Difícil esquecer.
Aliás, não é difícil, é impossível.
Gente que entra, muitas vezes sem pedir licença, na alma
de outros. Repare, mire, veja: nunca são
feias ou inexpressivas.
Carnaval. Conversa
sem maiores implicações ou responsabilidades.
A cerveja especial bem gelada, e os petiscos deliciosos. O bar, no Rio, é famoso até hoje por causa
disso. Limpo, bem iluminado, continua
ser local para encontros entre conhecidos íntimos, e desconhecidos que pretendem
ver um a alma do outro. Tarefa difícil.
Linda, lindíssima.
Vestia branco, o que ressaltava sua pele dourada e seus olhos de mel.
A conversa corria mansa, num quiosque de praia famosa do
Rio. Já haviam tomado juntos, boas
talagadas do manjar. Linda, simplesmente linda a moca doirada.
— Você me encanta!
— Ora, o sentimento é recíproco.
Ela era uma deusa jovem, ele poderia, talvez, ser seu
pai.
— Não vê nossas diferenças?
— Que diferenças? Sou uma mulher formada, não enxerga?
Situação delicada.
Um querendo a outra, casal de mulher jovem e homem nem tanto. Ah!
Famosos. O que pode tornar tudo
muito mais fácil, ou escandalosamente mais difícil. O mais delicado era seu corpo. Não só o rosto lindo, mas suas formas
perfeitas e atraentes. Elegantes e educados.
Facilita tudo! Boas uniões
necessitam de pares parecidos; não iguais, mas parecidos. Educação,
comportamento. As disparidades servem
para afastar e o tempo mostra isso.
Deram um mergulho e, mãos dadas foram para casa.
— Não vou tomar banho com você. Ainda tomo um uísque.
— Vai, burrão!
Assim perde a oportunidade de me agarrar nua.
— Ora, o dia não acabou.
Começou a escurecer agora. Está
com ideia de sair, comer fora?
— Não. Tem muita
coisa na geladeira, a começar pela salada de grão-de-bico. E eu quero é comer você — gargalhou quando
disse.
Sabe, é verdade, tem muita gente que se ilude com
isso. Falta de maturidade, experiência e
observação. O homem pensa que manda, que
ele comeu, a palavra parece ordinária, tirada de texto vagabundo. Nada, isto não existe mais, é comeu mesmo. Continuando: ele não percebe que a escolha
não é só sua, mulheres são voluntariosas, é característica delas, escolhem seus
homens e não são comidas por eles, comem também, muitas vezes com muito mais vontade,
um furor mesmo.
Estavam limpos e perfumados do sabonete de
qualidade. Uísque não combina com
grão-de-bico, mas era Carnaval, estavam preparados, cerveja não faltava na
geladeira grande, sem contar as acondicionadas nas caixinhas de papelão.
Carnaval... Enquanto a segurava nua, maravilhosamente nua
e desejosa, lembrou como tudo começara.
Não a conhecia bem, era um sábado de Carnaval e levou o convite direto:
— Vamos para a casa de meus pais em Caxambu?
Ele não foi, não poderia ir, era casado com outra. Um casamento doente, errado, mas o convite
não poderia ser aceito.
Dizem, ninguém sabe se é verdade, que tudo está
escrito. O maktub dos árabes é um
mistério. O mais interessante é que até
hoje, nunca ficaram uma só vez em Caxambu, origem de tudo.
14 comentários:
Dizia meu vô jagunço: pra burro véi, capim novo! Você respondeu, meu caro Mestre, a pergunta formulada dias atrás, sobre as Musas...
Pondo de lado o fato de que você escreve maravilhosamente, estou perplexa com o cara, com a moça, com as coisas como são. Compreende? Pois é...
Jorge, talvez eu volte depois... :)
Beijos!!!
O "vêio" com a moça, esse viagra permanente que não foge da imaginação do turco, com os "destilados" de sempre, um pouco sem gosto com o "grão de bico",pobre em sabor, não ajudam muito, só botam para baixo,bota baixo nisso, unidos ao sonho de alçar voos maiores, pior, sem asas para tanto, coisa de "vêio". Mas existem voos possíveis, é só sair das conjecturasm e clausuras severas, mesmo ficcionais, e entrar na realidade, respirar vida, difícil, concedo que seja, depois do hábito, que segundo Shakespeare, é segunda natureza, mas caminhar com voos compatíveis, ao menos, voos felizes, extremamente felizes, é só abrir o espírito para os espaços acessíveis. Os "vêios" são difíceis, turrões e surrealistas, meio burros, embarcados, digamos, numa babaquice histórica, trazida de outros tempos, tipo sequela, um tanto psicóticos como o velho desse do conto, coitado. Dá pena.... E olha que tem velho que dá sorte com moça, ganha bola delas, cantada mesmo,mas dispensa, por dignidade e diferença de geração. Abraço.Celso
Quem sabe o incesto dele e dela, tornem este amor romantico mais picante,Jorge.
Gostei, muito bom.
Meu abraço.
Suzana.
Carnaval, aval da carne. Uma maturada e outra baby-beef, no caso! Muito bom, Jorge.
Haja apetite... Cardápio ótimo para se degustar... Difícil será a digestão, com certeza!
Abraço.
No carnaval até o impossível pode acontecer...Bjus
Há farta literatura sua sobre este assunto no Recanto, Jorge.
Habilidosamente, nunca é possível saber quem são os protagonistas. Você escreve; o leitor interpreta como bem quiser.
Ficou excelente!
Beijo
Carmem
As pessoas buscam, o tempo todo, duas coisas efêmeras: juventude e beleza física. Porém, lá no fundo, o que a grande parte delas quer realmente é amar e ser amada.Dá para entender... Gosto muito do que escreve. Continue expondo a alma humana.Beijos, meu amigo!
Conto real, tudo é possível em se tratando de relacionamentos desse tipo. Estava na cara, desde o começo...
Escreveria o mesmo comentário da Célia, assino embaixo.
Abraços, Jorge!
Ai dos poetas se não fosse a mágica insana da criação... sempre gosto das soluções literárias paridas pela insanidade consentida...
Meu carinho, parceiro,
Anderson Fabiano
Fez aflorar toda a volúpia e sensualidade que talvez já estivessem um tanto adormecidas,hem Jorge?
Pois é, Jorge...
Há carnaval! Promessas frenéticas e sensações mirabolantes que nos fazem perder o juízo!!!
Belo conto!
Parabéns como sempre inspiração mil!!!
Beijo Jorge.
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