sábado, 18 de dezembro de 2010

Tancas

Calma













SUAVE
Brilhante este mar
Lindo e calmo de pasmar
E bom para amar.

Corações ficam sorrindo,
Tantas flores vão-se abrindo.


OS OLHOS DA AMADA
Os olhos da amada
são na cor esverdeada
tranquila enseada.

Água límpida e abrigada
transformo minha morada.


LÁGRIMAS NA ROSA
Gota de sereno
que brilhando esplendorosa
lágrima na rosa!

Pois todo o campo chora
é quando desperta a aurora...



Publicados na Revista eisFluências, Liboa, Portugal, em 15/12/2010

domingo, 12 de dezembro de 2010

Sabedoria

Albert Einstein















            É comum entre todos nós a busca da cultura.
            Ela distingue os homens; muitos gostam disto.  Falam mais de uma língua, conhecem artes, são educados e polidos.
            Sabedoria não.  Ninguém se transforma em sábio através de livros, pinturas e semelhantes.  Geralmente vem com a idade e a reflexão criteriosa e de contundente lógica matemática, expressão usada para definir o rigor da tão comentada lógica.
            Escutei interessante relato verdadeiro.  Um velho desembargador, conhecido quando ainda estava na ativa pelas decisões acertadas, viúvo e já bastante idoso, foi morar com a filha.
            São contingências das quais não escapamos, se estamos com idade avançada.  O velho magistrado, absolutamente íntegro das faculdades mentais e com boa saúde, não era de dar trabalho.
            Tinha os seus hábitos, como todos nós.  Gostava e gosta ainda, não morreu, de acordar bem cedo, beber meio copo de água pura apanhada numa fonte, pegar o jornal já entregue e ficar lendo as notícias.
            Judiciosamente estava limpo, barba feita, e roupa caseira bem apresentável.  Até hoje assim é.  Mas morre de amores por uma velha camisa de malha de algodão, que não se encontra mais em boas condições.  A filha já havia tentado transformar a velha camisa em pano de limpar chão azulejado.
            Determinada manhã, sem estar como comumente andava pela casa, mas ainda de chinelos, bermuda velha, a camisa de malha com os furinhos e de barba ainda não feita, deu uma corrida na quitanda próxima e escolheu um bonito cacho de bananas-prata.  Havia um jovem comprando algo, que ao ver o velho juiz foi até ele e anunciou que a banana estava paga.  Ele agradeceu e zarpou para casa.
            Contou a história.  A horrorizada filha, mas dócil com o pai chamou a atenção.
            - Mas pai, você não devia ter aceitado, você tem dinheiro, não é mendigo.
            - Pois é, filha.  E tiraria dele o prazer de ter ajudado um velho.
            Sabedoria é assim.
           

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Minha resposta

Solidão














               Yuri, não seja injusto comigo, por favor.
            Você distorce os fatos; quem lê me diz culpada, embora não seja e isto ficou bem claro.  Estou de acordo que a esta altura não cabe este tipo de discussão que não leva a nada, também como você disse.  Mas pode levar sim.  Além de íntimos, fomos e somos amigos acima de qualquer coisa.
            Acredito que a insistência em falar em feridas que ainda cicatrizam, e se tocadas vão sangrar novamente, trazendo discórdia entre nós, absurdo que não tem cabimento.
            Eu fui repudiada sim, André é seu filho, você tem certeza.  Não precisava exame.  Minha lealdade com você, Yuri, sempre foi espécie de coisa sagrada.  Outra coisa que não entendi foi a nossa separação.  O motivo alegado é sem valor, e agora sou eu quem digo ‘e você sabe disso muito bem’.
            Londres é muito longe?  Que tem isso?  E eu não casei, o que fiz foi amparar minha dor ao lado de amigo que me compreende.  Ficar esperando que viesse para Cascais, na casa que é do meu avô, Deus o tenha, não estragaria a sua carreira.  Não me iluda.
            Estou longe sim.  Numa cidade civilizada, mas muito diferente da minha, onde estudei, fiz amizades, comecei meu trabalho e aproveitei a praia que só neste lugar tem.  Mas vou no fim do ano passar pelo menos vinte dias aí.
            André vai ficar contente em ver o pai, adora olhar seu retrato com ele no colo.  Tenho sim, medo, muito medo de olhar você e correr para os seus braços, sempre fui assim, mas não quero sofrer com outro ‘não’.
            Beijos, querido.  Du

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Carta de despedida

                                                                                                                                                                        
                                             
Du





















Querida, não sei o que se passou conosco, nem pretendo ficar fazendo análises do que está fora deste método. Também irrita querer iniciar literatura com uma carta de despedida. Não sei nem quero saber quem é culpado; culpados somos nós, que não prestamos a atenção necessária ao fato da primeira discórdia em relação ao nosso querido filho. Este é um assunto com o qual não se brinca, e deu um final melancólico.
Perco a mulher, bem o sei. Como repeti muitas vezes, e com toda a minha sinceridade, a mulher mais bonita que eu já vi nesta terra. Vou amargar muito ainda, mais do que estou agora. Não ver você, não sentir sua presença, ouvindo sua voz e o choro do André esta sendo muito duro, e vai piorar.
Mas chegou ao fim. Os arroubos da sua mocidade, Du, eram previsíveis. Mas por favor, não diga que foi recusada, repudiada. Não foi e você sabe bem disto. Eu não tinha alternativa. Você também conhecia este risco, mas assumiu o perigo.
Londres é longe, Du. E com seu casamento, foi posta uma pedra sepulcral no nosso já passado encontro de almas. Nossa casa sente a falta de você e dos primeiros passos do André. Nossa casa sim, as roseiras estão viçosas e ainda cuido delas com o mesmo carinho, como fazíamos juntos. A que você plantou está realmente deslumbrante. Mas não tem o dourado brilhante dos seus cabelos.
Mas finalizo, sofri para escrever e enviar este papel. Só peço que quando vier passar alguns dias aqui, não se esqueça que André tem pai. Não me venha com desculpa que pode haver recaída.