quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Um conto de Natal


 

                                             Um conto de Natal

 

            Não estou fazendo nada mais do que transcrevendo história que ouço há muitos, muitos anos.

            Dizem que faz muito tempo, um menino brincava com o barro.  Fazia aves, pássaros diversos.  Eram toscos; estava aprendendo.

            Mas gostava do que fazia.  Melhorava seu artesanato visivelmente, enquanto o barro úmido era moldado com carinho e trabalho cuidadoso.

            Gostava das suas aves.  A técnica estava sendo apurada e os pássaros, a cada dia que passava, mais ficavam assemelhados com os verdadeiros.

            Determinada manhã, foi brincar e trabalhar outra vez.  Retirou os que mais gostava, estavam muito bem feitos e secos.  Fez mais alguns e gostou do resultado.

            Feliz e contente gostou muito do seu trabalho.

            Na sua doce inocência infantil, bateu palmas.  Estava alegre.

            Os pássaros saíram voando...

 

            Esta foi a história que eu ouvia.  Era pequeno também.  Hoje ouço tiros, gritos, correrias e palavrões, principalmente durante os jogos de futebol.

            Sinto a fumaça que os ônibus e carros soltam, o barulho que fazem.  O calor e o abafado que não existiam há trinta anos.  Vejo os drogados.

            É certo que o progresso foi muito, felizmente.  Em todas as áreas do conhecimento e do viver.

            Mas verifico, com segurança, que o bem foi acompanhado pelo mal.

            Lastimável, isso.  Mas com o Natal, renascem nossas esperanças.  

            Feliz Natal!


Imagem: "A última ceia", de Salvador Dali

 

12 comentários:

Marcelo Pirajá Sguassábia disse...

Singelo e filosófico o seu conto, Jorge. Feliz Natal, amigo!

marcia disse...

Querido Jorge,tem razão quando diz que as coisas mudaram.Umas para melhor e inúmeras, para pior.E a vida continua.Que a paz esteja em sua jornada .Cuide-se. Bjus

Elvira Carvalho disse...

As nossas esperanças sempre renascem~, ano após ano, pois quando elas morrerem o que nos dará forças para continuar a viver?
Gostei deste seu conto.
Abraço e saúde

Caio Martins disse...

Boa mudança de ano, Jorge! Este foi de lascar, mas aguentamos com raça. Forte abraço!

Tais Luso de Carvalho disse...

Querido amigo Jorge, como a ingenuidade era linda!
Como você diz, hoje é diferente, sim, temos agressões, palavrões e balas perdidas, mas o mês de Dezembro, apesar da pandemia, é mágico! Podemos ver os sentimentos mais fraternos, mais belos.
Desejo a você e sua família um lindo mês de Dezembro e um ótimo Natal!
Beijo e saúde, amigo!!!

Ana Freire disse...

Adorei o conto, Jorge!
É verdade! O progresso foi chegando... e com ele... altos preços a pagar!... Inclusivé... a crescente capacidade das crianças... para deixarem de brincar, interagir e socializar... presas que estão aos seus gadgets tecnológicos...
O mundo mudou com o progresso... mas a felicidade colectiva... creio que regrediu...
De qualquer forma, em Dezembro, sempre se respira uma atmosfera diferente... de esperança e renovação... iludamo-nos pelo menos, com a possibilidade de que tudo pode melhorar algum dia... antes de voltarmos para a fumaça tóxica, das nossas cinzentas realidades... apesar de tudo, Dezembro é um mês que gostamos de olhar, através do espírito das crianças que fomos... que essa magia não se perca nunca... pois aos olhos das crianças... não há impossíveis!
Beijinhos, Jorge! Feliz Natal, com saúde e paz... o resto... deixemos para o livro arbítrio do Universo... que ora nos tira... ora nos traz!...
Ana

Elvira Carvalho disse...

Sei que este ano não foi fácil para ninguém, apesar disso que o Natal seja festejado com Amor, Saúde e Paz.
Abraço e saúde

Luciah Lopez disse...

São as histórias que ouvíamos e guardamos tão profunda e secretamente dentro de nós, que hoje nos fazem parar e pensar se vale a pena ter esperanças. Abraço ____LL

Carmem Velloso disse...

Encantada, Jorge!
Feliz 2021,
Carmem, beijo.

Jorge Sader Filho disse...

Obrigado aos os amigos, ao longo do ano. Feliz 2021.

Jorge Sader Filho disse...

O último dia do ano de 2020, considerado um dos mais amaldiçoados de todos os tempos. O blog é meu, concordo, mas não tenho medo do futuro. Feliz 2021 a todos, comentaristas ou não.
Jorge Sader Filho. Obrigado, muito obrigado!!

Ana Freire disse...

Passando a deixar um abraço, e votos de um bem melhor 2021! Com saúde, e perspetivas bem mais animadoras, para todos nós e para o mundo!...
Tudo de bom!
Ana