segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Casarão

                                   
      Depois de dois anos, retorno a publicar um romance, este curto, num total aproximado de noventa páginas.
      Agrada-me a modalidade dos “shorts”.  Não se tem tempo para ficar divagando ou escrevendo demais; é necessária concisão rigorosa, poder de síntese.  O pecado de muitos romances que ficaram pelo meio do caminho talvez tenha sido este.  Longos demais.
      “Casarão” é obra cuidadosa, esta sim com objetivos para reflexão e crítica do autor sobre o comportamento humano passado e atual.  Por abordar o dualismo, em várias facetas, obriga ao leitor uma participação ativa, participação própria, não induzida ou insinuada.  Ou se toma uma posição diante do que está lendo, seja ela qual for, pró ou contra a narrativa, ou não terei alcançado meu objetivo.
      Que ninguém pense se tratar de obra para “intelectuais”.  Não é.  Dirige-se ao homem comum, que muitas vezes passa muito tempo da sua vida sem interrogações necessárias.  Igualmente, não é um existencialismo ‘sartriano’, ou de qualquer outra corrente de pensamento.  Mesmo um adolescente pode compreendê-lo com facilidade.
      E para um autor, já falei muito.
 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Ensino no Brasil


             A medicina brasileira, até os anos 70, era respeitada mundialmente como boa.  Construímos Brasília, hoje considerada como Patrimônio da Humanidade.

            Temos a maior hidroelétrica do mundo, Itaipu.  Ora, um país capaz destas qualidades, forçosamente deve ter um ensino esmerado.  Teve um bom ensino.  Não tem mais.  Veio progressivamente caindo, a partir dos anos oitenta e teve queda acentuada nos últimos anos.

            O estudante brasileiro é hoje um dos piores do mundo, segundo dados internacionais, como a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).  É fraquíssimo no conhecimento da língua, e absolutamente imbecil na compreensão da ciência.  Ou seja, temos um futuro caótico pela frente.  As escolas, tanto na parte física, maltratada, sem conservação, suja e sem a parte intelectual, os professores qualificados, não são capazes de formar alunos capazes.  Tão vergonhosa é a coisa que muitos alunos possuidores do curso básico completo, o primário, mal sabem ler e escrever, uma humilhação das maiores.  Não era assim, até 1970, que parece ser a data do início da degradação do ensino brasileiro.

            A escola superior entrou igualmente em decadência.  Para ingressar na Ordem dos Advogados, os pretendentes são obrigados a passar em prova dada pela mesma, que tem a finalidade de resguardar os cidadãos quando precisarem de um advogado.  O ensino da medicina foi tão vulgarizado que o Conselho Federal já pensou em adotar o mesmo sistema da OAB, só permitindo a inscrição mediante aproveitamento em prova.

            O atual governo preza por destruir ainda mais o ensino, quando alunos ameaçam professores e pais processam os colégios, por entenderem que estão sendo rigorosos demais com a disciplina e as aulas ministradas.  O velho mestre, respeitado por todos antigamente e nos países do mundo, transformou-se em figura retrógrada e idiota, na visão dos pais e alunos.

            Grandes educadores brasileiros, como Cristóvão Buarque, um dos fundadores da Universidade de Brasília com o seu amigo e colega Darcy Ribeiro, tentaram reverter esta maléfica ordem, sem sucesso.  Ambos de formação socialista democrata deveriam ser aceitos nos governos do PT.  Darcy Ribeiro morreu, e o senador Cristóvão Buarque abandonou o Partido dos Trabalhadores, principalmente por causa do ensino.

            Segundo educadores competentes, esta é uma excelente forma de controlar o povo, mantendo-o ignorante e sem conhecer seus direitos.  Qualquer migalha que lhe for dada por políticos inescrupulosos é vista como dádiva dos céus, enquanto ele continua ignorante e explorado. 


Imagem:  Liceu "Nilo Peçanha", um dos melhores colégios dos anos 30 até 60.   

Publicado no Pravda de 04/12/2013.  http://port.pravda.ru/news/sociedade/04-12-2013/35767-ensino_brasil-0/

 

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Cumprimento do dever

         

