segunda-feira, 28 de março de 2011

Escrevendo com sangue














                                 Escrevendo com sangue

            Pois é o que lhe digo: não se escreve pelo simples prazer de teclar ou desenhar letras.  Os resultados são ruins.
            Escrever, como toda arte, necessita do aprendizado fundamental.  A língua e a literatura.  E, sobretudo a alma da verdade, o transmitir conhecimento sem ser professor, usando sua sabedoria.
            É penoso.  A língua tem que ser trabalhada em todo o trecho.  Não pode haver erro, perde-se tudo, o autor não merece crédito.  É preciso ter amplo domínio do vernáculo e da ciência do saber a comunicação com quem lê.
            O cérebro sangra, o coração sangra, os dedos tremem.  As idéias funcionam como engrenagens de uma máquina perfeita.  Além de não poder brincar com o leitor e ter por ele o máximo respeito, há que se despertar o seu interesse nas primeiras linhas, e levá-lo assim até o final.  Um processo difícil e na maioria das vezes doloroso.
            Sua verdade tem que ser exposta.  Não interessa se não é a do leitor: não podem existir mentiras, falsidades.  Quem escreve para agradar o leitor, preocupado com este pensamento, cai fatalmente em erro sem remédio.
            É bom que tenha em mente que quem lê logo percebe se o autor está enchendo o papel, ou querendo demonstrar cultura.  Escrever não é isto.  É entregar-se, num ato de doação.  Todo aquele que tem conhecimento fica na obrigação de transmiti-lo sem alterar uma letra.
            Enfim, escrever é um ato de amor, que não está sujeito a outra regra, senão esta. Doar-se.  

terça-feira, 22 de março de 2011

A visita de Obama



















   A visita de Obama

            Parece indiscutível que o presidente Barack Obama veio firmar posição no Brasil.
            Muito se falava das comitivas de Lula.  Obama não fez por menos.  Mil pessoas na comitiva, a maior parte delas composta por homens de negócio, que fecharam vários acordos.
            O Wall Street Journal destacou na manchete de hoje, 21 de março de 2011, que as relações Brasil - Estados Unidos precisam se consolidar.  Ora, tanto isto é verdade que o próprio presidente americano veio cumprir esta tarefa.  O país é líder absoluto, no momento, da América Latina.  Econômica e politicamente.
            Para se ter uma idéia do crescimento brasileiro, em 2010 de 7,6% do PIB, batendo todos os países, menos China, começa a assombrar a comunidade financeira mundial.  Espera-se para este ano a maior safra agrícola de todos os tempos.  É evidente que tal fato não é segredo para outros países.  Ou seja, o americano do norte, nosso principal comprador, está seguro com o indispensável fornecimento.
            Outro fato de suma importância é o político.  Dilma tem-se portado como deve um chefe de Estado.  Sóbria, eficaz e sem dar importância a problemas políticos menores.  Inspira confiança.  Está no poder para resolver o duro problema brasileiro, e não ficar apoiando este ou aquele lugar de política não democrática.  O cínico Hugo Chávez acaba de declarar que se perder as eleições do ano que vem, não entrega o poder.  Ou seja, está pedindo outro Lee Oswald, e vai encontrar.
            Enfim, Obama não veio pregar no deserto.  Quer produtos e paga bem.  Quer apoio e dá apoio.  Jogo de interesses, sem dúvida.  Mas jogo limpo. 

quinta-feira, 17 de março de 2011

Um susto

                                             

           














             Entrou no elevador e apertou o botão do oitavo andar.
            Não, não era sua casa.  Era seu escritório impecável, livros todos no lugar, sala e banheiro cuidadosamente limpos, computador, um grande bloco em cima da mesa larga, o copo de cerâmica pintada pela mulher, artista de primeira linha.
            Ligou o ar refrigerado, mas só na ventilação; não havia calor, era maio.  Fins de maio.
            Abriu a porta do banheiro.  Caído, com leve filete de sangue na boca, seu sócio estava ao chão.  Um homem já gasto pela idade.  Trabalhava na advocacia por não saber parar.  Era um dos melhores, e acreditava que se parasse, morreria por falta do que fazer.  Ainda comparecia às audiências e outros procedimentos judiciais, mas o seu forte, terrivelmente forte, eram os arrazoados, perfeitos, os juízes fossem de qual instância, comuns, desembargadores ou ministros tinham gosto de ler sem aborrecimento as razões do velho advogado.
            Apavorado, ligou para a polícia.  Em pouco tempo estavam presentes dois policiais e a perícia.  Não havia sinal de violência.
            Removeram o corpo.  Ninguém se opôs à autópsia.  Afinal, a causa era desconhecida, mas não pelos policiais.  O peito arroxeado demonstrava claro enfarte.  Cabia aos legistas a palavra final.
            Certo.  Enfarte mesmo.  Mas o advogado jovem estava desconfiado.  O colega e amigo havia falado numa mulher que estava de olho comprido no seu dinheiro.  Coisas de alcova.
            Não resistiu.
            - Doutor, e aquela marca de sangue nos lábios?
            - Não é muito comum, mas acontece quando o infarto se complica.  Pode acontecer um sangramento.
            - Infarto mesmo?
            - Sem a menor dúvida.  O tórax estava muito tomado pelo sangue.
            Foi-se embora, compareceu quieto ao enterro, e nada mais falou sobre o assunto.  Grazinska era enfermeira diplomada na Rússia, com tese defendida.
            Sabia que existem muitas maneiras de matar-se alguém sem vestígios?
            Pois saiba!  Não é o primeiro caso.  

