quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Carta de despedida

                                                                                                                                                                        
                                             
Du





















Querida, não sei o que se passou conosco, nem pretendo ficar fazendo análises do que está fora deste método. Também irrita querer iniciar literatura com uma carta de despedida. Não sei nem quero saber quem é culpado; culpados somos nós, que não prestamos a atenção necessária ao fato da primeira discórdia em relação ao nosso querido filho. Este é um assunto com o qual não se brinca, e deu um final melancólico.
Perco a mulher, bem o sei. Como repeti muitas vezes, e com toda a minha sinceridade, a mulher mais bonita que eu já vi nesta terra. Vou amargar muito ainda, mais do que estou agora. Não ver você, não sentir sua presença, ouvindo sua voz e o choro do André esta sendo muito duro, e vai piorar.
Mas chegou ao fim. Os arroubos da sua mocidade, Du, eram previsíveis. Mas por favor, não diga que foi recusada, repudiada. Não foi e você sabe bem disto. Eu não tinha alternativa. Você também conhecia este risco, mas assumiu o perigo.
Londres é longe, Du. E com seu casamento, foi posta uma pedra sepulcral no nosso já passado encontro de almas. Nossa casa sente a falta de você e dos primeiros passos do André. Nossa casa sim, as roseiras estão viçosas e ainda cuido delas com o mesmo carinho, como fazíamos juntos. A que você plantou está realmente deslumbrante. Mas não tem o dourado brilhante dos seus cabelos.
Mas finalizo, sofri para escrever e enviar este papel. Só peço que quando vier passar alguns dias aqui, não se esqueça que André tem pai. Não me venha com desculpa que pode haver recaída.


                                                                                                                                                                    

15 comentários:

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

Caramba, o que comentar agora?
Não me parece ficção...
Tristeza, profunda tristeza é o que sinto lendo esse texto; uma simples carta de despedida e um grande drama revelado.
...espero seja ficção.

Rita Lavoyer disse...

Ficção? Jorge só escreve realidade.
Vivida e experimentada em sonhos, devaneios ou em qualquer outro ponto em que o bico de sua pena encoste. Nossa! Vou me atualizar : É encostar o dedo no teclado que vira história, e das boas.

Vejamos a posição do pobre Andrezinho.

Não que a primeira discórdia tenha sido por conta dele, mas quando ele tornou-se o pivô da discórdia, certamente um dos dois, pai/mãe deve ter jogado a culpa um no outro.

Pobre Andrezinho...

É sempre assim, a culpa é toda da mulher. Note:
“Não se esqueça que o André tem pai.”

Tomara que esse pai também não se esqueça que tem um filho.

Yuri, Yuri! Há a internet, conecte-se (nossa que cacofonia), trocando :
se conecte ( me lembra a cotonetes), trocando:
Faça um arroba ponto com com o seu filho, cara! (acho que ficou pior) ou

Windows Live Messenger, que tal?
ou
Orkut, que é melhor ainda, nos remete a iogurte, yakult, coisinhas de crianças, acho que encaixa bem e o seu filho vai gostar, não acha Yuri? Veja, combina até como seu nome, Yuri!

Mas... pelo amor de Deus, carta não. O carteiro pode ler, sabe como é, não sabe?

Então, Yuri, assuma um lugar nessa parada, antes que o outro assuma o seu lugar nessa posição também.
'bypai', Yuri!

Jorge, você é D+.

Marcia disse...

Pobre André....bjus

lino disse...

???
Abraço

Marcelo Pirajá Sguassábia disse...

Ficção ou não, o texto é contundente. E faz refletir. Parabéns, Jorge, por mais esta prova de talento e sensibilidade.

Caio Martins disse...

Hehê! Meu grande amigo, é tanta gente que já escreveu carta de "nunca mais" (geralmente, até que se prove o contrário) que é necessário talento para reapresentar tal realidade...
Mas, há o conforto que "ex" sempre serve para alguma coisa, normalmente para chorar pitangas quando bate a solidão... Pega no nervo, a estória... Fosse "vero", nada que a dona da coleira não resolvesse com um bom pau de macarrão, certo? Meu abraço a ela também.
Parabéns.

Ana Maria Pupato disse...

Com tantos recursos tecnológicos para se comunicar a começar pelo mais velho deles, o telefone, usar a imagem da carta destaca o momento de elaboração da dor pelo ser humano em forma de catarse onde se escreve e assina embaixo de toda a emoção.
Você sempre usa a imagem perfeita para sensibilizar o leitor! Lindo!
Beijos mil!!!!!

Pati* disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pati* disse...

Gosto de cartas, creio que por mais modernos e rápidos que sejam os recursos de que dispomos hoje em dia, nada supera o valo simbólico de uma missiva. Como foi dito, não parece uma ficção, apesar de simples, o desabafo do Yuri nos diz muito sobre a instabilidade das relações humanas e do quanto alguns são bem mais sensíveis neste aspecto...
Espero que as próximas cartas nos tragam notícias melhores!
Beijo,
Pati*

Unknown disse...

Também penso com a maioria.
A carta não é ficção,mas alguma trapalhada do Jorge. Vejam o nome: Yuri, russo, Jorge em português.
Abraço, Pedro.

Lu disse...

Pura ficção. Jorge está cansado de colocar textos assemelhados no Recanto.
Inventa demais, e escreve como se fosse a mais pura verdade.
Amei! Bjs

Olguinha disse...

Lu falou tudo.
O autor "faz de conta que é verdade" tem talento. Nunca se sabe quando Jorge posta uma crônica de ficção ou real, no Recanto. Até receita de pão já enviou.
Parabéns,
Olguinha

Simplesmente Malu! disse...

Jorge, meu talentoso amigo, vc se superou mais uma vez!...
Parabéns por esbanjar criatividade!

Cris Cerqueira disse...

E quando escrevo minhas cartas em meu blog, fico com o coração sentindo um amor como se fora meu. E aqui? Onde está a ficção? Muito bem escrita, muito bem...

O meu carinho, meu amigo.

Ana Bailune disse...

Cartas de despedida são sempre tristes, mas esta...