Escrevendo com sangue
Pois é o que lhe digo: não se escreve pelo simples prazer de teclar ou desenhar letras. Os resultados são ruins.
Escrever, como toda arte, necessita do aprendizado fundamental. A língua e a literatura. E, sobretudo a alma da verdade, o transmitir conhecimento sem ser professor, usando sua sabedoria.
É penoso. A língua tem que ser trabalhada em todo o trecho. Não pode haver erro, perde-se tudo, o autor não merece crédito. É preciso ter amplo domínio do vernáculo e da ciência do saber a comunicação com quem lê.
O cérebro sangra, o coração sangra, os dedos tremem. As idéias funcionam como engrenagens de uma máquina perfeita. Além de não poder brincar com o leitor e ter por ele o máximo respeito, há que se despertar o seu interesse nas primeiras linhas, e levá-lo assim até o final. Um processo difícil e na maioria das vezes doloroso.
Sua verdade tem que ser exposta. Não interessa se não é a do leitor: não podem existir mentiras, falsidades. Quem escreve para agradar o leitor, preocupado com este pensamento, cai fatalmente em erro sem remédio.
É bom que tenha em mente que quem lê logo percebe se o autor está enchendo o papel, ou querendo demonstrar cultura. Escrever não é isto. É entregar-se, num ato de doação. Todo aquele que tem conhecimento fica na obrigação de transmiti-lo sem alterar uma letra.
Enfim, escrever é um ato de amor, que não está sujeito a outra regra, senão esta. Doar-se.