terça-feira, 28 de julho de 2009

Aldeia de pesca

Aldeia de Pescadores / di Cavalcanti













Tão logo surgem os primeiros raios de Sol, anunciando o dia, as casas simples, construídas perto uma das outras, demonstram movimento.
A fumaça indica que o fogo está aceso. Fogão de lenha; o gás é insosso, não transmite sabor ao feijão catado e escolhido, de molho na véspera. A velha panela de barro, curtida antes de ser usada com toucinho bastante esfregado na sua parte interna, e levado ao fogo até a camada penetrar no barro, ritual de três dias, no mínimo, começa a ser preparada para ir para o fogo. A do café, já tem água fervendo.
Não demora e vai sair um odor que o vento, ainda terral, leva ao oceano, partes distantes, um delicioso convite.
Está na mesa. Café, pão feito em casa, socado, batido, amassado e feito com muito carinho, como todo o resto da comida. Mortadela e margarina, dura mais do que manteiga. Alguns homens tomam meio copo de cachaça, depois da farta comilança. Se tiver banana, melhor não misturar com a branquinha que Aristeu produz com carinho. Lembranças do tempo em que trabalhou numa fazenda famosa, lá pelos cantos do sertão. Alambique de barro, coisa rara. Não envenena a maldita com os inevitáveis sais de cobre, que enjoam e dão dor de cabeça.
Estão prontos. Canoas e barcos robustos vão ao mar, arrastados pela areia afora, pela força dos pescadores. Rede tratada, forte, no caldo da aroeira, que transmite a cor siena queimada. Vão com fé. Todos já rezaram, pedindo a proteção de São Pedro.
E é rede no mar, canoas cercando, canoas puxando, peixes bons, outros nem tanto, depois de puxado o arrastão. Escolhem alguns para levar para casa. Muitos outros o carro frigorífico leva e paga na hora ou no fim da semana, depende do trato.
É o cotidiano de quem trabalha no mar, garantindo o nosso peixe.
Têm outros. Embarcados em traineiras, razoável conforto e muito trabalho, passam, por vezes, uma semana no mar. Trabalho duro para geralmente cinco homens, que nos asseguram tão bom alimento.
Nada parecido como os que andam de paletó, gravata, e grifes famosas.

4 comentários:

MILTON MARTINS disse...

Sader
Quisera escrever com frases curtas como vc. tão bem faz. Desprovido de paletó e roupa de grife uno esta crônica com a anterior. Alíás, penso ser onde advogo o mais (ou um dos mais) relaxados dos advogados. Caminho assim com a sua bela frase: "Viver o momento do aqui e agora, aguardando as surpresas futuras, agradáveis e não."
Aldeia de pesca, barcos...Ah, sim, não me dou bem com barcos...
Muito bonito!
MILTON MARTINS - Piracicaba (SP)

Caio Martins disse...

Eitcha! Deu para sentir o mar, lembrar saída de espinhel e arrasto... Grande Jorge Sader! Essa vai pro Boteco, sem maresia.
Forte abraço!

Maria Eduarda disse...

Muita diferença para a vida na cidade grande. Não estão isolados, vivem em comunidade. Trabalho duro, conpensado pelo bem-estar.
Bela crônica, Jorge.

Tania Montandon disse...

Sempre a bela apresenta'ção ou reapresentação da simplicidade perdida ou esquecida no meio de tantos chips e modernidades... A simplicidade náo é coisa do passado, vejo que mais o é dos artistas como vocÊ que estão a ensinar a dar valor e atenção a essas pequenas coisas que são o que mais podem dar alegria e colorido à vida.

beijo