            Já me declarei socialista em crônica anterior.  Liberal e extremamente democrata, com o parlamento livre e pluralidade de partidos.  Socialismo não é igualar os homens; é igualar os direitos deles.
            A introdução é necessária, pois sempre existe alguém para tentar distorcer os fatos.
            José Genoíno, condenado pelo Supremo Tribunal Federal e já cumprindo pena, foi agraciado com a Medalha do Pacificador, a mais alta condecoração das forças armadas brasileiras.  Na época, o agora condenado era assessor especial do Ministério da Defesa.  Desconheço as razões pelas quais a honraria lhe foi concedida.
            Logo após sua condenação, Genoíno pediu para ser exonerado do cargo que ocupava no Ministério da Defesa, mas a presidente Dilma, não se sabe por qual motivo, ainda não despachou o pedido.
            Surge então o problema.  A autoridade capaz de conceder a Medalha é o Comandante do Exército.  É ele também que a pode retirar, e somente ele.  O decreto 4.207, de 23 de abril de 2002, no seu art. 10, alínea “b”, manda ser excluído o agraciado que “tenha cometido atos contrários à dignidade e à honra militar, à moralidade da organização ou da sociedade civil, desde que apurados em sindicância ou inquérito.” O inciso II, "a", fulmina o assunto, quando fala em condenação transitada em julgado, por ato que ofenda a nação.  Cabe ao general Enzo Peri a cassação da Medalha do Pacificador concedida a José Genoíno.
            Entende-se o motivo pelo qual ele ainda não tomou a atitude.  O condenado estava usando de expedientes que envolviam sua saúde para conseguir prisão domiciliar.  Seria extremamente desagradável para o general Enzo tomar a medida.  Laudos médicos demonstraram que o alegado pelo condenado não tinha procedimento.

            Se o general Enzo vai ou não retirar a comenda antes do Natal, é coisa que ninguém sabe.  Mas ele está obrigado a tomar a providência, sob pena de falta ao cumprimento do dever. Vai desagradar muito a Dilma ver a medalha ser cassada. 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Farsantes

                  
 
            — É preciso cuidado.
            — Cuidado com o quê?
            — Estes caras estão vigiando tudo.
            — Qual!  Não tem gente para isso.
            Esta conversa, entre tipos bastante incomuns, estava sendo travada num conhecido e bem frequentado bar da região, onde o chope era conhecido como ponto alto.
            Clima ameno, temperatura agradável, não sendo necessário o uso de agasalhos.  O homem moreno de sol, cabelos brancos e camisa cinza, não parava de olhar os seus sapatos.  Havia comprado no dia anterior.  Bem feito, couro marrom claro, sola macia. 
            — Parece tudo tranquilo e calmo.
            — Mas cuidado não é demais.  São uns bisbilhoteiros de marca maior.
            — Mas é impossível escutar o que estamos conversando — arrematou o único que havia preferido uísque sem gelo ao chope que seus dois acompanhantes bebiam com cara de indisfarçável prazer.  O sol já havia desaparecido quase completamente, e as primeiras luzes dos postes, fotossensíveis, acendiam alternadamente.
            — Este preço pode chegar a quanto?
            — Talvez ao triplo combinado.  Muita chuva, a última causou estragos, o concreto ainda não havia curado totalmente.  Deu trabalho demais!
            — E eles aceitam o aumento?
            — Sempre aceitaram, porque seria a primeira recusa?
            O que bebia uísque pediu mais castanhas de caju.  Olhou para o alto, viu as luzes da favela, que teimam agora de chamar comunidade, serem acesas.  Numa mesa do bar modesto, onde o barulho do ventilador estava incomodando, uns tipos faziam o mesmo.  Estavam sentados, conversando sobre a distribuição do tóxico, enquanto acabavam com o estoque de cerveja.
            Não havia quase diferença entre eles.  Empreiteiros mancomunados em faturar bem mais nas obras contratadas, mediante o pagamento de gorda comissão, e homens de bermudas sentados em local mais alto e de construção ainda mais feia dos que estavam comemorando o final da sexta-feira, com a diferença de que lá encima não tinha nenhum homem admirando seu sapato novo, caro, confortável e muito bem feito...
 

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O socialismo atual

               
 
            É muito difícil explicar, em artigo curto, as bases do socialismo moderno, adequado para os dias de hoje.
            Politicamente ele está estruturado no governo de gabinete, presidido pelo Primeiro-Ministro e a equipe por ele e os congressistas escolhida.  A figura do presidente da República é totalmente afastada; é inexistente.  O Primeiro-Ministro após cada eleição parlamentar é o mais votado membro do partido que venceu as eleições.  Caso haja seu posterior impedimento, é sempre o que tiver maioria simples dos votos do parlamento.
            O parlamento é composto por deputados e senadores, os primeiros devendo obrigatoriamente ter exercido a função de vereador.  Os senadores serão sempre os que já foram deputados, com um mandato completo.  Extingue-se, desta forma, o amadorismo político.  O congresso será preenchido por brasileiros natos, exclusivamente.
            O sistema financeiro é livre.  Sobre ele incidirá imposto único, a ser definido em lei complementar, que garanta a existência de municípios e estados, além da União. 
            São responsabilidades públicas a segurança individual, as liberdades de crença ou religião e opinião, o exercício de profissões, o ensino, a saúde, o saneamento básico, moradia, transporte e o bem-estar de todos os cidadãos, devendo o estado estar preparado para o atendimento gratuito de todas as atividades mencionadas, exceto moradia e transporte, que serão incentivadas.  Faculta-se ao particular o ensino e a saúde, fiscalizadas e autorizadas pelo estado.
            Cabe ao poder público, cada qual na sua esfera, promover de maneira incontestável o desenvolvimento socioeconômico da nação.
            Todos os cidadãos são iguais perante a Lei e o poder exercido pelo povo, garantido o direito de plebiscito nas esferas municipais, estaduais e federal.  O plebiscito é intocável.  Será feito sempre que dez por cento dos eleitores assinarem em lista própria, com título eleitoral, vontade expressa contra ou a favor de qualquer ato emanado do poder público ou agente deste. Submetido à eleição, que poderá ser municipal, estadual ou federal, seu resultado será rigorosamente cumprido, obedecendo ao princípio do poder exercido pelo povo.  Não cabe qualquer tipo de recurso contra esta manifestação de vontade popular, salvo se for manifestamente contrária à lei penal ou civil.
            Caso o Primeiro-Ministro e o seu gabinete cometam ato inequívoco contra a lei ou aos cidadãos, serão imediatamente julgados pelo parlamento, que proclamará o afastamento atingida a votação em maioria simples.  A eleição dos sucessores será feita, no máximo, em sete dias úteis.  O plebiscito é inteiramente cabível também neste caso.
            Estes são os princípios fundamentais do socialismo contemporâneo.

