segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Passado

      

         Passado?  Nem tanto.  Velhos hábitos do povo ainda são cultivados por muita gente.
         Em muitos lugares ainda é possível encontrar um fogão e forno a lenha.  Uma panela de barro, impregnada de cheiros.  É ela que faz o feijão, cujo gosto não se compara com o da cozinha atual.  Madrugada e o feijão era catado, panela d’água no fogo, coador com pó de café esperando a hora de ser mexido com uma colher de pau.  Cigarro de palha, na maioria das vezes. 
         Eu mesmo já vivi isso, numa fazenda que em linha reta não está afastada mais do que cem quilômetros do Rio de Janeiro.  Aqui mesmo ainda havia muita conversa fiada nas cadeiras colocadas nas calçadas, onde não faltava o cigarro e o café.  Conversa animada, terminava pouco antes das dez da noite, dia seguinte o trabalho esperava.  Fim de semana era diferente.  Uma cachaça das boas passava e era servida nos martelos, copos de fundo muito grosso, daí o nome. 
Algum violeiro cantava uma moda, a fofoca política alvoroçava a conversa, a broa de fubá nunca faltava.  Não tinha hora para acabar, só a criançada é que dormia mais cedo.  Prefeito, padre e juiz eram alvos de ataques verbais, coisa de pouca monta, só para não perder o assunto.  “Dizem que padre Augusto anda ciscando pra cima de Glorinha”.  Que maldade, o padre era um santo.  O prefeito sempre acusado de não tomar medidas que afetavam a cidade, afinal a ponte não estava consertada desde a última enchente.  Não escapava nem o mau gosto da gravata do juiz.
Café fresco servido pelas comadres, uma disputa feroz, todas queriam fazer o melhor, não esquecendo de torrar mais um pouco o pó fresquinho, aroma feiticeiro.  E toca a fumar, palha não tinha não, nem filtro, moda que veio depois.  Até o médico fumava feito um condenado!

Vai fazer isto hoje?  Onde?  E o bandido hoje não usa mais o velho punhal, vem logo de arma longa.  Acabou, é tempo passado.   

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Duda

         

         Todos que escrevem sabem: inventamos muito.  Situações, fatos, pessoas.
         Inventamos?  Pode parecer que sim, mas é difícil alguma coisa vir do nada.  Melhor, não é difícil, é impossível.  Não só para escrever, mas para todos os ramos da arte.  A criação segue um processo, e nunca se pode imaginar o resultado.  Mas não parte do imaginário puro.  Nunca parte.
         Assim é que a mulher que Yuri conheceu e logo se apaixonou parecia ter surgido do nada, sem pai nem mãe, sem uma história anterior que convencesse.  Tudo parecia ilusório.  Mas não.  Ela estava — estava? — em todas as partes, no copo, no gosto do café acabado de fazer, no seu pensamento... Ora, tinha existência, portanto.
         Escrevia para ele, textos curtos, incisivos e muitas vezes contundentes.  “Você estragou nossas vidas”, quando se referia à união que não se realizou.  De nada adiantava querer negar; era o que ela pensava, dizia e estava convencida.  Negar como?  Aparecia como vinda do nada, linda, meiga, delicada e maravilhosamente entregue a um amor que Yuri nunca entendeu.  É de dar pena dele.  Foi burro, uma besta, em nome de sabe-se lá o quê.
         O que mais queria era unir-se em definitivo com o amado.  Acontece que este não acreditava que ela existisse, era sonho, ou talvez até mesmo delírio.  Estava passando por momentos de insanidade, criando fantasmas? Mas Duda apareceu, como por encanto de história de fadas.  Sentado num banco, olhando o mar, sentindo o horizonte, ouviu a voz.
         — Yuri?
         — Duda?
         Foi o mais ardente beijo, o mais gostoso abraço, os corações batiam forte, estavam colados, os olhos não se separavam um do outro, olhar que devassa a alma, fala, grita, berra e sente.  Duda era a mulher mais bonita que Yuri já havia posto os olhos, em qualquer hipótese.  A mais bonita, a mais doce, a mais encantadora, a mais mulher.
         Num repente, sumiu.

         Até hoje Yuri não sabe mais dela...

domingo, 13 de outubro de 2013

Sem líderes

         
         Há muito a política brasileira sofre de mal terrível: não tem líderes de expressão.
         Este mal fez com que assumissem o poder Sarney, Collor, Lula e Dilma.  Fernando Henrique é caso à parte, pois sob sua direção nasceu o Plano Real, executado com maestria pelos economistas matemáticos Pérsio Arida e André Lara Resende, entre outros.  Terminou com inflação que vinha desde a criação da República. 
         No entanto, políticos como Ulisses Guimarães e Leonel Brizola, para citar apenas dois exemplos, desapareceram por completo do cenário político brasileiro.  Morreram sem deixar sucessores.  Pode-se afirmar com tranquilidade que estamos sem líderes honestos e determinados, como os mencionados.  Este fato não só permite a entrada de incapazes, que são inúmeros, como nos deixa sem reservas.
         Os petistas apoderaram-se do mando e não pretendem abandonar o mesmo.  Não se entende o fato.  Sob o governo Lula foram cometidas as mais diversas falcatruas, políticas ou não.  Desonesto aos extremos, conseguiu escapar da lei, como tantos outros que temos conhecimento. Os menos precavidos confundem a sua esperteza com inteligência, predicados absolutamente distintos.  Atualmente estamos sob o governo Dilma, nem inteligente e muito menos esperta.  Guia-se pelo que manda a direção do partido, embora faça questão absoluta de negar tal fato.
         O atual governo também não é sério.  Prova é a construção de inúmeros estádios que servirão para campos de jogos de futebol, na Copa que se aproxima.  Orçados inicialmente por preço determinado, ao longo das construções tiveram seu preço dobrado ou triplicado.  A razão nunca se sabe, mas empreendimentos particulares não têm esta distorção, sob pena de perderem seu financiamento.
         O mundo encontra-se em situação indefinida.  Política, social e financeiramente.  Os atuais líderes internacionais, além de competentes, têm equipes capazes de entender a situação do momento, podendo dar-se como exemplo Obama, Putin e Angela Merkel.  Aqui, prima-se pelo amadorismo.
         A falta de pulso firme e conhecimento do mais além do horizonte político, que Ulisses, Brizola, e Darcy Ribeiro possuíam está sendo cada vez mais sentida, diante de tanta mediocridade, oportunismo e rapinagem que vemos nos dias atuais.

Publicado no Pravda de 14/10/2013.  Link: http://port.pravda.ru/news/mundo/15-10-2013/35420-sem_lideres-0/ 

domingo, 6 de outubro de 2013

Les Feuilles Mortes



Composta em 1945 pelo franco-húngaro Joseph Kosma, a canção "Les Feuilles Mortes" alcançou fama mundial, sendo gravada por grande número de músicos, na maioria jazzistas norte-americanos como Miles Davis, Coltrane, Bill Evans e outros. 
Adquiria novo nome, "Autumnn Leaves", aqui apresentado sob forma de dança por Slavick Kryklywy e Elena Khorova.
A apresentação é impecável, além de muito sensual.
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Aqui, uma versão jazzística da mesma música, apresentada pelo Bill Evans Trio.