Lugar da moda.
Geralmente são chatos, salvo no verão, quando o chope é muito bem
tirado.
— Rapaz, deixa de implicância. Olhe as panturrilhas dela.
— Que tem?
— Perfeitas, nenhuma mulher com panturrilha cheia e bem
formada assim é feia. Duvido!
Canecas cheias, não eram de louça, mas vidro. Os dois não aparentavam ser gente comum. Artistas, talvez. O que tinha feito a afirmação sobre as pernas
de uma mulher que aparentava ter passado dos quarenta, usava uma bermuda para
correr, estava de tênis e camisa de malha azul.
O outro, mesma coisa, só diferia a cor da camisa. Era branca e estava
pouco suada. Quem os visse, sabia de
pronto que eram tipos que gostam de correr nas calçadas da praia, e depois
bebem uma cerveja para hidratar, segundo eles.
A moça, quer dizer, nem tanto assim, continuava seu
caminhar. Coxas escondidas pela roupa,
mas que não impedia a visão da parte inferior das pernas. Realmente, eram muito bem desenhadas.
— Não trouxe o celular, vamos ficar sem fotografia.
— Trazemos amanhã, e fotografamos de frente também.
— Pastel ou óleo?
— Primeiro pastel.
Se ficar bom vai no óleo também.
Estava descoberta a profissão de um deles. Pintor.
A gente nunca pode afirmar se era profissional ou não, no lugar quase só
moram artistas. O prato das finas
rodelas de linguiça ainda estava com boa quantidade. Os canecos foram cheios mais uma vez. Mais esta caneca e casa, banho, e depois um
aos pincéis, o outro na mesa grande do escritório. Terminava um livro de contos.
Bêbado costuma ser inconveniente, como aquele que entrou
no bar sofisticado e se dirigiu ao pintor:
— Salve! Não era
você que estava expondo no salão da Reitoria?
Não tem vergonha? Você não pinta
nada.
— Não aborrece, cara.
Se manca, cai fora, deixe os que estão quietos em paz.
— Não gosto de mentirosos. Aquilo não é arte.
— Vou acabar perdendo a paciência com você. Não é arte é problema meu. Vai comprar ou foi comprar alguma coisa e
desistiu?
— Mas nem pensar...
— Então fora. Está
incomodando.
A mulher das belas panturrilhas estava voltando. Morena, muito bonita. Os dois amigos, que já se preparavam para uma
provável briga, ficaram espantados quando ela se dirigiu para onde
estavam. Bonita mesmo!
— Clara, este é o tal pintor que vimos suas porcarias
ontem.
— Vamos embora.
Temos hora, esqueceu?
Era a mulher dele.
Pediu desculpas com muita delicadeza, para justificar os atos do marido,
que nada percebeu, tão de fogo ele estava.
"Blue Poles", Jackson Pollock
"Blue Poles", Jackson Pollock