sexta-feira, 24 de julho de 2009

A realidade do tempo

A persistência da memória / Salvador Dali











É muito comum encontrarmos pessoas que gostam de falar dos tempos.
A maioria sempre se refere ao tempo passado e lastima o presente. Compreende-se. O mundo atual é o da corrida contra o relógio, corrida contra o tempo. Todos têm a obrigação de serem vencedores em alguma arte ou ofício. Os saudosistas lembram o tempo do viver mais descansado, que é o certo, dos costumes da época mais rígida, que evitava um comportamento irregular, como o consumo de drogas pelos jovens, por exemplo. A vida era bem mais calma, é uma verdade. Mas tudo tem seu lado bom e o outro negativo. Nos tempos passados, um mal-estar cardíaco era uma ameaça quase fatal. Hoje coloca-se um extensor numa passagem obstruída e dificilmente a ameaça morte persiste.
Continuar com uma lista de exemplos cansa. Mas podemos notar que a vida de trinta, quarenta anos passados, seria bem melhor se contasse com os recursos de hoje. Não falo da televisão de plasma, que apresenta sempre as mesmas coisas. Levar cadeiras para calçadas e manter longas conversas, sempre com um cafezinho, licor caseiro e falar, geralmente mal, da vida dos outros, era bem mais prosaico, sem dúvida. Não vi isto, salvo em lugares do interior, que costumam guardar seus hábitos.
Depois do café, acendiam cigarros com o fumo mal lavado. Ora, é claro que todos fumavam, inclusive o médico. E tome conversa fiada, contavam-se lorotas enquanto as estrelas davam beleza ao lugar.
Hoje a poluição das grandes cidades ofusca o brilho de estrelas mais fracas, não há cadeiras nas calçadas – imagine! – e o cigarro não faz parte dos hábitos modernos, felizmente.
Os tempos mudaram, não para pior. Mudaram porque esta é a evolução da Vida, que não sabemos onde vai parar. Isto é bom. Viver o momento do aqui e agora, aguardando as surpresas futuras, agradáveis e não. É bom lembrar que Bem e mal andam sempre juntos.

5 comentários:

CELSO PANZA disse...

"É bom lembrar que Bem e mal andam sempre juntos."
Esse aforismo lançado me põe em uma encruzilhada. LEMBRA O SUFISMO, UM MOVIMENTO MUÇULMANO QUE CRÊ NESSA POSSIBILIDADE NA QUAL NÃO CREIO. AO MEU SENTIR UM EXCLUE O OUTRO, ESTAMOS NO TERRENO DALIBERDADE, O VELHO E BÍBLICO LIVRE ARBÍTRIO QUE NOS FEZ TRABALHAR, TORNOU ABEL E SEUS DESCENDENTES ERRANTES, E SONEGOU A PAZ DA HUMANIDADE.
Mas vamos ao centro da crônica, ao passado,tudo muito bem reportado por você sobre o acontecido, o que já faz história, aquela nostalgia que empolga, mas não faz celebração na digressão, não pede retorno.

Havia uma certa tristeza como mostram as cadeiras nas calçadas, leia-se, falta do que fazer, um simples bar, mais modernoso, trazia comoção, celebração, verdadeira festa de copa do mundo de futebol. Só para lembrar um evento desse quilate, do nosso tempo, o SIMBAD, na esquina da Otávio Carneiro, lembra (?). Hoje seria uma banalidade nas mil alternativas para opção. É isso meu amigo, acho que respondi suas indagações. Meu abraço fraterno. Celso Panza

Sio Poeta disse...

Jorge, seu texto está irrepeensível. Você tem o dom de dar o seu recado usando um estilo direto, sem muitas palavras. Orgulho-me de ter começado contigo nossa antigas respostas aos fóruns, que infelizmente acabaram.
Fico feliz! Bom dia, querido amigo.
Sio

Caio Martins disse...

Grande Jorge,

talvez, um de seus textos mais simples e exatos, como se cronometrados a métrica e ritmo das palavras, e o conteúdo libertário correspondendo. "Escrever é coisa séria", disse-me um amigo, certa vez. Faz juz a essa equação. Parabéns.

Pitter Lucena disse...

Caro Sader, excelente sua escrita e ponto de vista sobre as mudanças. A vida muda, tudo muda, inclusive nós. abraço.

Tania Montandon disse...

Muito interessante, adoro o tema e ele nunca se esgota. Seu estilo passa uma tranquilidade que parece ate meio fora do nosso tempo quando ninguem mais tem tempo... Ensina que tbm o tempo é relativo e depende do que priorizamos. Será que é realmente tempo o que nos falta?!

beijos