, já não ligava mais para o mundo que o cercava. Não tinha doença terminal; a família sempre foi companheira. Muito amiga e solidária com o já velho homem que gostava de ler no parque próximo.
O primeiro local que pensou para por termo à vida foi ali. Desistiu tão logo viu as crianças brincando. Um tiro faz muito barulho. Alguma criança iria ver, seria um choque.
Fechou o livro que fingia ler, enquanto preparava mentalmente a famosa carta do suicida, quando este a faz. Ninguém era culpado, de nenhuma forma não havia pessoa ou pessoas que o levassem ao gesto extremo. Doaria todos os seus órgãos que sobrassem do estrago do tiro. Resolveu que hoje seria o seu dia, que encerraria a passagem pela terra já completamente sem graça.
Caminhou lentamente, os pensamentos mais negros cada vez tomando conta da sua mente. Sim, a arma era boa. Não iria falhar no momento exato. Dizem que feito o disparo, ainda que no coração, estraçalhando os ventrículos principalmente, a morte não é imediata. Ele sabia disso. Tinha um medo. Medo terrível de ainda ficar consciente depois do disparo, e arrependimento de tal gesto. E se ele quisesse viver? De nada mais adiantava, a morte era certa. Este fato deve piorar muito a angústia de quem vai matar-se.
Chegando a casa, tomou um banho ligeiro. Não queria ser lavado por outrem, sem saber que isso aconteceria na autópsia. Examinou a pistola e ficou olhando a máquina de aço, negra, feia, atemorizante.
A carta, pensou. Não a redigira. Só de bermudas, começou a despedida. Interessante, a mão não tremia.
Súbito, um barulho infernal na rua. Choque de carros, gritos, desespero. Olhou o que se passava da janela. Quando viu os ferros retorcidos, lembrou-se do que estava para fazer. Abriu a porta correndo, os dois automóveis estavam amassados e o cheiro de gasolina era forte. Olhou o chão. Gasolina por toda parte, e uma criança presa nas ferragens gritava. Ele gritou mais alto, pedindo aos porteiros dos prédios próximos que usassem as mangueiras de lavar calçadas, proibidas mas ainda usadas, e dessem um banho longo nos automóveis e na rua. O perigo de incêndio era grande. Imediatamente a água jorrou pelos dois automóveis.
O menino que berrava, conforme ele pode constatar, aparentemente estava só com um corte na testa. Sem muito esforço, ele o retirou e levou para a calçada. Parecia simples, só o sangue assustava. Cortes na testa costumam sangrar muito. Rua cheia, ninguém morto e médicos que moravam nas proximidades já examinavam os outros feridos, aguardando a ambulância dos Bombeiros. Uma senhora, de acordo com um médico, estava com a costela quebrada.
O barulho não tinha sido tão grande assim, e os ferros retorcidos só foram visto pelo escritor da última carta, que logo voltou a casa, queimou-a e guardou a arma.
Ele hoje é monge capuchinho. Segundo me disse seu superior, já convenceu muitos e muitos que estão desesperados, assim como um dia ele esteve, a procurarem ajuda, além da que ele mesmo fornece com eficácia e ardor.
Anda feliz, barbado, com suas mãos fortes e santificadas.
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