quinta-feira, 1 de março de 2012
O bonde e a literatura (reeditado)
O bonde e a literatura
O bonde nas cidades brasileiras é antigo, era movido por tração animal e foi uma revolução no transporte nas cidades. Vem do tempo do Segundo Império, até que em 1892 foi colocado nos trilhos o primeiro movido a energia elétrica, no Rio de Janeiro.
Causou estranho e curioso reboliço na cidade, chegando mesmo à pena de Machado de Assis. “O que me impressionou, antes da eletricidade, foi o gesto do cocheiro. Os olhos do homem passavam por cima da gente que ia no meu bond. Sentia-se nele a convicção de que inventara não só o bond elétrico, mas a própria eletricidade.” – Crônica para “A Semana”, de 16 de outubro de 1892.
Não foi a única manifestação feita por escritor. Oswald de Andrade também escreveu sobre o veículo. “Eu tinha notícia pelo pretinho Lázaro, filho da cozinheira da minha tia, vinda do Rio, que era muito perigoso este negócio de eletricidade. Quem pusesse os pés nos trilhos ficava grudado e seria esmagado facilmente pelo bonde.” – “O Bonde e a Cidade”.
Insistir nas citações vai cansar. O fato é que havia uma firma tradicional que colocava anúncios dentro dos bondes, e os seus usuários podiam ver os mais diversos produtos festejados em prosa e verso.
Mas segundo muitos, certa ocasião Olavo Bilac estava sem dinheiro. Resolveu fazer uma publicidade para ser posta no bonde, e foi talvez a mais famosa.
“Veja ilustre passageiro
o belo tipo faceiro
que o senhor tem ao seu lado.
No entanto, acredite,
quase morreu de bronquite.
Salvou-a Rhum Creosotado.”
A publicidade teria rendido um bom dinheiro a Bilac, mas há quem afirme que o verso não é dele, mas do poeta Bastos Tigre. Difícil apontar o autor, mas parece que Bastos Tigre teria prestado um favor a Olavo Bilac, dando como sua a poesia de propaganda do Rum Creosotado.
São histórias que fazem parte do Rio de outras épocas, quando namorar pelas ruas da cidade, voltando do cinema às dez da noite, não amedrontava ninguém, os bandidos eram malandros famosos e faziam ponto na Lapa. Todos conhecidos. Miguelzinho, Camisa Preta, Madame Satã...
Ainda existe o bucólico bonde de Santa Teresa. Mas sem o anúncio do Rhum Creosotado...
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14 comentários:
JORGE: Gostei muito, principalmente sobre a curiosidade da propaganda de Olavo Bilac.
Tenho uma para te contar sobre o bonde no Rio de Janeiro, Minha avó vivia em Santa Tereza e o bonde passava com meu futuro avó que diariamente fazia o trajeto. Ela ficava na janela e ele lhe dava thauzinho, até que se conheceram pessoalmente noivaram, casaram e vieram para o Paraná, parte da viagem fizeram de trem, depois de União da Vitória, até Palmas, foram de diligência, puxada por 6 cavalos.
Pode????
Sandra
Meus oito aninhos... que longe ficaram, mas deixaram-me a lembrança do passeio no bonde, em Sampa, já eletrificado e com "reclame" do "Biotônico Fontoura"... "Loção Brilhante"... "Sabonete Gessy"... marketing da época! Recuerdos!!
Abraço, Célia.
Que saudades do meu tempo de colegial no Colégio Bom Conselho em Porto Alegre, quando pegávamos o bonde para ir ao cinema nas tardes de domingo! Era uma festa pegar o bonde na Praça Júlio de Castilhos. Ah! esqueci de dizer que eu era interna, e as internas que cursavam o Clássico ou Científico, hoje Ensino Médio, podiam sair sozinhas, desde que os pais o permitissem. Era uma festa! Uma tarde sozinhas pelo Centro de Porto Alegre. Todas meninas do interior. Mas as freiras fiscalizavam a nossa saída e a nossa volta. Havia horário e, se não fosse cumprido, o domingo seguinte era no colégio. Bons tempos aqueles. Abrs. Mardilê
E existe o bondinho, no qual andei vai fazer 5 anos!
Abraço
Era ótimo pegar o bonde em botafogo e ficar lendo os anúncios até descer no Tabuleiro da Baiana.Bons tempos!...bjus
Eu vou acreditar na versão de que o poema foi emprestado a Olavo Bilca, porque Parnasiano do jeito que ele era, ele preferia às formas fixas do lirismo, especialmente ao soneto. E podemos notar que o poema em questão não possui métrica. O nome do próprio poeta foi modificado para que dele se conseguisse contar as sílabasd>
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac
Acho que dá duodecassílabo. Afff!
Querido Jorge!
Uma bela crônica que trata de memória
e de fatos interessantes ocorridos com grandes escritores e poetas.
Muitos devem lembrar do Rum Creosotado, dos bondes e de como era bom namorar na rua à noite sem perigo de violência!
Parabéns! Beijos da Petuninha.
Esse cartaz do rhum creosotado é antológico. Como redator publicitário, não poderia deixar de conhecer esse free lance de Bilac (até onde sei, a autoria é dele mesmo). Obrigado pela carona no seu bonde, Jorge. Abraços.
