sexta-feira, 26 de abril de 2013

Plebiscito



 
           Tradicionalmente reconhecido como a forma mais democrática do poder ser exercido, está em discussão séria a votação popular de medidas tomadas pelo Supremo Tribunal Federal, quando declara ato julgado inconstitucional por seis dos seus membros.

            Os ministros Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes já se posicionaram frontalmente contra a medida legislativa, que é de autoria do deputado petista Nazareno Fontes (PI).  A medida legislativa, ainda em tramitação, é a PEC 33/11.  PEC significa “Proposta de Emenda à Constituição.”

            Sem dúvida alguma o plebiscito é a medida mais democrática a ser tomada contra qualquer autoridade, e não apenas ao Judiciário.  O Legislativo e Executivo deveriam ser rigorosamente fiscalizados pelo povo; eles existem para servir, e não para serem servidos.  Qualquer autoridade, seja pessoal ou coletiva, não pode tomar nenhuma medida que seja contrária ao interesse das gentes.  É a regra fundamental da democracia.  O plebiscito é a arma do povo.

            Ora, dois ministros já se posicionaram contra.  Na realidade, provavelmente todos eles têm o mesmo entendimento.  A causa, não mencionada pelos ministros Barbosa e Mendes é uma só.  Eles sabem da ignorância política do povo brasileiro, que pode tornar o Supremo completamente ineficaz e submisso.

            O deputado que apresentou a PEC não fala em medidas tomadas pelo Congresso Nacional, ou pelo executivo.  Portanto, é parcial.  Parcial e suspeita. Basta seguir com os programas populistas e um resultado de plebiscito pode não ser legítimo.

            Plebiscito sim!  Mas a ser votado para analisar toda e qualquer autoridade. 
 
Imagem:  "A Liberdade Conduzindo o Povo", Eugène Delacroix, Museu do Louvre. 

 
Publicado no Pravda de 29/04/2013  http://port.pravda.ru/news/cplp/29-04-2013/34551-plebiscito-0/

sexta-feira, 19 de abril de 2013

A maldição Lula


 

Louvado por muitos, Lula está sendo visto agora como verdadeira maldição para o país. 

            Sempre debochou das pessoas esclarecidas, afirmando que diploma não dá autoridade a ninguém.  De fato, não dá mesmo.  Da mesma forma, a ignorância, o preconceito e o despreparo devem estar longe dos políticos que dirigem uma nação.

            Quando assumiu a presidência, Lula encontrou um país recém-saído de processo inflacionário grave, resolvido pela equipe dos economistas matemáticos André Lara Resende e Pérsio Arida, que extirparam a inflação da economia brasileira, fato que já durava um século.  No final, tempos do governo Sarney, estava intolerável, atingindo patamares simplesmente ridículos.

            O pesadelo terminou, e o governo foi entregue ao líder petista.  Analfabeto, tratou de cercar-se de antigos membros ‘aceitáveis’ para o PT, como o Diretor do Banco Central, Henrique Meirelles, banqueiro de larga experiência e que também trabalhou no Plano Larida, assim denominado por conter os sobrenomes dos idealizadores, Lara e Arida.   Com Meirelles no Banco Central, a economia aguentou-se bem no primeiro governo petista.

            Os desmandos foram se acumulando.  Inflação não surge do dia para a noite, é insidiosa, vem devagar e sorrateira e afinal se instala.  É o que está acontecendo na fase Dilma.  Ela acaba de corromper o poder de compra do brasileiro em 23,1 % em São Paulo; 22,7 % no Rio de Janeiro; 22,5 % em Brasília e 32,6 % em Salvador, durante o ano que passou.  O salário mínimo teve alta de apenas 9%.  É a pior crise em 10 anos, tempo que dura o governo petista no Brasil. A informação vem da UOL, de 13/04/2013, assinada pelo jornalista Sílvio Guedes Crespo.

Um exemplo drástico é a Petrobras.  Petróleo sempre foi o melhor negócio do mundo.  Nas mãos dos incapazes, deu um prejuízo de 1,346 bilhão, no segundo semestre de 2012.

            Não consigo entender o silêncio de escritores diante de fatos como este. O homem de letras sempre esteve profundamente comprometido com a política, e não poderia ser de modo diferente, já que é um formador de opinião por excelência.
 
Imagem:  Inferno 2, Hieronymus Bosch,  Museu Hermitage, São Petersburgo.


sábado, 13 de abril de 2013

Esplendor



Desponta o sol no horizonte
E a vida sorri no instante,
Suplicando que alguém conte
A grandeza do levante.

O dia está luminoso
Trazendo para nossa alma
Um espírito esplendoroso
Que tudo conforta e acalma.

São mesmo certos momentos
Felizes e de grandeza                            
instantes de encantamentos.                            

Que venha a luz, venha o dia,
Que venha a doce pureza,
Enfim — a graça e harmonia!

Imagem:   "Girassóis", o/s/t. Vincent Van Gogh   

sábado, 6 de abril de 2013

Construção



       
            Talvez a mais importante obra de Chico Buarque, “Construção” é um belíssimo poema, capaz de fluir facilmente e com melodia na própria letra.
            Chico Buarque é um poeta de muitos recursos.  É bom que se recorde que na sua infância e juventude, tinha em casa, além da companhia do velho Buarque de Holanda, muitos amigos deste, todos intelectuais de primeira água.
            Seu parceiro de música e copo, Vinícius de Moraes, era um dos que estavam com frequência na casa do então menino Chico.  Ora, não é novidade para ninguém que Vinícius é um dos maiores poetas brasileiros.  Nesta época o talento do compositor já sofria influência de Noel Rosa; Chico jamais negou isto.  Parece mesmo que é um motivo de orgulho.
            Não tenho intenção de biografar o artista.  Prendo-me à música e principalmente a letra de “Construção”.  Ela está feita, toda, em versos dodecassílabos, e a última palavra de cada verso é sempre proparoxítona. Com acentuação perfeita, é cantada com extrema facilidade, mesmo com poucas rimas, quase inexistentes.  É exemplo nítido que a poesia pode soar sem rimas, mas só quando feita com grande conhecimento deste ramo da arte literária.  Sem esta exigência, os resultados são sempre drásticos.
            Passo a letra da obra famosa.  Contem as sílabas poéticas e comprovem que todos os versos são alexandrinos, sem ser um soneto, mas um longo e belo poema.

“Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão como um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado.”

            Está posta a questão.  Basta ouvir o autor, que se apresenta magnificamente bem.