Castagneto
Por motivos de manter uma discrição a respeito do assunto, conto a história, alguns pormenores, mas não os envolvidos.
Gosto muito de pintura. Durante longos anos pelejei com ela, até dedicar-me inteiramente à literatura.
Durante este tempo, é lógico que eu adquirisse um conhecimento de pintores famosos e alguns nem tanto. Entalhava em madeira também, e participei de um salão oficial com uma talha em peroba do campo que acabou com minhas mãos algum tempo.
Pouco depois, passei a frequentar leilões, não por esnobismo ou para adquirir peças raras. Era distraído, com direito a bom vinho branco e canapés muito bem feitos.
Antes de o leilão começar, as peças ficam expostas durante alguns dias.
Foi quando peguei, sob luz intensa, num Castagneto muito brilhante, por excesso de verniz dos conservadores. Estranhei de início as cores. O estilo era igual ao do nosso marinhista famoso, que tinha o hábito de fazer a cor cinza, sempre presente nos céus do quadros a óleo, usando branco com cinza do seu charuto que não abandonava.
Chamei um pintor, profissional que vendia bem, e pedi sua opinião.
Disse que achava ser falso. Um amigo que estava comigo encontrava-se no auge da indignação, conhecia o leiloeiro famoso e afirmou, com o pintor, que ele era incapaz de ter no salão obra falsa.
O Castagneto foi vendido a muito bom preço. Eu estava no leilão, onde Adalgisa Colombo, a ex-Miss Brasil chamava a atenção de todos, pela sua beleza e elegância, acompanhada do marido, conhecido investidor em obras de arte.
Tempos depois, devolvido ao vendedor, com os certificados técnicos de falsidade. Nestes casos, não há discussão. O dinheiro é restituído no ato, acompanhado de algum brinde e solene pedido de desculpas.
Até hoje acho graça da cara dos dois, dizendo que o excesso de vinho estava prejudicando minha visão.
Isto deu uma idéia ótima! Tenho, na minha sala, um Castagneto e um Pancetti. Autênticos, claro, pois eu mesmo fiz ambos!