Solidão
Dia
quente, sem exagero. Uma brisa
amenizava.
—
Mas que cara é essa?
—
A minha.
—
A sua nada. Pensando em quê?
—
Em nada. Ora, estou sim. Velho, sem a força que tinha antes, potente
por causa das farmácias... Prossigo?
—
Para dizer bobagem já está de bom tamanho.
Pode parar. Acaso eu estou melhor
do que você?
—
Sei lá! Quem sabe disso não sou eu.
Dois
velhos amigos de infância, conversando o que só eles mesmos poderiam. Aparecem muitas recordações, namoradas, moças
bonitas da época, aventuras, confusões, festas e o colégio. Este sempre foi o pomo da discórdia. Odiado
por muitos, amado por poucos e necessário para todos, não havia mágica. Ou se
aprende, ou morre estúpido que não teve vida condigna. É assim, não se foge a
esta regra.
—
Pois eu lhe digo. Passou dos sessenta e
cinco, é melhor morrer.
—
Sessenta e cinco? Tem muita gente bem
mais velha vivendo feliz, feliz!
—
Até quando tomar o primeiro susto!
—
Homem, você está macabro! Susto? Que susto?
—
Aquele em saber que a sua primeira namoradinha, linda, tão doce, apaixonada,
morreu.
—
Hein?
—
Morreu, rapaz, morreu. Pensa que somos
eternos?
O
velho e muito conservado alpendre, onde estavam sentados em cadeiras
confortáveis, mesa longa e simples cheirando a cera, um velho e
conhecido blended, foram as únicas testemunhas.