Publicado no Pravda de 20/11/2013, link http://port.pravda.ru/news/science/21-11-2013/35671-socialismo-0/

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Luz


                                      

 

Aurora que desponta no horizonte
trazendo tanta luz qual fosse fonte
de amor, compreensão, cândida harmonia
removendo das gentes a agonia.

Vai para longe a treva da malvada
ira, que faz terrível enxurrada
e tanto leva abaixo, vai destruindo
sonhos, ilusões, tudo o mais bem-vindo.

Mas brilha o Sol, a Terra se ilumina
¾ brumas cinzentas que antes envolviam
somem e a escuridão por fim termina.

Cantam todos, é grande esta alegria
despertando do sono que dormiam...
  A velha e escura noite fez-se dia!
                        



Postagem número 300.


                                            


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Livro digital

        
            Com o aparecimento dos novos livros digitais, que podem ser lidos em aparelhos, todos se perguntam qual o futuro do livro físico.
            O livro digital veio para ficar em definitivo.  Quando usado no instrumento compatível, depois de certo tempo ele mostra mesmo aos mais admiradores do charmoso e elegante objeto de papel, gostoso de ser folheado, que em vários pontos supera o tradicional.  Os mais importantes são a grande quantidade de livros que pode ser armazenada num aparelho eletrônico, a falta de necessidade da limpeza dos mesmos, a durabilidade e o afastamento de ser destruído pelo cupim.
            Tratar de uma biblioteca é trabalho meticuloso.  Não basta o espanador ou aspirador de pó, é preciso estar atento aos ataques de umidade, claridade excessiva, fungos e estragos definitivos, como o já mencionado cupim e o traiçoeiro fogo.
            É claro que o livro físico não vai acabar nunca, mas ficará restrito às bibliotecas públicas, as de universidades, escolas e centros de ensino.  Os livros e principalmente documentos escritos a mão ainda circulam em bibliotecas e cartórios.  O manuscrito não acabou, nem vai acabar.  É tradição do homem, como os frutos da invenção de Gutenberg.
            Nenhuma grande editora atual dispensa o seu e-livro, ou e-book, a mesma coisa.  Livro eletrônico, digital.  Ele não esgota; qualquer autor famoso é encontrado neste formato, é muito barato e fácil de ser lido.  Os melhores aparelhos não têm tela luminosa, que acaba por incomodar a visão do leitor.  Cansou do romance?  Abra o de poesia, é imediato.
            O melhor mesmo é a escolha e compra.  Pelo computador a operação é rápida.  Basta pagar com o cartão bancário e aguardar a quase instantânea liberação. Após, baixar no aparelho a ser usado.  Verdadeira biblioteca, das grandes, num instrumento de pequena dimensão.  
            Coisas atuais, inteligentes e práticas.  As árvores agradecem.  Não é preciso falar muito: para uso e segurança, todas as bibliotecas importantes do mundo digitalizaram seus livros.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Passado

      

