terça-feira, 5 de novembro de 2019

Panorama


                                              Panorama

            Construíra a casa num terreno pouco íngreme, subida leve, terreno e gramado perfeito. Na serra de Friburgo.
            Já havia tomado o café da manhã fazia algum tempo.  Clima ameno, talvez um pouco frio.  A casa possuía uma varanda que alcançava da frente ao lado direito, até o fundo.  As cadeiras, não muitas e as duas mesas faziam o complemento da área deveras aprazível.
            Dez horas, já poderia tomar sem ressentimento interior seu uísque.  Era o que fazia, puro, copo de vidro grosso, gostoso de pegar, e o líquido que continha descia bem, esquentava o corpo e a alma.  Entendeu que estava tudo muito bem; nada a reclamar.  Quem levanta com o Sol tudo pode!
            Sabe, ficar achando que nada está certo, nem mesmo a própria Vida, não ajuda nem resolve coisíssima nenhuma.  Piorar, piora. Ah, piora muito!  Estas atitudes passivas diante do maior são terríveis, acovardam, trazem medo, angústia e ansiedade.  Naturalmente que os fatos corriqueiros, alguns muito comuns, parecem gigantes ameaçadores, como aquela porta que ficou difícil de fechar.  Ora, se a fechadura está boa, o encaixe da porta com o seu lugar de trancamento está difícil, na maioria das vezes uma lixa termina com o problema.  Mas nem todos pensamos assim, a coisa se torna complicada, David já não sabe mais combater Golias — como se fosse isso.  É nada!
            O panorama!  O homem estava se esquecendo dele.  Pronome mal colocado?  Dane-se o pronome, interessam as árvores, o azul diáfano do céu, a tranquilidade do lugar.  É, isso ainda existe sim, parece sonho ou ilusão, mas a beleza não morre, as cores não mudam, salvo quando trocam as estações, que nos diga a música “The autmumn leaves”, no original francês "Les feuilles morts", de Joseph Kosma.
            Este Jack Daniel’s não é grande coisa não. Ruim não é, mas tem coisa melhor, com um bom café fumegante.  A varanda, a confortável cadeira, a bela e comprida mesa, o ar que se respira, e a omelete de presunto, seguida de um caprichado feijão com pouco toucinho e paio que seriam servidos no almoço, arroz, naturalmente, e uma couve em tiras fritada, provaram a aquele homem que a Vida ainda é bem suportável.
            Quase esqueço.  O tal que gosta de um uísque e está refugando um Jack, e acabou de tomar um café muito gostoso, está escrevendo uma crônica da Vida, coisas que acontecem.
            Só.  Mais nada.