sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Castagneto












Castagneto

Por motivos de manter uma discrição a respeito do assunto, conto a história, alguns pormenores, mas não os envolvidos.
Gosto muito de pintura. Durante longos anos pelejei com ela, até dedicar-me inteiramente à literatura.
Durante este tempo, é lógico que eu adquirisse um conhecimento de pintores famosos e alguns nem tanto. Entalhava em madeira também, e participei de um salão oficial com uma talha em peroba do campo que acabou com minhas mãos algum tempo.
Pouco depois, passei a frequentar leilões, não por esnobismo ou para adquirir peças raras. Era distraído, com direito a bom vinho branco e canapés muito bem feitos.
Antes de o leilão começar, as peças ficam expostas durante alguns dias.
Foi quando peguei, sob luz intensa, num Castagneto muito brilhante, por excesso de verniz dos conservadores. Estranhei de início as cores. O estilo era igual ao do nosso marinhista famoso, que tinha o hábito de fazer a cor cinza, sempre presente nos céus do quadros a óleo, usando branco com cinza do seu charuto que não abandonava.
Chamei um pintor, profissional que vendia bem, e pedi sua opinião.
Disse que achava ser falso. Um amigo que estava comigo encontrava-se no auge da indignação, conhecia o leiloeiro famoso e afirmou, com o pintor, que ele era incapaz de ter no salão obra falsa.
O Castagneto foi vendido a muito bom preço. Eu estava no leilão, onde Adalgisa Colombo, a ex-Miss Brasil chamava a atenção de todos, pela sua beleza e elegância, acompanhada do marido, conhecido investidor em obras de arte.
Tempos depois, devolvido ao vendedor, com os certificados técnicos de falsidade. Nestes casos, não há discussão. O dinheiro é restituído no ato, acompanhado de algum brinde e solene pedido de desculpas.
Até hoje acho graça da cara dos dois, dizendo que o excesso de vinho estava prejudicando minha visão.
Isto deu uma idéia ótima! Tenho, na minha sala, um Castagneto e um Pancetti. Autênticos, claro, pois eu mesmo fiz ambos!

8 comentários:

Efigênia Coutinho ( Mallemont ) disse...

Adorei ler sua crônica sobre "Castagneto", até porque chega ser pitoresca na verdade.
Sempre gostei das obra de João Batista Castagneto,
e você sabia que ele colaborou com Zeferino da Costa na pintura de painéis para a Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro.Em geral, seus quadros são de pequenas dimensões e dão a impressão, vistos de perto, de serem manchados com a cor, ora aplicada sobre a tela obedecendo a um certo ritmo, ora apresentando uma grafia desordenada e mesmo nervosa, denunciando uma execução rápida.
Efigênia Coutinho

Rita Lavoyer disse...

Jorge, eu tive um professor de latim, que fazia com que os alunos arrancassem os cabelos nos finais de semana para decorarem as declinações.
A única coisa de que eu consigo me lembrar daquelas aulas é de uma frase boa, que cabe muito bem para justificar esta crônica:
" No vinho encontra-se a verdade" mais ou menos assim.
Abração

Marcelo Pirajá Sguassábia disse...

rsrsrsrsrs... genial, episódio engraçadíssimo e autobiográfico, narrado com maestria. Ou melhor, pintado. Abraços, Jorge.

lino disse...

Bela crónica!
Abraço

marcia disse...

Narrou fatos de sua vida com maestria e uma pitada de humor...bjus

cristinasiqueira disse...

Oi Jorge,

Confirmou minhas suspeitas,tens alma plural e múltiplos talentos.Esta veia de detetive alem de criativa é investigativa,daí a natureza dos contos.Esta história é muito boa.

Até mais,gostei ,

beijos,

Cris

Mel Racional disse...

Você é surpreendente! Adorei a história!

Carmem Velloso disse...

Gosto desta crônica, pois sei que é real. E adoro Castagneto, com suas pinturas em tampa de madeira de caixa de charutos.

Beijos,
Carmem