quarta-feira, 9 de março de 2011

João Ubaldo Ribeiro

            Parto para o sacrifício.  Conscientemente.
            Adoro e leio as crônicas de Ubaldo.  Direto, objetivo, sempre seguindo linha própria e inteligente.  Não gosto do autor romancista, e tenho a coragem de afirmar isto.  Vamos com paciência e por partes.
            Os livros por ele publicados têm muitos pecados.  Mesmo “Memórias do Sargento Getúlio”, que me parece o mais simples de ser entendido, dá trabalho ao leitor.
            O meu caro literato prima por ser prolixo e confuso, embora muito rico.  Seus romances, quase sempre, afastam o leitor contemporâneo, que admira a clareza e repudia o gongorismo.  Assim é que Ubaldo, talvez querendo bater “Casa Grande e Senzala”, de Gilberto Freire, escreveu “Viva o Povo Brasileiro”, um livro muito ingrato de ser apreciado.  Dito como um dos mais importantes livros da literatura brasileira, não se compara com o que pretendeu suplantar.
            É complicado na linguagem, que Ubaldo teima em usar, talvez pela sua forte influência de Vieira.  Com custo, para estudo somente, o livro é lido por causa dos comentários que recebeu.  Chato, chatíssimo, precisa de uma dose de paciência muito grande para ser digerido.  Por cima de tudo, com mais de setecentas páginas.  Um abuso literário, dos maiores.
            Dirão todos: “um cronista idiota querendo criticar um de nossos grandes autores.”  Não!  Pretendo apenas falar, dizer que respeito profundamente João Ubaldo Ribeiro, mesmo em “Viva o Povo...” Li todo, à custa de sacrifício, que o autor poderia me ter poupado.  Não seguiu as sagradas regras, atrapalhou tudo e criou um livro para intelectuais, somente.  Erro dos maiores.
            Talvez seja idiotice minha, admito.  Mas, no momento, quero ver quem encara um tijolo daqueles sem reclamar.
            O exagero de Ubaldo é a simplicidade de Guimarães Rosa e Jorge Amado.  A simplicidade e objetivo acima de tudo.  Fui aluno de um dos maiores matemáticos do Brasil, professor Benjamim Carias de Oliveira.  Sempre, em todas as suas aulas, dizia “seja direto, simples e objetivo”.  Estudei, por conta própria, até atingir os fundamentos mais básicos do cálculo diferencial e integral, mais de trinta e cinco anos consecutivos, Matemática e Física.  Minha pretensão não era, em absoluto, tornar-me um experiente nas matérias, mas sim aprimorar minha atividade de navegador, fato que consegui, mas nunca dei a volta ao mundo num veleiro!  Não sou um pateta!
            Simplifica nos romances, Ubaldo, simplifica!  Literatura é para o povo instruído, não para professores universitários.    

quarta-feira, 2 de março de 2011

Vila Real da Praia Grande

Itacoatiara













                                   

            Vila Real da Praia Grande nada mais é do que o antigo nome de Niterói, na época Nictheroy.
            Gosto dela.  Aqui fui criado, educado e vivido.  Começo a escrever sobre a minha terra.  Prossigo aos poucos, para não cansar.
            Não há quem desconheça nossas praias oceânicas.  Saindo da baia da Guanabara, Piratininga é a primeira, longa, com mais de três quilômetros de extensão, areia branca de doer os olhos mesmo quando a claridade não é muita.  Seguem Camboinhas e Itaipu, sendo que a primeira é apenas o início de Itaipu.  Modismo de apalermados; Camboinhas era o nome de um navio de ficou à matroca e acabou encalhando na areia.  Era a atração do lugar, até que o ferro velho foi desmontado.  No lugar surgiu um bairro de gosto duvidoso, entre belas casas e experiências de arquitetos ou mesmo donos de terrenos que desenharam suas habitações.  Mas ficou elegante, agora.
            Piratininga perdeu sua beleza noturna, pois foi iluminada por verdadeira usina de força, tirando o brilho das estrelas que embelezavam o lugar.
            Mas o paraíso está escondido em Itacoatiara, talvez a mais bela praia do litoral brasileiro.  É toda cercada pelas montanhas que fazem parte da Serra do Mar, não muito grande, com cerca de seiscentos metros. O mar é forte e tem correntezas.  Em muitos dias do ano, só surfista mesmo.  Mas como o lugar é perfeito, uma pequena praia permite o banho de crianças.  Interessante que a maioria dos moradores é carioca.  Eles vivem entre árvores floridas, ruas sem calçamento... Um outro mundo.