terça-feira, 25 de junho de 2013

Movimento Liberdade

         

         Não entendemos a causa de o atual movimento ser chamado de “passe livre”, ou qualquer outra ligação que o prenda ao aumento de tarifas nos ônibus de São Paulo.
         É querer debochar do povo, pensar que somos idiotas, ou uma tática para mascarar seus principais objetivos.  Acredito mais na segunda hipótese.
         É verdade que nunca se primou pelo comportamento ideal no binômio poder público e dinheiro.  A História do Brasil não tem este registro, desde as Capitanias Hereditárias.  Houve uma pausa no Império, não havia o ataque aos cofres públicos, nem era necessário.  O que o Imperador quisesse era feito.  Num sistema destes não é necessário o chamado alcance, ou seja, o ataque ao dinheiro público.  Convém esclarecer que os dois imperadores, especialmente Pedro II, foram homens honestos e bastante patriotas.
         Passado este período, a sucessão de dirigentes honestos não é grande.  Instituiu-se no país uma espécie de vandalismo com o erário.  O desplante absoluto tomou conta da nação com a subida ao poder de Luiz Inácio.  Os mais estranhos acordos foram feitos, envolvendo política de baixo calibre e dinheiro, e o mensalão é exemplo disso.  Só um cego não é capaz de ver Lula comandando o tal esquema de corrupção política.  Foi o único a escapar do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, já que não foi denunciado pelo Procurador-Geral da República, Antonio Fernando.  Quase todos os outros, quando submetidos ao mais longo julgamento da história do Supremo, foram condenados e estão prestes a cumprirem suas penas.
         Mas o cinismo dos governantes é muito grande.  Através de uma série de procedimentos, o dinheiro público vem sendo maltratado, desta vez não com propósitos políticos, mas bastante escusos.  A bomba explodiu mesmo com os faturamentos das construções dos estádios edificados ou remodelados para servir à Copa das Confederações e futura mundial, que se aproxima.
         Obras orçadas em determinada quantia, passaram a custar pelo menos o dobro, após suas conclusões.  Ora, ninguém ilude o povo por muito tempo, este refrão é velho e sabidamente correto.
         Enquanto isso, o cidadão sai de casa para trabalhar correndo o risco de ser assaltado pelos marginais comuns que infestam as grandes cidades.  Se não possuir um bom plano de saúde, sempre caro e por isso não utilizado pelo povo, caso precise de atendimento médico vai enfrentar uma interminável fila em hospital sujo, superlotado e sem equipamentos.  Vai ser atendido no corredor, isto no caso de ser atendido.  Os médicos são poucos, não por culpa deles, mas da precariedade do serviço mesmo.  Com os outros profissionais da saúde que integram o quadro dos hospitais, mesma coisa.  Todos ganhando muitíssimo mal, convém sempre lembrar.
         Enquanto isso, o dinheiro que poderia estar aplicado neste segmento público e na educação, ridícula nos dias atuais, quando a nação ocupa os piores lugares do mundo, envergonhando o brasileiro, este dinheiro está não se sabe onde, ou melhor, sabe-se sim.  Está com as empreiteiras que construíram os tais estádios.  Só com eles?  Claro que não, qualquer pessoa é capaz de deduzir isso.
         Diante desta balbúrdia, veio crescendo no meio da sociedade esclarecida um sentimento de repúdio muito grande, há alguns anos.  O processo não nasceu da noite para o dia, muito menos, como se disse no começo, por causa de vinte centavos no aumento das passagens de ônibus.  O povo brasileiro disse basta, saiu às ruas em manifestações nunca vistas na história brasileira e sem o uso de qualquer tipo de arma, acabou fazendo uma revolução sem sangue.  É o vencedor da luta e os governos, especialmente o federal, não têm mais legitimidade para dizer ou mandar coisa alguma.  Obedeçam ou podem sair muito mal desta.  Uma reação mais ríspida certamente vai ser respondida na mesma moeda, e qualquer pessoa pode prever o resultado.
         Estão faltando líderes políticos da confiança dos jovens, para assumir e dar as diretrizes finais do que foi conquistado.
         Talvez agora seja bem mais lembrado o artigo primeiro da Constituição de 1946:  “Todo o poder emana do povo, e em seu nome será exercido.” 
         Dedicado aos meus amigos e colegas do Vote Brasil, o mais famoso e melhor site político brasileiro, ganhador do Prêmio Ibest dos anos 2005 e 2006, maior premio da internet brasileira, hoje fechado por razões de doença do diretor André Barretto.     

