A
mangueira morreu
Pois é! A enorme
e bela mangueira, que era uma referência da minha casa, morreu.
Existe uma praga de cupim, que ataca árvores frutíferas,
com mais frequência. Pegou a mangueira
que eu e meu pai plantamos. Na época,
aos sete anos de idade, ou pouco menos.
Mas guardo recordação disso até hoje.
Ela cresceu muito, seu tronco só dois homens o
abraçavam. A fruta? Deliciosa e quando chegava novembro, já
apareciam as primeiras, deliciosas, enormes, sem fiapos, doces que só
elas! Uma dádiva! A molecada da rua botava-nos, eu e minha
mulher, doidos: “moça! Moooçaaaaaaa! Me dá uma manga?” Então fui obrigado a instituir uma
regra. Manga só de manhã, durante a
tarde nem pensar. Lei respeitada por
todos, comentavam uns com os outros a
decisão de seu Jorge.
O que eu não sabia é que seu Jorge havia ficado
famoso. “Muito boa praça, mas meio doido
só deixa pagar manga de manhã. E avisa
que pode ‘pelar’ a mangueira”, é o que
diziam. Realmente, era assim.
Desconfiava que muitos estavam matando a fome com as
mangas enormes. Sim, caso você comesse
uma inteira, não almoçava, várias vezes experimentei isso, no calor de
verão. Fosse comida uma manga tirada do pé, doce como era, não autorizava depois
um prato de feijão. Só mais tarde, bem
mais tarde.
Certa noite fui até a padaria próxima, comprar cigarros,
havia esquecido dos dois maços tradicionais.
No meio do quarteirão, vejo uma figura forte, e se dirigindo para
mim. “Ferrei-me”, pensei.
— Seu
Jorge!
— Sim,
eu!
—
Está de cabelos brancos!
—
Ninguém é jovem a vida inteira, meu caro. Mas diga. Donde me conhece?
—
Não se lembra do Nico, que o senhor chamava de mico, quando subia na mangueira
da sua casa?
Em
pouco tempo lembrei-me do fraquinho e bem moreno guri, que vinha com um saco,
subia nos pontos mais altos da mangueira, depenava tudo e me deixava nervoso,
tão alto ele subia, em galhos finos.
—
Lembro sim! Não me diga que é você,
cara!
— O
próprio. Por sua causa não tive fome
muitas vezes.
—
Como assim?
— Eu
comia uma manga, vendia as outras e quase todo o verão era a mesma coisa. Não
lhe dou um grande abraço porque estou muito doente. Obrigado, seu Jorge. E foi-se embora rápido.
Nunca
mais o vi.
Sabem? Deu-me mais saudade da minha mangueira. Soube agora que ela tem 'filha' e 'neta', em sítio de um primo. E mais outras, perto da minha casa. A morte não existe!
Imagem: rosa. Eu plantei. De galho, na poda.