Abandono
Dizem que nem o cachorro do mendigo não o abandona jamais. Que esta é uma característica canina, nunca duvidei.
Existe cão famoso, Azor, imortalizado por Dostoievsky em Humilhados e Ofendidos.
Azor jamais abandonou seu dono. Compartilhava com ele as agruras do mundo.
Mas Bimbo, um vira-lata comum abandonou o velho mendigo por fome.
É natural que isto aconteça. A fome é uma desgraça que não atinge, naturalmente, só os seres humanos, todos sabem disso.
E Anastácio, seu dono, ficou sem a única companhia que possuía. Sentiu muito a perda. Afinal, era o seu único amigo.
Bimbo saiu mundo afora, revirou lixo, achou comida de primeira que não se sabe a razão, jogam fora. Encontrou cadelas que o aceitaram.
O mundo é estranho. Bimbo estava gostando da nova vida, comida vez por outra, cadelas igualmente. Mas mesmo os animais de estimação sentem saudade, quem não sabe disso?
Sentiu saudades da mão que o afagava, no frio da noite. Quando a cama era papelão grosso, e a coberta de trapos recolhidos nas ruas.
Os cães têm memória privilegiada. Encontrou o antigo dono. Mas tinha gente, muita gente olhando ao redor. Seu dono havia morrido, ninguém sabe se de fome ou de frio, ou dos dois juntos.
Dizem, eu não sei se isto é verdade, que Bimbo morreu três dias após.
18 comentários:
Coincidentemente meu primeiro cachorro, um boxer, chamava-se Bimbo. Já morreu e foi um lindo cachorro. De fato são os melhores amigos do homem.
Beijos de boa noite,
Cê
Jorge,
singela e simples na forma, profunda e pungente no conteúdo: coisa de Mestre... Faz lembrar todos os bichos que tivemos, como ocorreu com a Cê.
Abraços, meu irmão.
creio que os cães trazem pré-históriamente uma gratidão ao homens, pois sem os homens não teríamos cães, teríamos apenas lobos, creio que eh uma forma de agradecimento pelo surgimento dessa nova espécie, os cães devem trazer isso genéticamente... rs
:)
É, o amor cravado no peito, é amor cravado no peito mesmo, meu amigo!
O cão tem esta característica: apanha, chora, corre pra casinha.
Passada a dor volta correndo aos braços do dono.
O amor não escolhe condições sociais, nem raça.
O amor é isto:Faz voltar para unir corações, ainda que na morte.
Costumo chamar os amigos queridos e os que alcançam minhas emoções de "meu anjo", uma forma carinhosa que trato quem eu gosto, então, MEU ANJO, logo de cara, a imagem é tocante. Um amor visível e puro entre cão e dono. Teu texto, como tem sido usual ultimamente, emociona-me especialmente porque amo essa relação homem animal que a cada dia parece mais recompensadora do que a relação entre os homens. Parabéns mais uma vez por tua sensibilidade. Gostei disso, de você enviar o link da nova postagem. Bjs e bom dia.
Lindo texto... e a imagem então...
Pois é amigo, as vezes a gente quer explorar esse "mundo afora" como Bimbo o fez. Mas o amor, e a saudade dele, nos fazem voltar... ainda que seja para uma despedida!
Bjs
Interessante você se apropriar da imagem da fidelidade que é o cão e mostrar que a liberdade não significa falta de amor. Ao contrário, quem ama liberta e é livre para deixar o outro viver. O mendigo remete àquele que nada tem materialmente, mas rico de sentimentos. A morte simbolizando a libertação. Muito profundo!
Beijos mil!!!
Uma bela história e um belo exemplo também. É disso que o mundo precisa, de fidelidade, seja ela com os relacionamentos, seja com nossos próprios princípios...
Como sempre, uma adorável leitura. :)
Pati*
História triste!
Abraço
Olá, Jorge. Tenho um cãozinho e sei bem do que está falando. São capazes de sacrificar a vida pela gente, estes nossos melhores amigos. Texto belo e emocionante.
Olá, Jorge.
Talvez o mendigo tenha morrido de saudade ou de desilusão.
Cães realmente são fiéis a seus donos e conheço algumas histórias parecidas. Mas com meu bisavô aconteceu o contrário: seu estado de saúde agravou-se depois que seu fiel amigo fora atropelado.
Obrigada por seu elogio a meu casamento. Fiquei feliz por saber que você gostou de ver as fotos!
Se você RELEMBROU e SE EMOCIONOU, deixou o comentário no post certo, não é verdade?
O encantador dos casamentos é que, ao ver o dos outros, relembramos o nosso e somos contagiados por uma espécie de magia que faz os corações baterem mais forte.
Parabéns e que você e sua esposa comemorem muitas bodas com amor, felicidade e emoção!
Beijos e bom final de semana.
Cada um morreu pela falta do outro...é assim.Amor é vital.
Nossa Jorge, forte o texto.
A verdade é que qualquer tipo de relação se for verdadeira ao seu fim nos trás a saudade, e a dor, é difícil o fim disso ninguém realmente sabe como pode se dar. Triste essa história, entendi que apesar de tudo, o amor que tem que falar mais alto, independente das circunstancias, pois o seu fim pode gerar perda, até mesmo uma perda drástica.
grande beijo :*
Não é ficção, Jorge.
Numa cidade do interior de Minas Gerais, um cão acompanhou o enterro do seu dono, um mendigo.
Deitou-se em cima da cova e só aceitou um pouco de água, dada pelos funcionários. Morreu em dois dias. Foi de triteza mesmo, os cães aguentam a fome por mais tempo.
Bonita e muito bem escrita a sua homenagem.
Abs,
Pedro
Nossa. Minha mãe já me contou uma história parecida. Eu sempre fiquei com lágrima nos olhos, assim como agora.
Jorge,
Escrevi um conto que se pudesse resumir o faria através da foto de seu post. A inspiração veio quando vi uma cena parecida com a da foto na Av Paulista. Quem sabe um dia este conto venha a púbico e mostre a linda pessoa encarnada no mendigo poeta por mim criado.
Apesar de todos focarem na fidelidade do cão, creio que o homem também pode demonstrar amor e carinho por um aninal de estimação.
Abraços e parabéns pelo texto.
Luiz.
Adorei seu texto, meu amigo. Sou partidário da amizade dos cães. Tenho como meu melhor amigo Eros, o cão, que tem me ensinado mais do que aprende comigo. Visite o nosso blog. Tenho postado histórias de nossas caminhadas pelo mundo.
www.ochamadomundo.blogspot.com
Adorei a História.
Os cães tem amor incondicional,são sinceros e fiéis.
Lamentável muitas pessoas judiarem desses animais que tanto nos proporcionam amor.
Eles só querem carinho e cuidados.
bjinhos
Nan*
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