quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A volta do malandro

Essencial






Branco, jeans, barba curta e com uma cara muito folgada.
Não se sentou; aboletou-se.
- Quem manda na espelunca?
- Moço, aqui não se manda não. A gente conversa.
- E quem vai trazer a minha lima-da-pérsia? Tem um valente aqui que faz e é conhecida.
- Seu Venâncio. Vão brigar?
- Mas que brigar, rapaz. Valente não briga com valente. Entra em acordo. Não desconversa. Traz logo minha lima.
- Não é igual a do seu Venâncio.
- Vai ficar falando nele? Que apito ele toca?
- Ele é poeta...
- Poeta? Cadê o homem? Pago uma nota boa para ele.
Neste exato momento, adentrava no Boteco, sim, Boteco com maiúscula, um cidadão com ar decidido, magro, camisa para fora das calças.
- Bom dia. Ouvi falar no meu nome e em dinheiro.
- Venâncio?
- É o meu nome. Não vendo poesia. O que o cidadão está querendo?
- Venâncio, meu compadre, meu irmão. Tinha uma mulher linda. Aquela com um verso bonito, volta.
- Que coisa é essa, rapaz? Já andou tomando umas manguaças por aí.
- E não é para tomar? Olha o retrato dela aqui.
Mostrou o retrato. Mulher linda, olhos de quem está pedindo amor, boca chamando para um beijo de horas. Ele olhou o retrato cuidadosamente, era fotógrafo também. Precisava tomar cautela para não despertar ciúme no valente. Seria ruim.
- T’aí. Escrevo um poema sim. Se ela voltar avisa.
Escreveu o poema. Entregou. Mas não fez a batida. O malandro havia voltado para o Boteco.
Para a alegria de todos.

7 comentários:

chica disse...

Lindo e nos prende até o final! abraços,tudo de bom,chica

Rosana disse...

Que legal, Jorge...
Muito interessante...
Poderia ter continuação, né??
Você poderia fazer o poema para a mulher da foto..que acha?
Gostei demais...
Beijinhos

Unknown disse...

Os malandros! Não existem mais, deram lugar aos bandidos. Camisa Preta dava uma surra neles todos. Os velhos tempos acabaram. Mas Jorge não muda, prende o leitor, amarra.

Caio Martins disse...

Ô meu truta:

tás entregando o ouro, pagando pau pra doidão e botando sangue no olho do ganso, mano? Segura aí, rapá! Ni que o nóia tropica na charla barata e na morfa de fina, ói nóis de presunto... Se liga, meu!
Cuméquié memo a grinfa? Da hora? Depois dessa só se nóis manguaça na Ladeira da Preguiça, tá ligado?

Deu boi pro cabeção na moral, meu!

Leo Gamboa disse...

Gosto destas histórias do povo.
Muito bem contada, Jorge. Tem alguma verdade aí.
Abraços, Leo.

Cristhina disse...

Eu conheço esse Venâncio, malandro que só ele. Tem um Boteco com amigos, e você faz parte, Jorge.
Escreve poemas, cronicas e para um jornal eletrônico político.
Não estou certa?

Anderson Fabiano disse...

parceiro,
o que mais me fascina em suas letras é a sensaçào (que sempre fica) que o papo vai continuar. e, diferentemente das novelas da globo, a gente sai com a vontade do próximo capítulo, com gosto de quero mais. me orgulha poder chamá-lo amigo. ou você prefere malandro?
meu carinho,
anderson fabiano