         Passado?  Nem tanto.  Velhos hábitos do povo ainda são cultivados por muita gente.
         Em muitos lugares ainda é possível encontrar um fogão e forno a lenha.  Uma panela de barro, impregnada de cheiros.  É ela que faz o feijão, cujo gosto não se compara com o da cozinha atual.  Madrugada e o feijão era catado, panela d’água no fogo, coador com pó de café esperando a hora de ser mexido com uma colher de pau.  Cigarro de palha, na maioria das vezes. 
         Eu mesmo já vivi isso, numa fazenda que em linha reta não está afastada mais do que cem quilômetros do Rio de Janeiro.  Aqui mesmo ainda havia muita conversa fiada nas cadeiras colocadas nas calçadas, onde não faltava o cigarro e o café.  Conversa animada, terminava pouco antes das dez da noite, dia seguinte o trabalho esperava.  Fim de semana era diferente.  Uma cachaça das boas passava e era servida nos martelos, copos de fundo muito grosso, daí o nome. 
Algum violeiro cantava uma moda, a fofoca política alvoroçava a conversa, a broa de fubá nunca faltava.  Não tinha hora para acabar, só a criançada é que dormia mais cedo.  Prefeito, padre e juiz eram alvos de ataques verbais, coisa de pouca monta, só para não perder o assunto.  “Dizem que padre Augusto anda ciscando pra cima de Glorinha”.  Que maldade, o padre era um santo.  O prefeito sempre acusado de não tomar medidas que afetavam a cidade, afinal a ponte não estava consertada desde a última enchente.  Não escapava nem o mau gosto da gravata do juiz.
Café fresco servido pelas comadres, uma disputa feroz, todas queriam fazer o melhor, não esquecendo de torrar mais um pouco o pó fresquinho, aroma feiticeiro.  E toca a fumar, palha não tinha não, nem filtro, moda que veio depois.  Até o médico fumava feito um condenado!

Vai fazer isto hoje?  Onde?  E o bandido hoje não usa mais o velho punhal, vem logo de arma longa.  Acabou, é tempo passado.   

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Duda

         

         Todos que escrevem sabem: inventamos muito.  Situações, fatos, pessoas.
         Inventamos?  Pode parecer que sim, mas é difícil alguma coisa vir do nada.  Melhor, não é difícil, é impossível.  Não só para escrever, mas para todos os ramos da arte.  A criação segue um processo, e nunca se pode imaginar o resultado.  Mas não parte do imaginário puro.  Nunca parte.
         Assim é que a mulher que Yuri conheceu e logo se apaixonou parecia ter surgido do nada, sem pai nem mãe, sem uma história anterior que convencesse.  Tudo parecia ilusório.  Mas não.  Ela estava — estava? — em todas as partes, no copo, no gosto do café acabado de fazer, no seu pensamento... Ora, tinha existência, portanto.
         Escrevia para ele, textos curtos, incisivos e muitas vezes contundentes.  “Você estragou nossas vidas”, quando se referia à união que não se realizou.  De nada adiantava querer negar; era o que ela pensava, dizia e estava convencida.  Negar como?  Aparecia como vinda do nada, linda, meiga, delicada e maravilhosamente entregue a um amor que Yuri nunca entendeu.  É de dar pena dele.  Foi burro, uma besta, em nome de sabe-se lá o quê.
         O que mais queria era unir-se em definitivo com o amado.  Acontece que este não acreditava que ela existisse, era sonho, ou talvez até mesmo delírio.  Estava passando por momentos de insanidade, criando fantasmas? Mas Duda apareceu, como por encanto de história de fadas.  Sentado num banco, olhando o mar, sentindo o horizonte, ouviu a voz.
         — Yuri?
         — Duda?
         Foi o mais ardente beijo, o mais gostoso abraço, os corações batiam forte, estavam colados, os olhos não se separavam um do outro, olhar que devassa a alma, fala, grita, berra e sente.  Duda era a mulher mais bonita que Yuri já havia posto os olhos, em qualquer hipótese.  A mais bonita, a mais doce, a mais encantadora, a mais mulher.
         Num repente, sumiu.

         Até hoje Yuri não sabe mais dela...

domingo, 13 de outubro de 2013

Sem líderes

         
         Há muito a política brasileira sofre de mal terrível: não tem líderes de expressão.
         Este mal fez com que assumissem o poder Sarney, Collor, Lula e Dilma.  Fernando Henrique é caso à parte, pois sob sua direção nasceu o Plano Real, executado com maestria pelos economistas matemáticos Pérsio Arida e André Lara Resende, entre outros.  Terminou com inflação que vinha desde a criação da República. 
         No entanto, políticos como Ulisses Guimarães e Leonel Brizola, para citar apenas dois exemplos, desapareceram por completo do cenário político brasileiro.  Morreram sem deixar sucessores.  Pode-se afirmar com tranquilidade que estamos sem líderes honestos e determinados, como os mencionados.  Este fato não só permite a entrada de incapazes, que são inúmeros, como nos deixa sem reservas.
         Os petistas apoderaram-se do mando e não pretendem abandonar o mesmo.  Não se entende o fato.  Sob o governo Lula foram cometidas as mais diversas falcatruas, políticas ou não.  Desonesto aos extremos, conseguiu escapar da lei, como tantos outros que temos conhecimento. Os menos precavidos confundem a sua esperteza com inteligência, predicados absolutamente distintos.  Atualmente estamos sob o governo Dilma, nem inteligente e muito menos esperta.  Guia-se pelo que manda a direção do partido, embora faça questão absoluta de negar tal fato.
         O atual governo também não é sério.  Prova é a construção de inúmeros estádios que servirão para campos de jogos de futebol, na Copa que se aproxima.  Orçados inicialmente por preço determinado, ao longo das construções tiveram seu preço dobrado ou triplicado.  A razão nunca se sabe, mas empreendimentos particulares não têm esta distorção, sob pena de perderem seu financiamento.
         O mundo encontra-se em situação indefinida.  Política, social e financeiramente.  Os atuais líderes internacionais, além de competentes, têm equipes capazes de entender a situação do momento, podendo dar-se como exemplo Obama, Putin e Angela Merkel.  Aqui, prima-se pelo amadorismo.
         A falta de pulso firme e conhecimento do mais além do horizonte político, que Ulisses, Brizola, e Darcy Ribeiro possuíam está sendo cada vez mais sentida, diante de tanta mediocridade, oportunismo e rapinagem que vemos nos dias atuais.

