Quando escreveu a Carta da Jamaica, em 1915, Simón
Bolívar pretendia uma união entre países de língua espanhola, principalmente na
América do Sul.
A doutrina pode ser resumida em duas partes, que acabarão
se unificando. A primeira diz respeito à
língua, religião e costumes, todos eles das nações hispânicas no continente. Dada a semelhança muito grande entre elas, a
ideia parece ser bastante lógica quando afirma ser ideal para aqueles povos a
união de pensamento e, como consequência, a comunhão política.
Em seguida, aparecem os principais objetivos: educação
pública gratuita e obrigatória, repúdio a intromissão estrangeira na AL e a
dominação econômica, para afinal ser construída uma só unidade política, nos
moldes do que hoje é a União Europeia.
Passada por exame cuidadoso, tanto do ponto de vista
histórico como social, a doutrina mostra-se frágil, eivada de radicalismo e
fora dos tempos atuais, quando não respeita a grande desigualdade dos povos,
mesmo que de aparente igual origem. As
nações da AL não são formadas por espanhóis e portugueses, no caso do Brasil. Os
conquistadores aqui chegaram quando já existiam muitas civilizações antigas e
solidificadas, como incas e índios de grandes tribos que dominavam o
continente. Submetidas ao domínio
estrangeiro colonialista, estas civilizações ou se perderam, como no caso da
cultura inca, dizimada criminosamente pelos espanhóis, ou ficaram submissas,
como os índios que até hoje habitam a AL.
O Brasil nada tem em comum com a cultura dos países
vizinhos, por exemplo. Existe, claro, a
semelhança entre os costumes humanos, mas esta é uma característica do homem
habitante do planeta Terra, e não caracteriza uma unidade de costumes e
pensamento com os outros latino-americanos.
Do ponto de vista prático, o bolivarianismo é
absurdamente ultrapassado. Suas metas
principais ficaram completamente destituídas de valor, com a passagem do
tempo. A educação deve ser sim gratuita
e pública, mas exclusivamente a básica, fundamental, elementar, com professores
altamente capacitados e muito bem pagos.
A formação universitária foge desta regra. Convém lembrar o ensino profissionalizante,
em larga escala, sério e bem ministrado.
Ele está ainda bastante modesto e não institucionalizado.
Outro ponto que foge ao nosso tempo é a independência na
economia, quando o mundo todo, no momento, resume-se a um só interesse: o ganho
anual no desenvolvimento do PIB, que virou mania mundial, principalmente
chinesa. Bolívar jamais poderia supor
mudanças que acontecem no mundo atual, onde mesmo o comunismo pode estar
mesclado com capitalismo voraz e desumano, como o existente na China.
Enquanto isto, homens da mais profunda mediocridade, Hugo
Chávez e Evo Morales, antidemocratas por excelência, anunciam a doutrina como
verdadeira panaceia para curar os problemas do continente Sul-Americano. Até mesmo Lula, preocupado tão somente com a
sua figura e projeção dada pela imprensa mundial a serviço do interesse
econômico dos seus países, especialmente França e Inglaterra que ensaiam um
novo colonialismo, o suspeito e ainda inocente ex-presidente fugiu do antigo
pensamento a toda velocidade, inclusive por ser seu ideal político o ‘lulismo’.
Talvez, não se pode afirmar nada, a doutrina de Bolívar
fosse boa para o seu tempo. Hoje não tem
mais o menor cabimento.
11 comentários:
Um esclarecimento importante, já publicado no Vote Brasil, onde o autor é colunista político.
Ninguém pode dizer que se trata de posição reacionária, pois Jorge é declaradamente socialista-democrata por formação, conforme já afirmou muitas vezes e pelo que se depreende dos seus textos políticos.
Abraço. Carmem
Reflexão pertinente, eivada de verdades. Abrs Mardilê
O Artigo de Jorge Sader é bastante lúcido e claro, diante de todas as mudanças político-sociais que desde Bolívar já surgiram na AL. e no mundo.
Os grandes países necessitam de grandes homens de Estado.
Abraço.
Jorge Sader Filho
Somente um grande conhecedor de fatos históricos culturais,para escrever um artigo tão bem elaborado, dando seu recado com Luc.
"O Brasil nada tem em comum com a cultura dos países vizinhos"
Aqui você fala uma realidade,é uma mania dizer que temos muitas coisas em comum?
Valeu ler esse seu importante texto de hoje,abraços,
Efigenia
Irrita-me ver que o povo, em geral, não quer saber, não quer aprender e apreender as verdades escancaradas deixando-se dominar por uma consciência involutiva seguindo no impulso da emoção de pão & circo & cestas básicas no jugo de uma falsa liberdade da miséria do ser, em submissão ao ter, ilusoriamente adquirido.
Uma aula, mestre Jorge!
[ ] Célia.
Está correto, Jorge... sem esquecer que foi financiado pelos ingleses, para quebrar o domínio hispânico no continente. Apareceram, na mesma época e com as mesmas características, "libertadores" na maioria dos países latino-americanos.
Ensaio proveitoso, e atualíssimo. Forte abraço.
Bolivarianismo é coisa arcaica - cordão de caranguejos. É melhor qwe cada um, em cada qual, trate de trabalhar sério e de se desenvolver como deve. Basta que se respeite os bons líderes. Culto a personalidades e a mitificação de pessoas é coisa de povo atrasado. Boa crônica Jorge. abraços.
Verdade, Jorge. Em poucas linhas você conseguiu traçar um painel lúcido e de irrefutável pertinência sobre esse anacronismo histórico. Parabéns, amigo.
Mestre Jorge, obrigada pela aula....bjus
Pura verdade, Jorge, mas quem consegue convencer chavistas? A A. Latina precisa se unir na busca de melhor desenvolver a educação de seus povos. Meu abraço.
BINGO!
Jorjão,
Sua clarividência transborda sobre a mediocridade que grassa na AL.
Os Evos, Chávez e Lulas não passam de empecilhos contemporâneos ao desenvolvimento dos povos. O velho Simon deve ter tido lá suas razões, mas, século XXI é século XXI e os focos mudaram.
Meu carinho, parceiro,
Anderson Fabiano
Postar um comentário