sábado, 28 de maio de 2011

Solidão - Dueto Jorge e Hilde

           Solidão

Que solidão é esta,
Que às vezes me bota tão triste
Não adianta carinho ou festa,
Quando sei que nada existe.

Parece, não tenho certeza,
Que tudo é ilusório,
Nem reza nem oratório;
Levou-os a correnteza.
Nesta vida malvada,
Sem deus, santo ou nada
Flui a vida desgraçada
Profana e não sagrada.

Sem sair desta ingrata,
Fico sem mesmo saber
Estou perdido na mata
E tento sobreviver!     -   Santa Rita Durão

Não é dele não?
Então é meu mesmo, irmão!

sábado, 21 de maio de 2011

Castagneto













                                               Castagneto

            Por motivos de manter uma discrição a respeito do assunto, conto a história, alguns pormenores, mas não os envolvidos.
            Gosto muito de pintura.  Durante longos anos pelejei com ela, até dedicar-me inteiramente à literatura.
Durante este tempo, é lógico que eu adquirisse um conhecimento de pintores famosos e alguns nem tanto.  Entalhava em madeira também, e participei de um salão oficial com uma talha em peroba do campo que acabou com minhas mãos algum tempo.
            Pouco depois, passei a frequentar leilões, não por esnobismo ou para adquirir peças raras.  Era distraído, com direito a bom vinho branco e canapés muito bem feitos.
            Antes de o leilão começar, as peças ficam expostas durante alguns dias.
            Foi quando peguei, sob luz intensa, num Castagneto muito brilhante, por excesso de verniz dos conservadores.  Estranhei de início as cores.  O estilo era igual ao do nosso marinhista famoso, que tinha o hábito de fazer a cor cinza, sempre presente nos céus do quadros a óleo, usando branco com cinza do seu charuto que não abandonava.
            Chamei um pintor, profissional que vendia bem, e pedi sua opinião. 
Disse que achava ser falso.  Um amigo que estava comigo encontrava-se no auge da indignação, conhecia o leiloeiro famoso e afirmou, com o pintor, que ele era incapaz de ter no salão obra falsa.
            O Castagneto foi vendido a muito bom preço.  Eu estava no leilão, onde Adalgisa Colombo, a ex-Miss Brasil chamava a atenção de todos, pela sua beleza e elegância, acompanhada do marido, conhecido investidor em obras de arte.
            Tempos depois, devolvido ao vendedor, com os certificados técnicos de falsidade.  Nestes casos, não há discussão.  O dinheiro é restituído no ato, acompanhado de algum brinde e solene pedido de desculpas.
            Até hoje acho graça da cara dos dois, dizendo que o excesso de vinho estava prejudicando minha visão.
            Isto deu uma idéia ótima!  Tenho, na minha sala, um Castagneto e um Pancetti.  Autênticos, claro, pois eu mesmo fiz ambos!  

sábado, 14 de maio de 2011

Decadência













Decadência

            Quando o cronista escreve sobre o que está havendo de decadência no seu país, a alma chora.
            Estamos em profunda decadência social e moral.  A econômica é uma incógnita.  Não temos acesso aos números que permitam verificar.
            Saudosismo?  Seria bom que fosse!  Seria ótimo que estivesse enganado.
            Quando era colegial, no ensino público, mais exatamente no meu querido Liceu “Nilo Peçanha”, que era em Niterói o que o “Pedro II” é no Rio de Janeiro, exemplo de colégio de nível secundário, batendo mesmo os melhores da rede privada e formadores de grandes talentos, o andar da carruagem era outro. 
            Uniforme impecável, cheguei mesmo a usar túnica com gravata, terno completo de um estudante.  Evoluiu depois, tendo em vista nosso clima, para calça azul, camisa branca e gravata.  Sem o dólmã.
            Ensino dos melhores, professores respeitados, alunos comportados.  Desrespeito ao professor era punido com a expulsão.
            Havia, antes das aulas, a formatura no pátio.  Inspetores e inspetoras avaliavam nossa compostura e traje.  Aí de quem estivesse com os sapatos sujos! 
            Hino Nacional cantado, ao mesmo tempo em que a Bandeira era hasteada.
            Diferença para hoje!  Não quero, não devo nem posso julgar valores.
Perto do ensino antigo, o de hoje é marginal.  Repito que não estou fazendo discriminação, mas tão somente comparação.
            Hoje aluno agride o professor.  Se não é ele, são seus pais.  É fato corriqueiro a pergunta “que nota é essa para o meu filho?”  E todos sabem que o pagante, ou mesmo o que estuda em escola pública, sofrem o mesmo “constrangimento”.  Não podem ser chamados à atenção!
            A presidente Dilma, em enérgico pronunciamento há dias atrás, prometeu providências severas quanto a este tipo de coisa.  Mas ainda nada fez, não por desleixo.
            O Brasil é mesmo um grande saco de gatos!

imagem:  Liceu "Nilo Peçanha"/Google

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Fortunas















                                                    Fortunas

            Abro um site e vejo a notícia: Antonio Luiz Seabra e Lily Safra ainda figuram como na lista dos mais ricos da Inglaterra.
            E eu com isso?  Vai mudar a minha vida em quê?  No duro, no duro mesmo não muda nem a deles.  Dinheiro que serve é o suficiente para viver-se bem.  O resto é o resto.
            Lembro de uma frase do filme “The Godfather”, o excelente “O Poderoso Chefão”, onde Marlon Brando ensinou ao mundo o que é ser ator.  “Atrás de uma grande fortuna sempre há um crime”, que todos julgaram de Mario Puzzo, autor do livro que deu origem à obra prima do cinema.
            Engano.  Esta frase é do escritor francês Honoré de Balzac, e traz sempre controvérsia.  Alguns dizem que é absolutamente verdadeira, outros negam.  Mas parece que tem seu fundamento.  A própria Inglaterra enriqueceu com a pilhagem nas colônias e no mar. Grande parte de países europeus, mesma coisa, excetuando o corso e a pirataria, esta hoje com sentido bem mais amplo, e nem por isso menos criminosa.
            Fico imaginando morar numa mansão ou palácio, com toda a mordomia possível.  Empregados diversos, capazes e fiéis.  Cozinheiros.  Motoristas, carros na garagem.  Amplo gramado dominando a frente da residência, com dois acessos, pela direita e pela esquerda.
            Sinceramente.  Passar duas semanas de férias deve ser bom.  A vida inteira, uma chatura das maiores.
            E vou parando de falar em futilidades.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Vida















                                          Vida

                         Quantas vezes nesta vida
                       Eu vi o mar, calmo ou mexido.
                       Quantas vezes nesta vida
                       Senti qual nada sofrido.

                       Quantas vezes nesta vida
                       O amor passou, esbaforido.
                       Quantas vezes nesta vida
                       Senti ser tempo vivido.

                       Doce ilusão de quem pensa
                      Ter a vida dominada.
                      Apenas sonho, mais nada.

                     Pois a Vida que é sempre imensa
                     A todos de graça é dada
                     Mas um dia será roubada!