quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cana dura














Cana dura

Acordou com o barulho de uma trombada de automóveis.
Olhou pela janela, discussão entre os motoristas, mas ninguém machucado. Falou um palavrão baixo, e foi para o banheiro. Não era do tipo que quando entra num banheiro fica horas. Em pouco tempo saía, banho tomado, ducha fria embora o tempo não recomendasse.
Vestiu a calça de gabardine azul, colocou uma camisa leve e mandou a japona por cima de tudo. Saiu do apartamento pequeno depois de ter comido duas bananas-prata e tomado uma xícara grande de café, enquanto fumava um cigarro vagabundo e examinava a Colt quarenta e cinco .
O velho Citroen preto, modelo 1957, pegou na primeira virada. Trânsito leve, até a delegacia onde era titular. Saulo. Delegado Saulo, bom amigo e policial, mas bem ruinzinho com os bandidos. Havia trabalhado na Invernada de Olaria e foi um dos bons de lá.
- Bom dia, doutor.
- Bom dia, Ramos. Tudo tranquilo por aqui?
- Sem problemas, doutor. Apareceu uma mulher, está na sala do escrivão. O marido encheu de pancada.
- Prenderam o homem?
- Foram buscar. Não demora e ele chega. Trabalha na fábrica de biscoitos.
Esta fábrica era referência do lugar. Seus produtos não eram grande coisa, mas por serem baratos tinham freguesia certa. Saulo, o delegado Saulo, foi até a sala do escrivão. A mulher já havia dado a notícia do crime. Uma marca roxa no rosto, lesão corporal leve. Com uma ligeira conversa, ficou sabendo que o motivo do soco foi um vestido decotado que a mulher havia encomendado à prima. Foi fazer compras com ele, mas o marido já havia avisado que não usasse aquela indecência.
A camioneta do distrito chegou. Motorista, o detetive Jalmir e o preso, logo encaminhado ao delegado Saulo.
- Valentão, dar porrada em mulher é fácil. Tenta comigo.
- Doutor, ela pediu o castigo. Saiu de casa como uma vagabunda, exibindo os peitos.
Falou de cabeça baixa, sem encarar o seu interrogador, como é hábito nas delegacias.
- Dá porrada em mim, seu puto. Olha!
Esticou a cara para ser agredido. O preso não era maluco. Um leve tapa no delegado significaria pancada grossa no seu lombo, ele sabia disso.
- Não vai dar não? Então toma!
Levantou-se e deu uma tapona na cara do ciumento. Tapa de Saulo era feito um coice. O homem caiu sentado.
A mulher, que assistia a toda cena, agarrou-se ao delegado.
- Doutor, não bate nele não, pelo amor de Deus! Fui culpada, culpada aqui sou eu. Saí com um vestido indecente. Deixa ele, eu retiro a queixa agora mesmo.
É sempre assim. Quando vê o marido apanhando, ela não aguenta e pede para parar.
- Sumam da minha frente antes que sobre para os dois.
Parece invenção? Procure saber. Dependendo do local do distrito, este fato acontece sempre, quase todos os dias.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Solidão de todos nós



















Solidão de todos nós

Não é meu costume escrever páginas negras. Prefiro calar.
Mas um fato parece-me verdadeiro: a solidão atinge o homem, mesmo o que vive cercado de amor e carinho. A vida partilhada com a família e amigos não é apenas saudável, é necessária.
Enganam-se os que pensam ser a solidão um mal humano. Se a pessoa manifesta sempre este tipo de comportamento, o fato pode ser doentio, mostrando uma depressão. Caso manifeste-se em momentos de reflexão, nada tem de anormal ou doentio. Afinal, somos seres pensantes e dentre os problemas da vida humana, a solidão é uma constante existencial.
O Universo é grande e incompreensível. Olhamos para dentro de nós mesmos. A grandeza é igual, e a compreensão, pequena. Quis a ciência médica, a análise dos fatos internos, colocar o homem diante da sua realidade.
Não discuto o fato, mas acredito que estamos longe, muito distantes de compreender nossas vidas. Surge uma luz aqui, outra alcançando questão mais distante.
E daí? Continuo acreditando que a Vida é um grande mistério, e é exatamente isto que a torna tão maravilhosa. Um otimista iludido, alguns dirão. Até pode ser a maior verdade, mas no meu íntimo, acredito que é uma equação matemática. O homem vive se procurando, indagando-se.
Tudo isto é ótimo, vamos descobrindo nossas verdades, enquanto vivos.
Depois, ninguém sabe.

imagem: Velho Triste/Van Gogh

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Tempo















Tempo

Tempo de amar, com ternura
De meditar com alma pura
Se o que a Vida oferece
É sempre mais uma prece.
Tempo que vai e não volta
Que não precisa de escolta
Pra passar no campo molhado
De tanto o pranto chorado.

Vai tempo!
Diga a esta gente sofrida
Que é esta nossa vida,
Incerta e não sabida.
Diga também com calor
Que todo o meu ardor
É só um ato de amor
Nesta eterna subida.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Mas afinal, o que é um blog?


















Mas afinal, o que é um blog?

Esta é uma pergunta que muitos se fazem, os que têm ou não a sua página pessoal na internet.
Não sei quem inventou o blog. Mas ele hoje está espalhado pelo mundo, e instrumento de famosos e desconhecidos.
Mas o que é um blog?
Conceituar, ou mesmo rotular, não é fácil. Um blog, a princípio, nada mais é do que um depositário de idéias, memórias, planos e tantas outras atividades do homem.
O uso é diverso. Repetindo o que já foi dito, ele pode ser literário, como este, ou político, músico e por aí vamos. Acredito que ele é tanto melhor do que a opinião isolada, pois não pode existir blog sem crítica. Ela, quase sempre, é feita por outros participantes da comunidade, que é bastante grande. O diário pessoal acaba tornando-se público, acessa quem quiser, comenta quem bem entender.
É bastante democrático. Não segue as regras de imprensa escrita, não está sujeito à propaganda de produtos, e o mais importante, é grátis. Assim sendo, é ótimo. O povo diz, com razão, que grátis até um copo d’água sem gelo é bom, e mostra em qualquer ocasião favorável que está falando a verdade.
Como obter um blog de sucesso não é tarefa fácil. O povo, seja de onde for, não se interessa por música medieval, por exemplo. Mas adora futebol. Donde tiramos nossa primeira conclusão: quanto mais for popular o seu assunto, mais será lido e comentado. A atitude é normal, não se pode exigir que o homem comum conheça Vivaldi.
Interessante notar a sua evolução. Começa como uma brincadeira, talvez, mas vai ganhando força até que se transforma, para o seu criador e leitores em peça séria e cultivada com carinho.
Dizem, e eu acredito, que pelos blogues se conhece o autor.
Só isto, mais nada. Por enquanto.