O calçadão estava vazio; quase ninguém. Havia chovido pouco, coisa rápida, mas que
deu para deixar a areia úmida.
Um jovem, menos de vinte anos com toda certeza, parecia
estar cumprindo um estranho ritual na parte mais perto do mar. Andava como se
bêbado estivesse, mas não havia ingerido nada que contivesse álcool. Seus passos eram calculados, parecia que
procurava alguma trilha. Mas isso não
existe na areia das praias. Trilhas são
comuns na mata.
Mas era assim. Passo após passo eram dados como se
procurassem alguma coisa. Ele era
acompanhado por uma velha senhora, que apreciava seus movimentos estranhos da
larga calçada de pedras portuguesas.
Muitas coisas não têm limite. Uma delas é a curiosidade, sempre procurando
explicações. A velha senhora não mais se
conteve. Foi até o rapaz que fazia na
areia úmida o estranho percurso. Não
teve a coragem de perguntar o que era aquilo.
Simplesmente, como uma caminhante que buscava algum exercício,
limitou-se a observar a cena de perto.
Foi quando reparou que o jovem pisava exatamente em pegadas bem nítidas,
deixadas por alguém que havia passado antes.
Com o maior rigor possível, o jovem pisava exatamente onde estavam as
marcas deixadas, pegadas de alguém menor e bem mais leve, porque não eram
fundas e de comprimento pequeno.
Não resistiu. “Porque estes atos, meu jovem? Posso perguntar isso?” A resposta veio de imediato. “Pode sim, senhora. Sigo a minha paixão.” Estava aberto o diálogo.
— Paixão?
— Paixão de longos anos, estou pisando onde passou ainda
agora a minha alma feminina.
— Pode explicar melhor? Estou incomodando, na certa!
— De modo algum, minha senhora. Não conhece a lenda?
— Que lenda?
— Se você seguir os passos da amada, ela será sua para
todo o sempre. É o que diz a tradição índia.
— Tradição índia?
Acredita nisso, rapaz?
— Disseram que era índia, mas pode ser cigana, oriental
ou até mesmo dos nossos antepassados.
Continuou o seu caminho.
Seguindo os passos cujas marcas estavam na areia.
Dizem, e tudo indica que seja verdade, casou-se com a
mulher cujos passos rigorosamente seguiu. Quem segue com amor, é seguido. Dizem também, que embora a água do mar apague
tudo, deixou marcadas aquelas pegadas. Para todo o sempre.