Publicado no Pravda de 14/10/2013.  Link: http://port.pravda.ru/news/mundo/15-10-2013/35420-sem_lideres-0/ 

domingo, 6 de outubro de 2013

Les Feuilles Mortes



Composta em 1945 pelo franco-húngaro Joseph Kosma, a canção "Les Feuilles Mortes" alcançou fama mundial, sendo gravada por grande número de músicos, na maioria jazzistas norte-americanos como Miles Davis, Coltrane, Bill Evans e outros. 
Adquiria novo nome, "Autumnn Leaves", aqui apresentado sob forma de dança por Slavick Kryklywy e Elena Khorova.
A apresentação é impecável, além de muito sensual.
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Aqui, uma versão jazzística da mesma música, apresentada pelo Bill Evans Trio.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O Julgamento do Supremo

Passado algum tempo, quando os ânimos já não se alteram tanto, podemos falar com mais serenidade sobre o que poderia ter sido o maior julgamento do Supremo Tribunal Federal.
O mensalão, como ficou conhecido o maior escândalo da História Republicana do Brasil, envolveu figuras de proa que cercavam o presidente da República e o Partido dos Trabalhadores. Foram muitos os condenados, inclusive o antigo ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. A pena que lhe foi imposta exige cumprimento em regime fechado de prisão. Outros mais tiveram condenação rigorosa, mas Dirceu participava do governo Lula, daí ser a figura mais importante. José Genoíno igualmente é membro de proa do PT, mas teve punição menor.
Os réus que foram absolvidos por quatro ministros, no julgamento onde o número de juízes é de onze, recorreram da sentença usando o instrumento processual do embargo infringente, de cabimento duvidoso por não ser mais adotado nem mesmo no Superior Tribunal de Justiça. Caberia ao Supremo Tribunal dar a última e definitiva palavra sobre o recurso que tanto prejudica o rápido andamento dos processos na justiça.
O julgamento terminou empatado por cinco votos contra o cabimento do recurso, sendo assim os pronunciamentos dos ministros Joaquim Barbosa, presidente da Corte, e seus pares Luiz Fux, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello. A favor dos embargos votaram os ministros Luís Roberto Barroso, Teori Zavascky, Rosa Weber, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowsky. Coube o desempate ao ministro mais antigo do Tribunal, Celso de Mello. 
Quase a maioria do povo brasileiro, que assistia ao julgamento com o mesmo interesse e entusiasmo que tem quando o país é finalista na Copa de Futebol, esperava que o voto do ministro Mello fosse pelo não cabimento dos embargos, colocando fim no processo e terminando com um recurso que só serve para prejudicar o bom andamento dos feitos que tramitam no STF. Num voto longo, que já iniciou afirmando não estar o Supremo submisso às pressões populares, o ministro Celso Mello, que poderia dar um belo colorido ao final do mais importante julgamento do Tribunal, repito, preferiu seguir o entendimento dos processualistas. Para quem não conhece, o Supremo pode votar contra a Lei, quando ela é injusta ou prejudicial ao curso rápido do processo. 
Os ministros do Supremo tudo podem, e cinco colegas — os mais experimentados — do decano já haviam derrubado o inútil dispositivo do Regimento Interno. Mas o ministro Celso Mello não pensou grande. Perdeu o lugar seguro na História do Supremo, e certamente na História do Brasil.


Publicado no Pravda de 3/10/2013  http://port.pravda.ru/news/russa/03-10-2013/35365-julgamento-0/                

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O Poder e a Dignidade

Já exercendo a presidência da República, o general Castelo Branco passou por momento decisivo na história do Supremo Tribunal Federal. Na época, os julgamentos de habeas corpus eram frequentes na mais alta Corte do país, sempre envolvendo casos políticos. O Supremo concedia a medida, o cidadão era solto, mas imediatamente depois preso e escondido. A questão mexia com os brios dos ministros, na época presididos pelo austero ministro Ribeiro da Costa, inflexível no cumprimento do dever. Indignado com o procedimento descrito, atravessou a pé a Praça dos Três Poderes e pediu para falar com Castelo Branco, que dirigia a nação. Contou os fatos e afirmou que ali estava para fazer a entrega das chaves do Tribunal ao presidente Castelo. Homem igualmente honrado, o general teria dito exatamente estas palavras ao ministro Ribeiro da Costa: “o Supremo está em boas mãos, ministro. Guarde as chaves.” Após este fato, durante o governo do presidente-general, não se soube mais de trapaças desafiando o STF. Fato digno de ser lembrado, na data. O ministro Joaquim Barbosa nada deve ao seu famoso antecessor. Felizmente!

