terça-feira, 30 de julho de 2013

Despedida

 
 
         Deletei hoje, da minha lista de favoritos, o Vote Brasil e o espaço que tinha para postar minha coluna.
         Um ato que não gostei, mas o que está encerrado deve ser assim visto.  Acabou, não existe mais.  A próxima exclusão vai ser a que consta no blog.  É uma atitude desagradável, mas inevitável.
         Comecei no VB, convidado pelo diretor André Barreto, por causa dos antigos fóruns que existiam nos portais.  Um assunto era colocado e quem quisesse comentava.  Sempre havia uma questão política, e eu jamais deixei de dar minha opinião.  O fato se explica.  No início da sua vida, meu pai foi jornalista político.  Desta forma, pelo menos dois comentários por dia eu assinava, e assim fiquei conhecido neste ramo.  Na verdade, o convite não me surpreendeu.
         A princípio, escrevia sobre política fluminense, regional, já que nasci e até hoje moro em Niterói.  Fiquei ano e meio naquele setor, até que publiquei meu primeiro livro, A Regra do Jogo.  Fui promovido.  Passei a ser colunista do então mais famoso site político da internet brasileira, vencedor dois anos consecutivos, 2005 e 2006, do Prêmio Ibest, o maior  deles.  Dar como referência ser colunista do Vote Brasil sempre foi muito valioso.  Os colegas eram excelentes, o site muito bem cuidado e atual, além de conter informações valiosas para o leitor e eleitor brasileiro.
         Lá conheci o jornalista Caio Martins, um dos mais atuantes.  Em pouco tempo ficamos amigos, e embora nunca tenha ao menos dado um aperto de mão, Caio é hoje um dos meus bons amigos.  Tem expressões engraçadas, e as usa com frequência.  Costuma dizer que empurramos juntos muitas pedras ladeira acima, e o seu famoso “vamo que vamo”, típica expressão popular que ele usa e abusa.  Juntos, combatemos sem trégua os ‘petralhas’ que invadiam o site e postavam tolices em cima de asneiras.  Foram expulsos do Vote.  Se tivessem sido expulsos também do PT, o partido não teria entrado na decadência que se encontra.  Foram os ‘petralhas’, ou seja, os maus petistas, que acabaram com um partido que começou bastante promissor.  O mais interessante é que Lula, Dirceu e Genoíno, então fundadores do PT, rapidamente se tornaram ‘petralhas’ perigosos, terminando com um sonho trabalhista.
         André Barreto, nosso idealista diretor, adoeceu gravemente.  Nenhum de nós, colunistas, temos a necessária experiência para dirigir um site completo como é o VB, que terminou.  Assim, lastimavelmente, hoje me despeço. 
         Estou sentido.  Muito sentido.    



quinta-feira, 18 de julho de 2013

Assunto liquidado

 
         Um frio agonizante, o chão de pedras, um vento que não cessava e a rua deserta.  Uma lâmpada de luz branca, no poste, dava apenas para ver a parte dianteira do carro e um ocupante na direção.  A calefação estava desligada e o motor sem funcionamento.
         Magro e forte, o tal que ocupava o veículo.  Sobretudo curto, um gorro de lã, sapatos de sola grossa e calça de veludo.  O trinta e dois cano longo cuidadosamente ajeitado na cintura.  É ótimo para tiros precisos, por não ter recuo forte.  Esperava calmo, não adiantava ter pressa, o casal jantando no bistrô elegante tinha todo o tempo do mundo.  Medalhões de filé mignon, acompanhados de salada de tomate, rúcula e aspargos.  A elegante taça de vinho mostrava o líquido vermelho e brilhante.  Excelente qualidade, sem ser caro.  Qualquer conhecedor de vinhos honestos sabe que nada justifica o preço superior a cinquenta reais, pouco menos do que vinte e cinco dólares, uma garrafa.  Os produtores e os falsos entendidos teimam no mundo inteiro, e existem marcas e safras realmente com preços absurdos.  Pura idiotice, qualquer vinho produzido em Napa Valley, Califórnia, por mais simples que seja, não tem qualidade inferior.
         Assunto que não preocupava o homem que estava examinando com cuidado o trinta e dois, engatilhando e soltando o mecanismo com o percussor, observando o perfeito funcionamento do tambor que girava perfeito a cada movimento de armar.  Retirou um dos cartuchos.  Brilhante, cor de moeda dourada nova.  Na extremidade, o objeto que já tirou e vai continuar ceifando a vida de muitos.  Envolvido numa camada fina de metal branco, a ponta de chumbo tinha seu início perfurado.  Guardou a arma e esticou as pernas.  Já estava sentado há duas horas e meia.
         No restaurante pequeno, o casal já havia pago a conta, enfrentava o frio da noite e se acomodava no automóvel francês, mas montado aqui mesmo.
         O trânsito amanheceu confuso, no dia seguinte.  Ainda estacionado, um carro estava sendo fotografado por peritos criminais que tomavam cuidado para não mudarem, por algum acidente, a posição dos corpos.  Um homem e uma mulher, ambos mortos por certeiros tiros, dois em cada um.
         Os policiais cumpriam sua missão técnica.  Sabiam que o autor não seria apanhado, havia sido crime cometido por profissional.
         Num bar próximo, o homem que estava na noite anterior com o sobretudo cinza escuro, tomava uma xícara grande de café e fumava, esperando o seu cliente para ambos darem uma olhada no que estava acontecendo.         

