sábado, 25 de maio de 2019

Francisco Buarque de Holanda

                                  Francisco Buarque de Holanda

Como não gostar do Chico Buarque?
Como não gostar do Chico, um cara da minha época, temos idades próximas.
Cantor, poeta, compositor e escritor. Amigo dos artistas musicais mais famosos que temos e tivemos. Chico é um homem comum, simples. O político é outra coisa, são idéias. Ele nunca foi nem vereador...
Ganhou muita antipatia por ser amigo de Lula e Dilma.  Realmente, do modo de ver político, não recomenda ninguém.  Ambos são uns vencidos pela sede de poder e corrupção, não adianta negar, mas o assunto não é esse.
Sua história é outra.  Chico tem raízes intelectuais, viveu no meio deles, gente de peso, importância e notoriedade.  Não é qualquer um que é parceiro e amigo de Antonio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes, Bandeira e tantos outros. Não é para qualquer um, todos sabem.
Começou moço, bem moço, com letras e músicas ainda não maduras, mas extremamente simpáticas.  Mais: maturidade é conhecimento, nunca foi sinônimo de velhice.  Das suas músicas, agrada-me sobremodo “Construção”, onde Chico mostrou o que sabe.  Todos os versos são alexandrinos, e para completar, todos são proparoxítonos no seu final.  Vão se alternando, até o término e a letra é grande.  
Parabéns pelo Camões. Ele é concedido a autores da CPLP, Comunidade de Países de Língua Portuguesa, aos literatos que se destacaram pelo conjunto da sua obra.  O prêmio maior, bom lembrar. Um milhão de euros, bem mais do que o Nobel, pago em dólares.  Claro que a importância não é esta, o dinheiro.
Só as suas letras,  ao longo de anos o justificam, afinal ainda é o maior compositor vivo do Brasil. 


terça-feira, 14 de maio de 2019

"O velho e o mar"

                                      “O velho e o mar”

            Gostava sobremodo do romance curto que Hemingway escreveu.  Tinha razão; compôs uma das peças que fizeram o escritor ganhar o Nobel de Literatura.
            Sobre este romance curto, correm muitas histórias.  Que foi um lançamento muitíssimo bem feito, antecedido de notícias jornalísticas várias, misteriosas e que aguçam a curiosidade: “sabe-se que Ernest está em Cuba, escrevendo com vigor um romance”; coisas do gênero, jornais e revistas, prepararam para o lançamento do livro que acabou uma das maiores peças da literatura mundial
            Ninguém jamais revelou nada.  Nem autor, nem editores.
            O homem escrevia também, apaixonadamente, mas qual!  Como Hemingway? Difícil, muito difícil.  Hábitos estranhos não lhe faltavam.  No momento, estava num restaurante praiano, envidraçado, o que impedia entrar vento frio e levantar as folhas do livro, melhor, caderno que viria a se tornar livro, caso saísse boa a história, o relato.
            Quem escreve não deve beber, ou melhor, abusar da bebida, principalmente ser for destilado.  Era o primeiro dos três copos iniciais de uísque de primeira qualidade; depois, muitos e muitos copos d’água dissolveriam a concentração alcoólica e abrandariam um mal estar, ou mesmo bebedeira.
            Tempos outros, atuais, onde o celular que fala com Marte repousava no centro da mesa.  Não, a escrita não era por computador, menos ainda pelo telefone mágico que hoje é parte integrante da tralha que o homem carrega, mas o importante não foi isso.  Uma mensagem de texto havia chegado.  “Volte ao hotel imediatamente, está sendo esperado por gente que vai se identificar”.
            Mistério absoluto para quem não estava bêbado.  Mais ainda quando em outra mensagem chegou: “seja discreto. Pague o que deve e vá para a casa.”  
            Assim foi feito.  Pouco depois, banho tomado, uísque no copo e já iniciando a fome, o celular dá outra chamada. Falam.  “Aguarde aí mesmo vão aparecer homens que se identificarão. Pode confiar, policiais estarão presentes, com eles.  Mas só dois farão contato.”  E a mensagem encerrava.
            Soa a campainha. Pelo visor da porta, cinco homens.  Dois de terno, elegantes. Dois de camisa preta e calça jeans. Ostensivamente armados. O último parece um dirigente, pelo que diz aos que o acompanham.
            Era um dirigente. O emissário especial da Caixa Econômica tinha por difícil missão não deixar de escapulir a quantia das garras do governo.  Prêmio muito alto, os juros seriam de colocar qualquer um com vida de ir e vir para onde quer que fosse.  Passaporte contínuo.  Nada de chatíssimas renovações.  Dinheiro muito alto, nos dois primeiros dias úteis do mês, depositado na conta em que o homem designasse.  Negócio escuso?  Não, não.  Ele possuía o bilhete premiado da famosa mega-sena.  Hemingway seria esquecido?  Não. É provável que não. Tantos prazeres e paixões o dinheiro não paga.  Este era um deles..