sábado, 7 de setembro de 2013

Música latina

Numa apresentação rara, os cubanos Omara Portuondo, Ibrahim Ferrer e o notável pianista Roberto Fonseca, trazem-nos a tradicional canção Quizás, quizás, quizás, do também cubano Osvaldo Farrés, que a escreveu em 1947. Tornou-se sucesso mundial, sendo gravada por mitos como Sinatra e Nat King Cole, entre outros. Nesta versão, o trio deu uma nova 'roupagem' à música, de nítida influência jazística.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Médicos cubanos

      
            A pretexto de falta de médicos em lugares afastados dos grandes centros ou cidades importantes do país, a presidente da República, por medida provisória, resolveu 'importar' de Cuba para desempenharem as tarefas que muitos médicos brasileiros não querem.
            Nossos profissionais da saúde conhecem os problemas brasileiros.  Os postos de atendimento não têm, por vezes, materiais indispensáveis para se fazer um curativo.  Um bom diagnóstico fica difícil, por ausência de laboratório de exame clínico.  Aparelhos de RX que não funcionam, e os mais sofisticados nem pensar.  Ora, dentro de um quadro destes, não existe profissional que queira trabalhar.  Vai assistir a progressão da doença dos seus pacientes sem nada poder fazer, o fato mais desagradável para qualquer profissional.
            Estão já desembarcando no país os famosos médicos cubanos.  Enquanto alguns dizem maravilhas deles, outros, e muitos, falam do seu absoluto despreparo.  São bons com a medicina preventiva.  Passam ao largo da curativa, o que é previsível dada a intensa pobreza que vive Cuba e seu povo.  Não há como se instalar centros de ensino de medicina sem dinheiro.  O material é caro e os professores possuem altas condições de conhecimento, o que não existe, infelizmente, no país caribenho.
            A medida tomada pelo governo federal está sendo chamada de eleitoreira.  Até pode mesmo ser, mas sua finalidade atende ao intuito petista de instituir o bolivarianismo ainda que seja “na marra”.  Conseguiram os dirigentes foi se embaraçarem bastante, bem mais do que imaginam.
            Assessorado por equipe de constitucionalistas e penalistas capacitados e pertencentes a novas alas de pensamento, o Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais não vai permitir que os médicos cubanos atuem no estado.  A conclusão tem lógica matemática.  Para exercer profissão liberal, o cidadão não pode ser apenas bacharel.  Necessita estar inscrito no órgão de classe, que faz o seu registro e dá a permissão. 
            Ora, estes contratados do governo federal não têm inscrição no CRM-MG.  Portanto, se praticarem atos curativos, estarão cometendo o crime de exercício ilegal da medicina, previsto no art. 282 do Código Penal.
            A situação é muito mais grave para a presidente da República.  Autorizou, por medida provisória, que o crime descrito seja praticado no território nacional.  Como esta confusão vai acabar, ninguém sabe.  Este nunca foi o país da ordem, mas o povo nas ruas está mudando isso.
 
Imagem:  "A lição de anatomia", Rembrandt.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O Movimento das Ruas

           
 