sexta-feira, 12 de julho de 2013

O refúgio ficou pronto

                            

 
      Querida, depois de pensar com seriedade no trato que fizemos, quero que saiba das novidades.
Fiz em segredo, não anunciei a ninguém. A casa é pequena, muito bem bolada, você circula com facilidade incrível. Tem tudo, em apenas sessenta e quatro metros quadrados.
Paredes fortes, piso levantado de metro e meio, deixando lugar para um porão, que está isolado da parte principal, menos uma pequena parte, transformada num depósito que pode guardar qualquer coisa. Pé direito alto, para os dias quentes.
    Cozinha e banheiro independentes, lógico, mas com o mesmo sistema d’água. Não haverá problema; o encanamento é aparente, bem colado na parede e pintado de amarelo. Fiz o mesmo com a fiação elétrica. Por razão que me pareceu lógica, pintei de vermelho. Não precisa temer. O interior nada se parece com decoração da cidade no Carnaval.
    Sala muito espaçosa, mesa sólida, poltronas confortáveis. A estante não é grande, cabe o essencial. O espaço para o computador também não é grande, e fica junto do aparelho telefônico. O quarto é pequeno e tem uma grande janela, vemos toda a paisagem.
Quando ficou pronto, passei um fim de semana, para experimentar. Toalha xadrez vermelha na mesa, você sabe que gosto. Dois quadros. O meu, a abstração azul intensa, e o seu “Chegada de Outono”. Não levei nada para ler, tinha uma revisão e aproveitei a calma do lugar.
    Dias comuns, mas muito gostosos, especialmente por causa da temperatura, vinte graus. Acordava e comia uma pera, uma laranja, um pedaço que queijo branco com torrada e arrematava com um perfumado café quente. Dava uma caminhada depois. Não é preciso dizer que senti sua falta.
Meu almoço favorito. Bife enorme na chapa, sem nenhuma gordura que não fosse dele mesmo. Salada de tomates e palmito, arroz integral, que fiz na sexta-feira, durante a noite e foi até o domingo, sem nenhum problema. O tinto seco acompanhava sempre.
    Já falei muito. A casa está esperando você. Não demore.
    Beijo

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Revisado e aumentado









quinta-feira, 4 de julho de 2013

Governo ilegítimo

          

         As manifestações populares recentes, contra os descalabros brasileiros que vêm ocorrendo no executivo e legislativo, estão reiteradamente dizendo não a estes dois poderes.  Este último ainda possui certa reserva moral, enquanto o executivo não possui nada.
         De nada mais adianta a presidente da República insistir em reformas, referendos, plebiscitos e outras saídas para uma crise que disse basta.  Quando o Palácio da Alvorada foi cercado pelos manifestantes em Brasília, sem tumulto ou violência, o povo mostrou a sua força, que a presidente insiste em negar.  Se não invadiu o prédio, não foi por medo da guarda feita pela Polícia do Exército.  Todos sabem que ela não atiraria, e o sistema de defesa eficaz, diante de multidão como se viu, seria uma coluna de blindados, nunca um pequeno número de soldados.  Ou seja, Dilma ainda ocupa o cargo por teimosia e audácia descabida.  Não tem mais legitimidade alguma para conduzir a nação, o povo mandou o recado, foi vitorioso e ainda vai voltar às ruas, desta vez não podemos imaginar se pacificamente como das outras.
         Não estou falando em desordem, baderna, saques ou atos de vandalismo que comprometam um movimento legítimo.  Estou chamando a atenção para uma intolerância popular que as ainda autoridades fazem questão de desconhecer.  Podem pagar caro.  Ninguém até hoje soube prever os atos que a multidão pode tomar.  A intenção continua pacífica, felizmente, mas pode mudar repentinamente.  Não é nenhuma novidade; todos os conhecedores sabem do perigo que vai na alma de uma grande concentração de pessoas.
         Seria razoável que as autoridades mandantes se reunissem e marcassem eleição para breve, no máximo dois meses.  Pode parecer disparate.  Não é.  A atual situação é muito delicada e pode dar início a conflitos que o povo não deseja.
         Pergunta-se: e quem tomaria conta do país neste intervalo de tempo? Simples.  O legislativo ainda tem nomes de respeito.  O povo, por aclamação, elegeria um deles, ou mesmo junta que dela participasse um membro do judiciário.  O poder estaria legitimamente representado, e aguardaria novas eleições.
         Parlamentarista por convicção, seria adotado este sistema de governo, repudiando o nefasto presidente da República, inexistente no mundo de hoje, exceto nos Estados Unidos, onde quem manda verdadeiramente é o congresso.  Todos os países europeus são parlamentaristas, muitos com a figura do presidente da República, uma figura decorativa e totalmente dispensável.
         Talvez seja a saída mais viável, no momento.  Quem tiver ideia melhor que a apresente.  O povo agradece.