Moedas
Veio, como tantos outros, estudar na cidade grande. Ainda hoje é assim.
São poucas as universidades no interior. Já havia prestado os exames para o ingresso, foi aprovado no vestibular. Em suas indas e vindas, descobriu uma vila antiga, casas de dois pequenos quartos. Cozinha e banheiro que davam perfeitamente para organizar a sua casa, sonho de muitos.
Em pouco tempo estava instalado. Amigos não faltavam homens e mulheres. Era opinião daqui, sugestão dali e em pouco tempo nosso amigo dava-se ao luxo de receber os mais chegados. A mesada permitia, sem excessos.
Estudar ciência exata, no caso a Física, não é fácil. Tinha pretensões em transformar-se cientista e gostava muito do seu estudo. Bom aluno, dedicado, reconheciam os mestres e colegas.
Casa bem cuidada, com o auxílio de um conhecido faz-tudo da área, reunia os amigos em noitadas de violão e bebidas. Da sua cidade natal, trazia a receita de uma caipirinha perfeita. Todos os sábados havia reunião.
Num destes, uma moça, poeta de mão cheia, falou sobre a mega-sena acumulada. Fizeram um “bolão”. E acertaram. O que está escrito não se altera. Eram muitos, mas mesmo assim a divisão garantiu um bom dinheiro.
Quando ele foi receber, foi atendido como se príncipe fosse. O dinheiro de lá não sairia, mas a renda era grande. Não sucumbiu entre tantos seios e pernas mostradas, mas tão logo comprou a casa onde morava, que sofreu uma mudança total, pintura, reparos na alvenaria, canos de chumbo tocados por plásticos, pequeno jardim arranjado por ele mesmo.
Uma das suas assessoras financeiras conseguiu o intento. Por lá morou uns bons quinze dias. Talvez, quem sabe, poderia ter conquistado o dono, já que além de corpo perfeito, sabia usar todo ele na hora de dar prazer.
O que não sabia é que ele era apaixonado, e tão logo aceito, uniu-se à antiga enamorada. Em ano e meio, tinham um filho, e a casa na rua de pedras ganhou mais dois quartos, respeitando à arquitetura local.
6 comentários:
Esse é maravilhoso,Jorge, não lembro onde foi que já o li! Mas foi bom reler!abração,chica
Pois, seu Jorge, sempre aparecerem tranqueiras quando o freguês está com a burra cheia...
Como sempre, articulado, prendendo a atenção de início ao fim, e o gostinho de coisa bem feita, após a leitura... E começamos a lembrar tantos e tantos causos que conhecemos...
Abração! Mande mais!
A Chica levantou a lebre. Já reparei, Jorge, que muitos textos aqui você publicou no Recanto das Letras.
Bem escrito, e como sempre. com final inesperado.
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Bom dia.
Adorei!! Queria saber se ele se formou...
Um grande abraço.
Olá, Jorge. Gostei! Fica um gostinho de curiosidade...mas vamos imaginar um final feliz para esse senhor: que ele conseguiu se realizar como ser humano, sobretudo; que acabou descobrindo que dinheiro é bom, com certeza, mas que cultivou valores interiores, que o tornaran um ser inteiro,leve, livre e feliz ...Beijinhos.
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