Velejando
Tão bom ser livre! Mas a responsabilidade aumenta. Todo aquele que dela abusa, acaba pagando caro.
Nem tão moço era. Mas experimentado e forte, ainda velejava no seu pequeno Laser, um barco que deu certo no mundo. Só uma vela, nas regatas só um tripulante, seguro, fácil de ser manobrado. Disputa Olimpíadas, tão perfeito que é.
Seu único defeito é o espaço. Muito pequeno, exigindo habilidade do velejador. O casco, a superfície que toca n’água, é solidamente unido com o convés, parte onde fica o seu tripulante e seu pequeno espaço, chamado cockpit, que nada mais é do que uma pequena depressão.
Com atenção em manter o barco apanhando o máximo de vento, que não era nem forte, nem fraco, o solitário tripulante ousou. A Baía da Guanabara é muito segura para uma boa velejada de Laser.
Ultrapassar a reta imaginária que liga o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, e a Fortaleza se Santa Cruz, em Niterói, as águas não são mais abrigadas e você já se encontra no oceano. Habilidoso e bom conhecedor da arte náutica, as águas bem mais claras do que na baía apareceram.
Seu rumo era a Praia de Piratininga, a primeira ao norte da Guanabara.
Pretendia almoçar num bar de pescadores. Onde o peixe sempre é do dia e a cerveja, conservada num tonel de madeira cheio de pedras de gelo faz com que se abuse um pouco.
Estava no meio da praia, quase chegando ao seu destino, cabelos alvoroçados pelo vento, tinha retirado o chapéu, dose de conhaque tomada, pois havia mandado alargar o depósito hermeticamente fechado por tampa de rosca, não permitindo a entrada d’água, mesmo que o barco virasse, o espaço continha meia garrafa de conhaque, cinco sanduíches de carne assada com tomates e pepinos, cuidadosamente enrolados em papel-alumínio e dois litros de água, numa garrafa térmica própria, foi ultrapassado por um catamarã muito mais veloz.
Observou a moça, parecia uma deusa, linda de todo e que lhe acenou, como é costume no mar.
Perigosamente, aproximava-se muito da costa, onde grandes bancos de areia são formados em poucas horas.
Bateu num deles e o catamarã capotou.
Nervoso, o homem dirigiu-se para o local. O socorro no mar é sagrado. Estava apenas o barco virado. Nenhum sinal da bela mulher que o conduzia. Ele procurou, mergulhou, mergulhou, nadou e olhou o fundo do mar. Nada!
Foi quando sentiu a primeira fisgada. “Cansaço”, ele pensou. Continuou a busca. Seu corpo foi logo encontrado. Infarto.
Mas nem o barco, nem a moça, jamais foram achados.
Iemanjá levou o homem, diziam os pescadores. Aquela era a Rainha do Mar? Por que deixou o corpo na praia? Levou só o espírito?
A Vida tem muitos mistérios...
11 comentários:
Que bonito Jorge...
Gostei demais!
Sabe, é difícil comentar este post, difícil para mim...
Acredito que ele estava predestinado a embarcar, e porque não de um modo mais sereno?
Um beijo...
Bom dia !
Muito obrigada pela visita \o/
Volte sempre, tá !
Seu blog é encantador ... adorei !
Intrigante e bonito, Jorge. Parabéns! Não sou velejador, não sou do mar (mesmo já tenho morado no Rio muitos anos), mas acho que me daria muito bem morando num bom barco, ancorado na marina da Glória... :)
Abraço.
"Por que deixou o corpo na praia? Levou só o espírito?
A Vida tem muitos mistérios..."
E como dizia o poeta:
"Há mais mistérios entre o céu e a terra, do que sonha nossa vã filosofia!"
Abraço forte!
Liberdade com responsabilidade sempre nos trás boas lembranças.
A semeadura renda sempre, de acordo com os propósitos do semeador.
Boas energias,
Mari
Poxa, poeta!! Nem vem me dizer que não gosta e não faz poesias...Incrivelmente escrito, com versos sem rimas, livres, descritos com maestria. Você é um poeta que encanta sim, mesmo sem saber.Amei teu texto!!! Amei, POETA...
Um abraço.
Asi, nomás? Bela maneira de ir para outro nível! E somente um marujo conservado em maresia e manguaça para ententer...
Belíssimo texto, meu Mestre. Pode mandar mais.
Abração.
A devoradora de homens, o mar, o vento. Jorge esplora este tema com facilidade, deve conhrcrt o aasunto.
Mas deu vontade de comer um peixe assado. Beber uma cerveja gelada.
Voltar velejando, nem pensar.
Abraço do
Pedro
Vim te agradecer por expressar o profundo linguajar do Amor.
Porque esta linguagem profunda nós sabemos que só encontramos quando temos o paraíso dentro de nós mesmos para sermos soltos das ataduras que nos ligam os falsos sentimentos.
Você é um encanto de pessoas Jorge e fica com minha profunda adimiração.
Sobre o mar a lua e as estrelas tudo é um compasso somado ao livro de um poeta que escreve rimas ou metáforas que elege sua própria essência de viver. Morrer no mar seria encantador pois já estaria dentro da natureza elegante da vida.
Meu beijo e adimiração
Que delícia começar meu domingo com um texto tão redondo.
Sim, a liberdade é uma coisa que tem que ser muito bem cuidada.
E pq será que os corpos sempre ficam? Independente do deus que nos leve, ou diabo que carregue?
Adorei!
Adorei! Como sempre, muito interessante os teus textos. Agora também sigo-te..rs. Um grande abraço meu caro poeta.
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