Um lugar perigoso, lá pelas bandas do cais do porto, mas
afastado do Primeiro Distrito Naval, onde o policiamento, feito por fuzileiros
treinados e competentes, não admite badernas.
— Porra, seu idiota, não é o que está pensando.
— Mas eu não disse nada!
— Está pensando, não está dizendo!
— Adivinha pensamentos, é?
— Adivinho nada.
Está colocando esta pistola em posição de saque rápido por qual motivo?
— Cara, nunca se sabe.
Muita gente já passou desta para melhor, ou pior, sei lá o raio que
seja, por causa de bobeira.
— E você está pensando que pode levar a pior por causa da
trapaça que fez, claro.
— Fizemos, cara, fizemos.
O bar não era sujo, nem elegante. Os tipos não eram comuns. Ambos de tênis e jeans, camisas folgadas para
esconder as armas, naturalmente. Amigos
de longa data, davam golpes juntos.
Mudavam de atividade, para não ficarem visados. Gostavam do local. Seguro, sem estes tipos vagabundos que
perambulam pelas cidades e vão fazendo o que bem querem. A bebida, chope gelado. Algumas vezes vinha um destilado, para subir
a pressão. Steinhaeger, de preferência.
O prato especial com amendoim e castanhas de caju ainda estava
razoavelmente cheio.
— Estão demorando.
— Calma. Este negócio
é bem mais perigoso. Lidar com
traficante é foda. São desconfiados e
matam assim que percebem o perigo.
— Estou com as mãos suadas.
— Nervoso, é comum.
Eu também fico.
— Mas nunca lidamos com estes tipos, Fernando.
— Eu quero que eles se fodam. Vendem pó e craque. Defuntos baratos.
— Baratos? Os
caras tem dinheiro, muito dinheiro.
Estão acostumados com altos negócios.
— Um deles é o machão daquela que gosta de se exibir.
— Todas gostam, ela apenas é mais atrevida.
— Apenas?
Perceberam que os compradores haviam chegado. Dois tipos nada interessantes. A grossa camisa de lã de um deles sugeria ou
duas armas pesadas, ou doença mesmo.
Eram armas, conforme depois foi verificado.
Não conversaram muito tempo. Uma pequena mala foi passada aos visitantes,
que se negaram a tomar o chope que estava sendo servido. Um envelope grosso, contendo elevada quantia
em dólares, foi trocado pela maleta.
Não, não saíram tiros, socos ou facadas. Os mastodontes do Corpo de Fuzileiros Navais
agiram como relógios de alta precisão.
Os visitantes estavam errados.
Fizeram negócio com a inteligência de um órgão militar, que não
interessa dizer qual.
10 comentários:
Sim, errou. Mas a crônica policial foi certeira. Abraços, Jorge.
Escrita forte, que não é seu hábito, caríssimo Jorge. A impressão que tenho é que estou lendo Rubem Fonseca, sempre muito duro no cotidiano das cidades.
Abraço,
Carmem
Jorge, como se diz nas periferias vacilou, dançou! Parabéns!
Interessante tua história policial,Jorge.Tens muito talento para criar os ambientes
onde tuas histórias se passam.Parabens!
Saudações.
Muito bom, Jorge.
Escrita forte sim, como disse Carmem Velloso. Mas acho que é seu hábito...
Nossa, essa "inteligência" do órgão militar é mesmo muito inteligente. Silenciosa e certeira...
Eu, heim!
História forte, sim, mas esse tipo de texto, contar como?
Muito real e é preciso usar a linguagem deles...caso contrário fica descaracterizado.
Mais um episódio tipo... 'contando a vida como ela é'.
Abraços, amigo Jorge!
Fui lendo e construindo todo o cenário. Fácil viajar na tua escrita. Cheguei a ficar apreensiva..rs.
Errou, mas você acertou em cheio na crônica...
Conto com tema atual. Personagens bem montados, verossímeis. Abrs
Postar um comentário