Soldado
Coisa Ruim é como chamam o capitão Callado.
Saído da Aman moço, aos 23 anos de idade, chegou cedo ao oficialato intermediário. Se era ou não parente de Antonio Callado, autor de uma das obras de vulto da literatura brasileira, “Quarup”, nem ele mesmo sabia. Mas tinha conhecimento do apelido posto, Coisa Ruim.
Havia motivos. O capitão era instrutor de combate armado e desarmado de forças especiais do Exército. Conhecia as mais variadas formas de luta; além de faixa preta de jiu-jítsu, gostava de uma pancadaria selvagem, arruaça mesmo, briga de valentões. Conta-se que um pontapé dele, deste que é dado com a sola, era um coice de cinco mulas.
O capitão Callado era homem ideal para treinar seus colegas e subordinados. O comando, logo que percebeu isto, aproveitou-o mandando como instrutor de combate não convencional, mas muito usado em todas as tropas do mundo.
Coisa Ruim não era do tipo forte malhado. Seu corpo, muito musculoso e definido, não era como os tipos idiotas que vemos hoje. Verdadeiros tanques de guerra, mas incapazes de outra coisa que não seja musculação.
Ensinava bem; seus alunos gostavam dele, mas sabiam que um leve desleixo poderia ter sérias conseqüências. O homem era bravo demais. E brabo também.
Um deles contou-me uma das suas proezas. Coisa Ruim era também famoso pelas suas atitudes que autorizam o seu apelido. Gostava de ensinar o perigo de alguém armado aproximar-se muito do inimigo, ou vítima. Se a arma estivesse muito perto, e ao alcance da sua mão, o oponente estava morto. A defesa não é difícil, mas necessita muito sangue frio e coragem.
Não se olha para o adversário; este ato vai denunciar o contra-ataque. Não faz diferença se a arma é revólver engatilhado, pistola idem, e rifle também. Um gesto rápido das mãos do agredido desvia a arma e quebra o dedo indicador de quem a aponta. Eu mesmo já fiz a experiência repetidas vezes. Nunca deu errado!
Muitos duvidam. Perguntem a um professor de lutas, e esperem a resposta. Se o atacante estiver próximo das suas mãos, é dedo quebrado, arma tomada e risco de vida, dependendo do oponente.
O capitão Callado, o Coisa Ruim, morava sozinho num apartamento de dois quartos, na Rua Siqueira Campos, Copacabana, Rio de Janeiro.
Numa fria madrugada chuvosa, uma patrulha da PM encontrou o corpo de um conhecido assaltante da área. Tinha só um tiro, na nuca. Naquela noite, a esta hora, Callado estava tomando uns chopes com amigos.
Dormiu feito um anjinho, acordou, fez o seu café e rumou para o Centro de Instrução.
Passados alguns meses, Callado sumiu. O Coisa Ruim, assim como aparece, some!
Dizem, eu não sei até onde isto é verdade, que a valentia e o sangue frio dele terminaram com o casamento de uma linda moça. Cabelos dourados, olhos de mel suplicando sexo.
Como o Bem e o mal estão sempre presentes, não sei o que aconteceu.
Mas que o capitão deu aquele tiro de 380 milímetros, a arma do assaltante, deu...
3 comentários:
É ficção mesmo, ou caso ocorrido e maquiado?
Excelente conto, a ficção se confunde com a realidade. Vim até este blog por indicação sua, no Vote Brasil. Não me arrependi. Também me chamo Callado, mas sou pacífico.
Abraços.
Marcelo Callado. Maceió, Alagoas
"Como o Bem e o mal estão sempre presentes", uma visão bastate real do autor. Jorge Sader Filho. É o que está acontecendo e tende a piorar.
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