segunda-feira, 17 de junho de 2013

A atual realidade brasileira

    
         O povo brasileiro vem amargando aos poucos, mas com ataques constantes, sua tranquilidade e o direito de ser livre.
         A inflação, afastada depois de longos anos como sendo uma constante nacional, volta a colocar as garras de fora.  Amontoam-se golpes contra o tesouro estadual e federal, com o superfaturamento de obras caríssimas, onde a simples reforma de um estádio de futebol chega a 1,5 bilhão de reais.
         O governo federal acaba de colocar em funcionamento um computador capaz de monitorar todas as contas da população, e fazer  depois um cruzamento com o imposto de renda.  Até aí, tudo certo, é preciso cuidado mesmo.  Mas o dinheiro arrecadado com impostos é engolido nas falcatruas, especialmente de obras públicas.  O saneamento básico não existe, a saúde é caso de polícia, na educação aluno ameaça o professor e os bandidos estão cada vez mais poderosos.
         Ora, ninguém suporta isso por muito tempo.  O atual enfrentamento com os poderes que não cumprem seu dever mostra a insatisfação geral de todo um povo que vem suportando calado a tirania disfarçada dos governos e seus representantes.  Passeatas sucessivas vêm ocorrendo em todo território nacional.  Todas pacíficas e compostas, na maioria, por jovens. São reprimidas com excesso de violência pela polícia militar, como nos tempos da ditadura.  Interessante que os atuais dirigentes do executivo estadual e federal foram eleitos, mas agem como se fossem ditadores, sem distinção de partidos políticos.  Agem assim a esquerda, o centro e a direita, e o povo que se dane!
         Ora, tudo tem o seu limite de tolerância.  O povo está dizendo um sonoro não ao furto da coisa pública, a desordem que atinge os serviços essenciais, ao desrespeito aos seus direitos fundamentais.
         O resultado?  Não se vê em nenhum rosto de dirigente brasileiro expressão tranquila.  Estão todos apavorados.
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Publicado no Pravda: http://port.pravda.ru/news/cplp/17-06-2013/34782-realidade_basileira-0/

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Acontece



                                        
         O sol acariciava as peles dos que o apanhavam.  Mesa num jardim florido, o hibisco dominando com sua flor amarela.  Na mesa, uma garrafa de uísque, um maço de cigarros que trazia um anacronismo com o tempo atual.  Café, amendoim e castanha de caju.

         Ambos vestidos confortavelmente.  Jeans, camisas de algodão, sapatos mocassim.  Ele bem mais velho, talvez vinte e cinco anos, aspecto saudável.  Ela, esbelta e bonita.  Não bebia, nem fumava, como o companheiro na manhã de domingo.  Beber uísque e fumar, dava-se ao  hábito nos fins de semana, depois das onze horas.

         — Pois eu garanto que este cara é um safado.

         — Engano seu.

         — Engano meu como, se o moleque está se aproveitando da sua idade e inexperiência?

         — Não sou tão nova assim.  Nem inexperiente.

         — Ah!  Além de tudo, está agindo como cega!

         — E você, começando a me ofender.

         — Será que sempre é a mesma e eterna história?  Garota, mete isso na cabeça.  Mais velho, bem mais velho, casado, não vai abandonar a mulher nunca, fica nesta história manjada que não sabe viver sem você, iludindo, e a tola acredita.

         — Para de me ofender.

         — Mas não é ofensa!  Veja bem, a situação dele é muito cômoda, certo?  Cômoda e boa, afinal poderia ser seu pai, usa você como descartável, e se não é assim é pela facilidade, você gosta dele e nada tem em troca.  Amor é troca, sabia?

         — Amor virou produto?  É objeto encontrado em supermercados?

         — Não desconversa.  Sabe bem do que estou falando.  Troca sim, sempre foi, é reciprocidade, lealdade, camaradagem.

         — E?

         — E vocês não vivem isso.  Claro que ouve elogios, promessas.  E o tal não vai abandonar a moleza.  Olha bem para o seu corpo, seu jeito, seus modos.  Quem não quer?

         — Não me interessa quem quer ou deixa de querer.  Já disse, gosto dele.  É importante para mim.

         — Para você, para a mulher e para a família.  Procura você quando quer.  Se olha com jeito de tarado seu corpo nu, qual a vantagem disso?  Muito mais moça, educada, dona da sua vida.  Quem este cara está pensando que ele é?

         — Não está pensando.  Ele é importante.  E eu gosto dele.  Pode ser mesmo um safado como você está dizendo, mas não sei viver sem ele.

         É sempre assim.  Quantas vezes esta história se repete?  Mesma coisa, menores detalhes, não varia nada desde os antigos romances escritos que temos notícia.  Às vezes, o resultado não é nada agradável, pode acabar em sangue.  Mas nem por isso vai deixar de existir.   
 
imagem: índias do Xingu


quarta-feira, 5 de junho de 2013

Una furtiva lacrima

Uma das árias mais conhecidas do canto lírico, “Una furtiva lacrima”, trecho da ópera “L’Elisir d’Amore”, de Donizetti, é interpretada magistralmente por Luciano Pavarotti.
 Compositor e cantor são expoentes máximos da música universal, Domenico Gaetano Maria Donizetti nasceu e morreu em Bérgamo, Itália (1797-1848). Filho de camponeses pobres, sem nenhuma tradição musical, Donizetti firmou-se como um dos grandes mestres da música de ópera. O “Elixir do Amor” é peça que fala da paixão entre os camponeses Nemorino e Adina, tumultuada no início, mas com a entrega espontânea da aldeã ao seu apaixonado, que a havia feito beber uma poção mágica de amor, mas era na verdade apenas vinho, daí o nome da obra.
Luciano Pavarotti dispensa apresentações. Nasceu e faleceu na mesma cidade italiana, Modena (1935-2007). Desde cedo começou a praticar o canto, quando notou que não realizaria seu sonho de ser goleiro de futebol. É um dos grandes intérpretes de Verdi, Donizetti e Puccini. Seu maior ídolo era o também tenor italiano Giuseppe Di Stefano, embora Mario Lanza tenha sido também um dos modelos do cantor. Talvez o mundo não tenha conhecido jamais voz tão cheia, poderosa e afinadíssima como a do simpático tenor.