Estamos em tempo onde a brincadeira de desafiar o poder
causa desastre.
No alpendre de um lugar espaçoso, e fico por aqui,
alpendre grande, madeira do telhado muito bem assentado, telhas coloniais e pé direito bem alto, alguns homens de idade
pouco mais do que jovem, conversavam mostrando uma dose de apreensão.
— E tem gente
qualificada para isto?
— Claro! Se não tivesse não estaríamos aqui perdendo
tempo.
— O comando maior
sabe disso? — Foi a vez de um bem mais
novo.
— Saber,
sabe. Mas muitos não acreditam. O comandante da Brigada Paraquedista, por
exemplo, sabe e pela sua cara, não desaprova.
Outros não acreditam que possa ser executado o plano, com sucesso. Não sabem que tem gente muito grande por trás
de tudo isso.
— Quem?
— Nada de nomes,
por enquanto. Mas a possibilidade de
êxito é muito grande. Como a de
fracasso, caso alguém deixe que isso saia do círculo.
— Pode ser mais
claro, comandante?
— Vou ser o mais
objetivo possível.
Há tempos certos dirigentes estavam crescendo muito para
cima de altas autoridades civis. Juízes,
promotores, procuradores da República e agentes da Polícia Federal, quase
exclusivamente delegados, eram vítimas de um ex-presidente irresponsável,
alcoólatra e apresentando sinais de esquizofrenia paranóide, mostrada pelos acessos de mania de grandeza.
Seus seguidores mais próximos estavam contaminados pelo
mesmo mal, o que tornava o fato bem grave.
Estavam armando uma revolução, e contra ela, todos ali sabiam, só a
violência séria, determinada e fatal. Os
estragos causados pelo Estado Islâmico, que de estado não tem nada, são apenas
facínoras fanáticos, mostra bem do que estamos falando.
— E a gente faz
como manda o figurino?
— Exatamente
igual.
— Perigos?
— Os de
sempre. Olhe bem, se não quiser
participar, está com medo, pula fora!
Ainda é tempo.
A afirmação do comandante, nitidamente aquele homem dava
as ordens, fez o mais novo colocar mais água gelada no seu copo alto. Sim, eles bebiam destilados, nessas ocasiões,
mas em doses moderadas, bastante moderadas.
A reunião não era festiva, onde se pode perder o raciocínio exato por
causa do álcool.
— Mas não se vai
repetir 64.
— Mas que 64,
rapaz! Não queremos o poder, fora desta
ideia, o objetivo é não permitir que estes safados voltem a esculhambar o que
já está para mais de arrebentado!
Um grupo de patriotas.
Verdade que haveria sangue derramado, pelo menos de quatro homens. Reação?
Nenhuma, salvo alguns eventuais modestos protestos de rua. Mas sem nenhum mais conhecido. O Serviço de Informações mata. Não sabia?
Pois saiba. Aqui e em qualquer
lugar do mundo.
11 comentários:
Macaco velho não se encumbuca, e cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça... 'Tá certo, Mestre Jorge! Forte abraço!
Se esse é o conselho... "Melhor não brincar"... estou saindo do playground... Até porque, já brinquei em outras décadas... Era bem mais ousada!
Abraço.
Pois é, Jorge, pegando o gancho da amiga Célia, não dá para entender muito bem a conjugação do verbo brincar... Tudo está num emaranhado só, está difícil de conjugar qualquer coisa em qualquer tempo nesse país. Mas é de bom tom deixarmos, um tempo, nossas 'barbas de molho' (rs)... e alerta máximo, embora estejamos um tanto cansados.
Ótimo texto, meu amigo!
Um beijo.
Melhor ir devagar e com cuidado.
Geralmente os jovens se entusiasmam em consertar o mundo. São muito ideaistas. É assim que muitos morrem e não se resolvem os problemas nacionais.
PRUDÊNCIA E REFLEXÃO são virtudes necessárias em qualquer circunstância. E PENSAR E ESTUDAR MUITO a historia de nosso país e de outros também.
ABRAÇO.
Só quem viveu aqueles tempos de exceção, sabe porque perdemos o sono quando se fala de retorno dos "verdes oliva".
E quem conserva cicatrizes na alma então...
ARGH!
Jorge,nesse momento, espero que algo ou alguém tenha uma atitude sensata em relação a tudo que está ocorrendo em nosso Brasil que há muito está insone em seu berço...B
jus
Muita ficção, excelente como de costume, e o "alcóolatra contumaz" continua abusando das autoridades, é notícia diária, Jorge.
O resto não conheço. E se conhecesse, permaneceria calada.
Beijo,
Carmem
:) EXCELENTE
Uma ficção real. Irreal é essa justiça que impera neste parquinho e finge não perceber campanha antecipada para 2018 e o sujeito já cantando vitória.
Nasci uma semana antes de 31 de março de 64 e já fui crítico feroz dos militares. Hoje tenho outra visão. O extremismo de direta é amargo, mas o de esquerda talvez seja pior. Abraços, Jorge.
A ficção parece realidade! Gostei muito!
Postar um comentário