            O país atravessa uma onda de protestos.  Todos pacíficos, salvo episódios que não fazem parte das aspirações do povo, tumultuando a ordem.
            Este desabafo popular vem de longe.  O cidadão mais esclarecido já estava saturado com seguidas e progressivas falcatruas e desmandos cometidos por autoridades.  Acabou explodindo.  Como a indignação é geral, rápido o movimento se tornou muito grande, terminando em passeatas que foram ganhando número cada vez maior, com a inclusão de muitos que pacificamente suportavam a tirania, a arrogância e o desprezo das autoridades obrigadas a zelar pela nação. 
            Parlamentares fazendo o que bem entendem com o dinheiro público, obras caras sendo executadas pelo dobro do preço normal, inflação mostrando as garras mais uma vez e o país com desenvolvimento bem abaixo do esperado.  Não ficamos só nisso.  A cada dia que passa, a educação, a saúde, a segurança, o saneamento básico e a ordem constituída vão-se deteriorando. As autoridades, além de não tomarem providências, colaboram para que estes fatos permaneçam como estão.  O desmando tomando conta do país, até que alguém deu o primeiro grito de revolta, logo seguido de muitos outros.
            E surgiram protestos que não eram comuns no meio do povo brasileiro, que tomou as ruas, fez exigências, foi menosprezado a princípio, mas temido com o desenvolvimento dos protestos da massa insatisfeita, que chegou mesmo a sitiar o Palácio Presidencial, sem um só lance de violência. A partir deste momento, passou a ser respeitado, e até mesmo visto como uma ameaça, depois que todos tomaram consciência de que não se queria a desordem, mas exatamente o seu inverso.
            As autoridades estavam obrigadas a dizer algo, tomar providência, dar satisfação àqueles a quem dirigem.  Fizeram isto, mas as medidas são falsas e ardilosamente preparadas, chegando à trapaça, como o divulgado índice de inflação de julho de 2013, muitíssimo menor do que o verdadeiro.  O dólar é o indicador e prova deste fato, quando atingiu valores nunca vistos no mercado.
            Está programada para 7 de Setembro manifestação popular de proporções gigantescas, que vão exigir a tomada de providências verdadeiras, e não as falsas medidas adotadas pelo governo.  Vai ser o mais duro golpe aplicado contra maus governantes e parlamentares que insistem em iludir o  brasileiro.
            Interessante notar que este movimento é fenômeno nacional, sem importações, talvez pela nossa tradição pacífica, o que não significa que se pode brincar com o povo.
            Toda e qualquer atitude de invasão de prédios, tomadas de atitude que não dizem respeito ao cidadão comum, como a ocupação das bancadas legislativas, depredações, furtos com violência, danos e outros crimes devem ser absolutamente repudiados.  Não somos bandidos; estamos contra eles.  Estas atitudes são provocadas pela contrainformação dos governos, seguidas pela atividade intensa de partidos políticos interessados em transformar o movimento ordeiro, duro e determinado que tomou nosso povo.
            Fatos isolados passam para segundo plano.  O objetivo principal é o estabelecimento da democracia plena, justa, com igualdade social, política e jurídica.
            Participe!  A Pátria agradece!


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Publicado no Pravda de 19/08/2013     http://port.pravda.ru/news/cplp/20-08-2013/35153-movimento_ruas-0/
               
             

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Chico, Chico!


                                             


    Convidado especial da Jornada Mundial da Juventude, o Papa Francisco desembarcou no Brasil em julho de 2013.
Sua chegada espantou os observadores. O carro que o conduzia, de janelas abertas, ficou engarrafado no trânsito do Rio de Janeiro, para horror da sua segurança. O então desconhecido Chefe da Igreja mostrou seu destemor, sua simpatia e inegável coragem. Não permitiu que fechassem os vidros, deixando que o povo o tocasse, e ele mesmo tomou a iniciativa de abençoar crianças, principalmente. Ponto para o Papa Francisco, que começava a ganhar a simpatia brasileira.
    Como seria mais do que normal, todo o tempo que ele aqui esteve, só fez aumentar a simpatia pessoal, o bom humor e a confiança no também chefe de Estado.
    Conhecido pelas armações que inventa para ganhar as manchetes da mídia, lembrando o caso Lula com as pesquisas atômicas sírias, quando apareceu como perfeito idiota, o que ele é realmente, pois enquanto afirmava que o acordo com o governo árabe tinha sido feito, os chefes sírios diziam que o fato estava assinado, mas que as pesquisas atômicas continuariam. As palhaçadas de Lula não terminaram por aí.
   Com a nação em pé de guerra, fazendo passeatas pacíficas mas politicamente ameaçadoras, sua lugar-tenente Dilma Roussef viu sua popularidade despencar desastrosamente e sabe que não é mais nada no país, mas não pode reconhecer tal fato. Se não sabe, é mesmo muito cega, despreparada e absoluta ignorante em política.
   Que fez Dilma, naturalmente orientada pelos idiotas assessores petistas? Convidou o Papa Francisco para visitar o país como chefe de Estado, o que ele também é, na verdade, já que o Vaticano é um estado independente. Ele recusou, alegando de imediato que veio à Jornada, e não oficialmente ao país. Foi o mesmo argumento dado quando recebeu o convite da pasma para aderir ao plano brasileiro de exterminar a fome na África. Esta foi ridícula e cômica!
    Como se os cardeais do mundo inteiro fossem idiotas, imbecis, talvez petistas, e não soubessem o que se passa no planeta.
   Convidar o Papa para resolver problemas do mundo... É muito cinismo e falta de educação, não há como negar. Os dividendos políticos não apareceram, como era o óbvio, mas o PT não quis enxergar. Dizia Nelson Rodrigues que estes são os “cretinos fundamentais”, ou seja, “todos aqueles que não enxergam o óbvio ululante.”
   Chico, Chico! O simpático Jesuíta Argentino, que conquistou a todos, deve estar achando graça até agora.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Despedida

 
 