Jorjão,
Antológica lembrança! Bravo! Bravo!
Nas minhas andanças poéticas, volta e meia, me remeto aos saudosos bondes e toda sua carreira folclórica para um carioca: "Inda prefiro os sacros joelhos das normalistas, nos bondes da minha infância, aos recortes vulgares dos "cofrinhos" ou biquínis que não deixam espaços aos sonhos".
E vou, carinhosamente, discordar de nosso amigo Marcelo. Em minhas andanças publicitárias, pude trabalhar com um descendente de Bastos Tigre que, na época, após calorosa discussão na agência, trouxe de casa documentos de família, provando a autoria de seu famoso ancestral, do tal "reclame".
Quanto a crônica,mais uma bola dentro, parceirinho!
Meu carinho,
Anderson Fabiano
Professor Jorge,parece que o Bilac era um intelectual que realmente por encomenda criava alguns versos,prosas ou até mesmo jingles para complementar a sua renda,mostrando que poucos sobreviviam da pura cultura,tinham que ter uma profissão paralela,não diferente dos dias atuais,Bilac era um marqueteiro.Tem uma que atribuída a ele: Vende-se : Olavo Bilac
O dono de um pequeno comércio, amigo do grande poeta Olavo Bilac, certo dia abordando-o na rua disse:
- Sr. Bilac, estou precisando vender o meu sítio que o senhor tão bem conhece. Será que poderia redigir um anúncio para o jornal?
O poeta sempre prestativo, pegando lápis e papel, escreveu:
“Vende-se encantadora propriedade onde cantam os pássaros ao amanhecer, no extenso arvoredo, cortado por cristalinas e marejantes águas de um lindo ribeirão. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes na varanda”.
Alguns meses depois, Olavo Bilac encontra-se com o comerciante e interroga-lhe se já havia vendido o sítio.
- Nem pensei mais nisso, disse o homem. Depois que li o anúncio é que percebi a maravilha que tinha!
Envio um texto meu para os leitores do seu blog,acredito que pelo padrão todos são líderes nas suas atividades.
Texto meu sobre os líderes da atualidade.
22 de fev de 2012
CORAÇÃO SOB PRESSÃO
Estudo realizado por uma operadora de Saúde com 15.230 líderes brasileiros chegou à seguinte conclusão.
96% dos líderes comem mal, 44% se exercitam pouco e 43% estão gordos
A conseqüência é o desequilíbrio na saúde e a utilização de uma série de drogas para corrigir estas anormalidades em humanos abaixo dos 45 anos.
Das drogas utilizadas o mais freqüente é o regulador do colesterol(Crestol) e depois o ansiolítico Rivotril. Refere também que 1/3 das drogas utilizadas são para corrigir problemas cardíacos e hipertensão arterial.
Para lidar com o stress o ser humano produz adrenalina e cortisol com o intuito de responder às exigências do organismo naquele momento,estes hormônios atuam acelerando os batimentos cardíacos e elevando a pressão arterial deixando o homem atento e preparado para as decisões. Sanado o problema os hormônios voltam ao normal,acontece que o líder vive em eterna ameaça e pronto para atuar a qualquer momento,para isso produz esta descarga hormonal com mais freqüência,tornando crônicos estes momentos. Produz mais colesterol,triglicérides,acelera o coração , eleva a pressão arterial e obstrui os vasos cardíacos,propiciando o infarto agudo do miocárdio.
A vida sedentária,o esportista de fim de semana e os eternos tomadores de drogas para o emagrecimento são alvos fácies e freqüentes de doenças cardíacas e hipertensivas.
Iderval Reginaldo Tenório
O blog é cultural
22.02.2012
ACESSE E DIVULGUE O BLOG CULTURAL DO DR IDERVAL TENÓRIO
http://www.iderval.blogspot.com
De fato Bilac tinha o dom para publicidade kkkk!
Beijão
Beleza, Jorge! Lembro-me que publicamos em 2009, nos inícios das andanças pelos blogues. Fez sucesso! Abração. Parabéns pelo novo livro.
Nossa procurei este verso na internet,porque minha mãe recitava-o e lembrava seu tempo de criança quando tomava o bonde.saudades de minha mãe. beijos iza
Ernesto de Souza era farmacêutico do Colégio Militar no fim do século XIX. Os problemas pulmonares eram constantes àquela época e ele criou a fórmula do Rhum Creosotado, que lhe rendeu uma bela fortuna. A mansão do Soberbo no Alto da Boa Vista foi por ele construída. Teve um filho (Sebastião de Souza), aluno do Colégio Militar e oficial de Marinha, além de bom escritor. Cita-se como dele, ainda jovem, o "reclame" do Rhum Creosotado, que incorporava um erro gramatical que foi ignorado aqui por todos os que escreveram a respeito. Dizia o escrito: "... e no entretanto acredite". Para um iniciante isto poderia ser apenas uma impropriedade no trato da língua, coisa inadmissível em Bastos Tigre e mais ainda em Bilac. Mais velho Sebastião de Souza adotou o pseudônimo de Gastão Penalva. Ambos, pai e filho, ganharam ruas com os seus nomes, no bairro do Andaraí, sendo o único caso em que a rua com o nome do filho começa na rua com o nome do pai. Gastão Penalva pertenceu à Academia Brasileira de Letras, na década de 1920.
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