Na madrugada do dia 20 de maio de 1974, uma segunda feira
com noite amena, Oswaldo Rios, cognome de um estudante de psicologia da
PUC, encontra-se sentado diante de um
major.
— Melhor você
falar onde estava, moleque.
Oswaldo, naquela época, fazia parte da turma de segurança
de um jovem presidente de entidade estudantil.
Sua situação era de profundo embaraço.
— Major, por favor, fale com o Cenimar. Com alguém muito importante de lá, não posso
dizer mais nada.
— Acho que você não entendeu, moleque! Fala logo antes que entre no pau.
— Não posso falar.
Tenho proibição de abrir a boca para qualquer um que não seja do
serviço.
Levou um bruto tapa na cara. Afinal, que arrogância era esta, diante de um
oficial de informações do Exército?
— Faz isto com todo mundo? Não tem medo de estar cometendo um engano
sério?
— Quem é você para me dizer isso? — E deu outra tapona no
rapaz diante dele, que embora não parecesse arrogante, poderia muito bem estar
treinado para isto.
— Não falo mais nada.
Falem com a Marinha. Oswaldo
Rios. Digam que está preso pelo
Exército, suspeito sei lá de quê.
— Suspeito? Olha a
foto aqui. Vai dizer que este cara não é
você? Eu te quebro na porrada, idiota.
Já havia visto a foto, era ele mesmo, com mais dois,
roupas civis, cabelos longos, barbados sem exagero. Só não tinham tatuagem. Naquela época, os poucos tatuados eram
marginais. Não havia conversa capaz de livrá-lo de uma surra. Depois, quando tudo ficasse esclarecido,
ainda teria as marcas roxas pelo corpo.
— Liga para o Cenimar.
Vocês vão me quebrar no pau e eu não tenho nada com esta coisa.
— Vai dizer que é do serviço?
— Liga, major, por favor, estamos no mesmo lado, mas não
posso abrir a boca.
— Se estiver mentindo...
— Eu sei, vou entrar na porrada! Pode ligar.
O que ele não sabia era que a ligação já estava sendo
feita. Um tenente falava com um colega
seu, de patente igual, na Marinha.
— Oswaldo? Um
grande e forte?
— Isso mesmo!
— Olha em baixo da axila esquerda dele. Tem a tatuagem do seu tipo sanguíneo, e mais
nada. Letra pequena.
Despediram-se. O
tenente entrou na sala de interrogatórios e falou no ouvido do seu superior.
— Mostre este sovaco esquerdo, moleque. E reze para eu encontrar o que pode mostrar
que é quem está dizendo.
Ele obedeceu de pronto.
Lá estava nítida, bem nítida a tatuagem em letras negras: O+. Era o
próprio. Um primeiro-sargento do Corpo
da Armada.
— Mas por que não me disse logo, sargento?
— Ordens são ordens.
O senhor sabe disso muito bem!
— Está magoado?
— Não. Nem tive
medo. Esta vida não permite essas
coisas, meu major!
Tomaram juntos duas doses fartas de uísque. Quando o major, já bastante calmo e simpático
perguntou ao seu ‘prisioneiro’:
— Ele nunca desconfiou de você? Que era um dos nossos?
— Nunca! Nem ele,
nem a namoradinha dele! — E deu o mais
debochado sorriso do mundo.