Tinha idade. Bem vestido e elegante, compartilhava com outros nem tão bem compostos por fora, de um lugar na gruta de pedra que abrigava uma imagem santa, num tosco altar com atraente lamparina a óleo que iluminava o local consagrado à oração e meditação.
Era apenas mais um, dentre tantos, que procurava a gruta com habitualidade. Misterioso lugar! Contavam casos seguidos de curas milagrosas, sucesso no trabalho, felicidade no casamento e tantos mais.
Tudo ali era mistério, começando pela imagem esculpida em pedra- sabão, de autoria desconhecida. O altar de madeira muito velha, enegrecida pelo tempo, larga e pesada, suportava tanto a escultura santa como a lamparina, sempre acesa e mantida cheia de óleo por religiosos desconhecidos. Uns diziam ser frades capuchinhos, outros, carmelitas descalços. Uma terceira afirmativa jurava ser obrigação de pai de santo com muitos anos de consagrado.
A gruta irradiava tranquilidade e harmonia. Não é escura, por não ser profunda. Uma escavada na pedra, só. Feita pela Natureza.
O homem velho, paletó e resto da indumentária não tradicional, por não ser escuro como manda a regra antiga, mas ser cor de barro, brilhante e discretamente claro, fazendo igualdade com a calça bem cortada como o seu complemento. Camisa de gola redonda cinza, combinando com seus cabelos, cinto e sapatos marrons. Sua expressão demonstrava estar esperando alguém ou alguma coisa, embora estivesse de joelhos e orando. Cabeça baixa que de tempos em tempos levantava para mirar a Santa.
Uma senhora de cor negra, bem mais idosa e com flores na mão ajoelhou-se ao seu lado. A luz da lamparina mostrava os sulcos no seu rosto, marcas do tempo. Falou algo com o homem. Como resposta, recebeu um afago na cabeça esbranquiçada. Pouco depois, trocaram algumas palavras. Pela aparência de ambos, uma conversa muito calma e curta.
Num repente, o homem caiu e se o tombo não foi grande era porque estava ajoelhado. Não se mexeu mais. Fora-se para sempre. Havia dito para a senhora negra que esperava por parentes, foi o que ela disse aos que cercaram o corpo inerte. Os parentes que tinha estavam mortos, pai, mãe e irmão.
Interessante é que naquele dia, o ritual de colocar óleo na lamparina não foi feito, ninguém sabe a causa. No exato instante em que a lamparina apagou, o velho homem partiu para o encontro marcado, segundo dizem a senhora negra e muitos outros que frequentam o lugar.
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Publicação recente de livro com o mesmo nome.
Link da Bookess: http://www.bookess.com/read/14614-lamparina-de-oratorio-velho/
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