         Deletei hoje, da minha lista de favoritos, o Vote Brasil e o espaço que tinha para postar minha coluna.
         Um ato que não gostei, mas o que está encerrado deve ser assim visto.  Acabou, não existe mais.  A próxima exclusão vai ser a que consta no blog.  É uma atitude desagradável, mas inevitável.
         Comecei no VB, convidado pelo diretor André Barreto, por causa dos antigos fóruns que existiam nos portais.  Um assunto era colocado e quem quisesse comentava.  Sempre havia uma questão política, e eu jamais deixei de dar minha opinião.  O fato se explica.  No início da sua vida, meu pai foi jornalista político.  Desta forma, pelo menos dois comentários por dia eu assinava, e assim fiquei conhecido neste ramo.  Na verdade, o convite não me surpreendeu.
         A princípio, escrevia sobre política fluminense, regional, já que nasci e até hoje moro em Niterói.  Fiquei ano e meio naquele setor, até que publiquei meu primeiro livro, A Regra do Jogo.  Fui promovido.  Passei a ser colunista do então mais famoso site político da internet brasileira, vencedor dois anos consecutivos, 2005 e 2006, do Prêmio Ibest, o maior  deles.  Dar como referência ser colunista do Vote Brasil sempre foi muito valioso.  Os colegas eram excelentes, o site muito bem cuidado e atual, além de conter informações valiosas para o leitor e eleitor brasileiro.
         Lá conheci o jornalista Caio Martins, um dos mais atuantes.  Em pouco tempo ficamos amigos, e embora nunca tenha ao menos dado um aperto de mão, Caio é hoje um dos meus bons amigos.  Tem expressões engraçadas, e as usa com frequência.  Costuma dizer que empurramos juntos muitas pedras ladeira acima, e o seu famoso “vamo que vamo”, típica expressão popular que ele usa e abusa.  Juntos, combatemos sem trégua os ‘petralhas’ que invadiam o site e postavam tolices em cima de asneiras.  Foram expulsos do Vote.  Se tivessem sido expulsos também do PT, o partido não teria entrado na decadência que se encontra.  Foram os ‘petralhas’, ou seja, os maus petistas, que acabaram com um partido que começou bastante promissor.  O mais interessante é que Lula, Dirceu e Genoíno, então fundadores do PT, rapidamente se tornaram ‘petralhas’ perigosos, terminando com um sonho trabalhista.
         André Barreto, nosso idealista diretor, adoeceu gravemente.  Nenhum de nós, colunistas, temos a necessária experiência para dirigir um site completo como é o VB, que terminou.  Assim, lastimavelmente, hoje me despeço. 
         Estou sentido.  Muito sentido.    



quinta-feira, 18 de julho de 2013

Assunto liquidado

 
         Um frio agonizante, o chão de pedras, um vento que não cessava e a rua deserta.  Uma lâmpada de luz branca, no poste, dava apenas para ver a parte dianteira do carro e um ocupante na direção.  A calefação estava desligada e o motor sem funcionamento.
         Magro e forte, o tal que ocupava o veículo.  Sobretudo curto, um gorro de lã, sapatos de sola grossa e calça de veludo.  O trinta e dois cano longo cuidadosamente ajeitado na cintura.  É ótimo para tiros precisos, por não ter recuo forte.  Esperava calmo, não adiantava ter pressa, o casal jantando no bistrô elegante tinha todo o tempo do mundo.  Medalhões de filé mignon, acompanhados de salada de tomate, rúcula e aspargos.  A elegante taça de vinho mostrava o líquido vermelho e brilhante.  Excelente qualidade, sem ser caro.  Qualquer conhecedor de vinhos honestos sabe que nada justifica o preço superior a cinquenta reais, pouco menos do que vinte e cinco dólares, uma garrafa.  Os produtores e os falsos entendidos teimam no mundo inteiro, e existem marcas e safras realmente com preços absurdos.  Pura idiotice, qualquer vinho produzido em Napa Valley, Califórnia, por mais simples que seja, não tem qualidade inferior.
         Assunto que não preocupava o homem que estava examinando com cuidado o trinta e dois, engatilhando e soltando o mecanismo com o percussor, observando o perfeito funcionamento do tambor que girava perfeito a cada movimento de armar.  Retirou um dos cartuchos.  Brilhante, cor de moeda dourada nova.  Na extremidade, o objeto que já tirou e vai continuar ceifando a vida de muitos.  Envolvido numa camada fina de metal branco, a ponta de chumbo tinha seu início perfurado.  Guardou a arma e esticou as pernas.  Já estava sentado há duas horas e meia.
         No restaurante pequeno, o casal já havia pago a conta, enfrentava o frio da noite e se acomodava no automóvel francês, mas montado aqui mesmo.
         O trânsito amanheceu confuso, no dia seguinte.  Ainda estacionado, um carro estava sendo fotografado por peritos criminais que tomavam cuidado para não mudarem, por algum acidente, a posição dos corpos.  Um homem e uma mulher, ambos mortos por certeiros tiros, dois em cada um.
         Os policiais cumpriam sua missão técnica.  Sabiam que o autor não seria apanhado, havia sido crime cometido por profissional.
         Num bar próximo, o homem que estava na noite anterior com o sobretudo cinza escuro, tomava uma xícara grande de café e fumava, esperando o seu cliente para ambos darem uma olhada no que estava acontecendo.