quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Lamparina de oratório velho

                                     

            Tinha idade.  Bem vestido e elegante, compartilhava com outros nem tão bem compostos por fora, de um lugar na gruta de pedra que abrigava uma imagem santa, num tosco altar com atraente lamparina a óleo que iluminava o local consagrado à oração e meditação.
            Era apenas mais um, dentre tantos, que procurava a gruta com habitualidade.  Misterioso lugar!  Contavam casos seguidos de curas milagrosas, sucesso no trabalho, felicidade no casamento e tantos mais.
            Tudo ali era mistério, começando pela imagem esculpida em pedra- sabão, de autoria desconhecida.  O altar de madeira muito velha, enegrecida pelo tempo, larga e pesada, suportava tanto a escultura santa como a lamparina, sempre acesa e mantida cheia de óleo por religiosos desconhecidos.  Uns diziam ser frades capuchinhos, outros, carmelitas descalços.  Uma terceira afirmativa jurava ser obrigação de pai de santo com muitos anos de consagrado.
            A gruta irradiava tranquilidade e harmonia.  Não é escura, por não ser profunda.  Uma escavada na pedra, só.  Feita pela Natureza.
            O homem velho, paletó e resto da indumentária não tradicional, por não ser escuro como manda a regra antiga, mas ser cor de barro, brilhante e discretamente claro, fazendo igualdade com a calça bem cortada como o seu complemento.  Camisa de gola redonda cinza, combinando com seus cabelos, cinto e sapatos marrons.  Sua expressão demonstrava estar esperando alguém ou alguma coisa, embora estivesse de joelhos e orando.  Cabeça baixa que de tempos em tempos levantava para mirar a Santa.
            Uma senhora de cor negra, bem mais idosa e com flores na mão ajoelhou-se ao seu lado.  A luz da lamparina mostrava os sulcos no seu rosto, marcas do tempo.  Falou algo com o homem.  Como resposta, recebeu um afago na cabeça esbranquiçada.  Pouco depois, trocaram algumas palavras.  Pela aparência de ambos, uma conversa muito calma e curta.
            Num repente, o homem caiu e se o tombo não foi grande era porque estava ajoelhado.  Não se mexeu mais.  Fora-se para sempre.  Havia dito para a senhora negra que esperava por parentes, foi o que ela disse aos que cercaram o corpo inerte.  Os parentes que tinha estavam mortos, pai, mãe e irmão.
            Interessante é que naquele dia, o ritual de colocar óleo na lamparina não foi feito, ninguém sabe a causa.  No exato instante em que a lamparina apagou, o velho homem partiu para o encontro marcado, segundo dizem a senhora negra e muitos outros que frequentam o lugar.
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Publicação recente de livro com o mesmo nome.
Link da Bookess:  http://www.bookess.com/read/14614-lamparina-de-oratorio-velho/  

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Livro digital

                                      

            Não posso deixar de conhecer, ler e publicar, a modalidade mais atual que temos, o livro digital.
            Certo que ele não veio para substituir o velho e tradicional impresso em celulose, como o jornal jamais será trocado pela informação da internet.  Todos têm a sua função e importância.
            No meu trabalho diário sempre lidei com o ato de escrever.  Como advogado, procurador do município de Niterói e escritor amador, que sonhava com o Prêmio Walmap, o maior da literatura brasileira, patrocinado na época pelo Banco Nacional de Minas Gerais, com publicação em grande escala dos vencedores, além de expressiva quantia em dinheiro paga aos escritores.  Para dar um só exemplo, um deles foi Lêdo Ivo, com “Ninho de cobras”.  Não temos mais nenhum hoje que se iguale.  Para se ter uma ideia melhor, o último júri do concurso era formado por Guimarães Rosa, Antônio Olinto e Jorge Amado.
            O livro digital veio para ficar.  Apanhei contos e crônicas, fiz uma seleção um tanto aleatória e enviei para a editora.  A aprovação é rápida.  Quem vai dizer se tem ou não qualidade não é um avaliador, quase sempre suspeito, de uma editora invariavelmente comprometida com o dinheiro, suspeita, suspeitíssima.  Quem julga é o alvo da publicação, que geralmente não erra.
            “Contos e crônicas selecionadas”, num total de dezenove peças contidas em oitenta e uma páginas, pode ser lido sem nenhum pagamento, no site da editora.  Querendo comprar o livro físico, basta solicitar na mesma.
            O link para a leitura é http://www.bookess.com/read/14373-contos-e-cronicas-selecionadas/ .   

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Chopin

        

            Todos célebres da vida pública costumam carregar histórias e casos interessantes da sua existência, nem sempre verdadeiros, mas fantasiados por obra dos biógrafos e do próprio povo.
            Fréderic François Chopin, polonês de nascimento, mas que viveu sua gloria em Paris, França, não escapou do costume tradicional.  Muitas histórias são contadas sobre o músico, grande parte delas envolvendo sua união com George Sand, pseudônimo masculino da escritora Amandine Aurore Lucile Dupin.  Voluntariosa e conquistadora, George foi ligada também ao poeta Alfred de Musset, entre outros amores tumultuados.
            Dono de uma técnica até hoje considerada espantosamente perfeita para tocar piano, a obra de Chopin é muito grande e seus concertos nos famosos templos mundiais da música são citados como verdadeiros acontecimentos históricos.
            Chopin teve muitos amigos em Paris, entre eles o próprio Musset.  Franz Liszt, o mais notável pianista de todos os tempos era um dos seus próximos, bem como o pintor Eugène Delacroix, o mais expressivo da época romântica.
            Conta-se que determinada ocasião Chopin estava no ateliê de Delacroix, em conversa animada com o autor de “A Liberdade Conduzindo o Povo”.  Era conhecida a habilidade do pianista no desenho de retratos a lápis, desde seus primeiros anos. Chopin enquanto conversava estava aparentemente entretido com o material de pintura de Delacroix, quando este lhe pediu que mostrasse sua capacidade com o papel e o lápis.  O compositor riu e mostrou um retrato que tinha acabado de fazer do seu amigo, que ficou deslumbrado ao ver a perfeição do desenho.  Enquanto conversavam, Chopin estava trabalhando no retrato do grande mestre da pintura.
            Verdade ou não, é certo que eles eram amigos e Chopin foi mesmo na mocidade um excelente retratista.  Se fez o desenho de Delacroix, nunca ninguém vai saber, pois até hoje o mesmo não foi encontrado.