Passado? Nem
tanto. Velhos hábitos do povo ainda são
cultivados por muita gente.
Em muitos lugares ainda é possível encontrar um fogão e
forno a lenha. Uma panela de barro,
impregnada de cheiros. É ela que faz o
feijão, cujo gosto não se compara com o da cozinha atual. Madrugada e o feijão era catado, panela
d’água no fogo, coador com pó de café esperando a hora de ser mexido com uma
colher de pau. Cigarro de palha, na
maioria das vezes.
Eu mesmo já vivi isso, numa fazenda que em linha reta não
está afastada mais do que cem quilômetros do Rio de Janeiro. Aqui mesmo ainda havia muita conversa fiada
nas cadeiras colocadas nas calçadas, onde não faltava o cigarro e o café. Conversa animada, terminava pouco antes das
dez da noite, dia seguinte o trabalho esperava.
Fim de semana era diferente. Uma
cachaça das boas passava e era servida nos martelos, copos de fundo muito
grosso, daí o nome.
Algum
violeiro cantava uma moda, a fofoca política alvoroçava a conversa, a broa de
fubá nunca faltava. Não tinha hora para
acabar, só a criançada é que dormia mais cedo.
Prefeito, padre e juiz eram alvos de ataques verbais, coisa de pouca
monta, só para não perder o assunto.
“Dizem que padre Augusto anda ciscando pra cima de Glorinha”. Que maldade, o padre era um santo. O prefeito sempre acusado de não tomar
medidas que afetavam a cidade, afinal a ponte não estava consertada desde a
última enchente. Não escapava nem o mau
gosto da gravata do juiz.
Café
fresco servido pelas comadres, uma disputa feroz, todas queriam fazer o melhor,
não esquecendo de torrar mais um pouco o pó fresquinho, aroma feiticeiro. E toca a fumar, palha não tinha não, nem
filtro, moda que veio depois. Até o
médico fumava feito um condenado!
Vai
fazer isto hoje? Onde? E o bandido hoje não usa mais o velho
punhal, vem logo de arma longa. Acabou,
é tempo passado.
14 comentários:
Como não ter saudade desse tempo, Jorge? Eu ainda peguei um pouco disso tudo, e não troco estas lembranças por tempo equivalente de futuro a mais. Ainda mais sabendo como caminham as coisas...
Abraços.
Quanta saudade, pra quem viveu neste tempo com adoráveis recordações.
Com sabor de carinho, amor e afeição.
Vida simples ao mesmo tempo refinada, onde era feito tudo com bom gosto , mas também com simplicidade.
Parabéns Jorge por nos fazer relembrar de um tempo que não volta mais, agora é só recordar...
Sucesso sempre!
Abraço!
Enquanto lia cantarolei Chico com sua Gente Humilde...
"Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece
Que acontece de repente
Como um desejo de eu viver
Sem me notar..."
Fiz parte da criançada que se esbaldava nas ruas em incontáveis brincadeiras... É, Jorge... um bom tempo esse... saudosismo mesmo...
Abraço
Boas lembranças de tempos idos. Jorge!
Como é gratificante poder recordar, ter vivenciado
isso tudo. Ainda sinto o cheiro e sabor das refeições,
tal qual descrita por você, até dos cigarros de palha que eu detestava, mas era obrigada a sentir, pois fazia
parte do ambiente. Meu pai fazia uso deles.
Enfim o tempo passou, as imagens permanecem na memória!
Adorei a crônica!
Abraços
Nadir
Eu brinquei muito tempo na rua, ia dormir com os pés sujos porque não tinha parede pintada pra gente sujar, era tábua mesmo. Pão com manteiga era o nosso lanche da época, ainda é pela manhã porque não fico sem. Pula corda, pula-pau, queimada, tudo isso na rua, à noite, sem medo do homem do saco , Rita lavoyer
Belo texto, marujo! Desses que qualquer sujeito transado em anos, vivido, acaba revivendo. Bom de ler tomando um cafezinho de coador, depois duma comidinha caseira regada a cachaça de pote...
Forte abraço!
Só quem viveu sabe o significado da palavra "saudade". Adorei ler, e reviver , mesmo quando ainda criança esses tempos idos na infância!
Valeu,
Efigenia Coutinho
Hoje a infância é virtual...Que pena
o que os pais fazem com suas crianças
Bjus
Pois é, Jorge. Sabe, eu bem que gostaria de ter um fogão desses!
É tempo passado, mas que graças a deus pode ficar em nossa memória, pois isso ladrão nenhum rouba.
Como eu gostava quando minha mãe comprava esse café moído na hora, no armazém do Sr. Joaquim(português).
Que saudades e obrigada Jorge por nos trazer toda essa linda lembrança.
Beijos e Parabéns por tudo que tu escreves.
*Deus
Vivi até os 15 anos numa cidade pequena, no interior de São Paulo, prezado Jorge. Tudo o que você descreve são lembranças boas que também tenho. Eu acho que o homem perdeu o rumo e vive artificialmente coisas e situações que não trazem e nem lhe trarão prazer. abraços.
Lembro que todas as casas de Alumínio/SP de propriedade do sr. Antonio Ermírio de Moraes e para uso dos seus funcionários existia um fogão a lenha, amava minha infância e a cidade pelas coisas boas que um único homem ofereceu aos seus funcionários. Quando penso nos atuais como Eike, Abílio, sinto tanto nojo
Beleza de tema, Jorge. Não vivi este tempo, mas ouço que ele existe no interior.
Ficou muito atraente, e a imagem é muito sugestiva: um coreto de parque.
Bjs. Carmem
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