terça-feira, 24 de junho de 2014

É racha mesmo

            
            Futebol... Campeonato do Mundo, a casa é nossa.  Ideia de Lula – quem mais poderia ter um apagão destes?
            Como sempre, os palpiteiros, fofoqueiros e entendidos nunca estiveram tão ativos. Só aqui é assim? Parece que em todos os cantos.  Apostas são poucas, quem gosta do assunto são os ingleses.  A gente não sabe a cotação do Brasil.  Agora que eles foram embora, vamos ficar sem saber nada.
            Se não temos aposta, vai na adivinhação.  Sabidos estão em todas as partes.  Já não disseram que determinado Prêmio Jabuti foi entregue a autor diferente do combinado?  Aliás, não é exatamente autor, mas editora.  Corrigiram no ano seguinte.  Mas o que tem a literatura com o futebol?  Muita coisa, senão nunca existiria título de livro como “O país do futebol”.  E Nelson Rodrigues ficaria apenas nas peças de teatro, na “Vida como ela é”.  Mas não. “A Seleção é a pátria de chuteiras”, “impossível é o Brasil não ser campão do mundo”, e tome de futebol.  “À sombra das chuteiras imortais”.  Mesmo quem não gostava do esporte não deixava de ler, no “O Globo”.
            O fato é que estamos presenciado e sediando a Copa de 2014.  Protestos e mais protestos antes.  Agora não adianta mais, os estádios estão construídos, as escolas vão mal, obrigado, mas a bola tem que rolar.
            Voltam os entendidos.  A FIFA já teria dado uma mancada, o campeão deveria ser o Brasil, em torneio anterior. Corrige agora!  Quer tempo melhor?  Faixa ganha em casa, Dilma vai fazer uma promoção de João Saldanha – salve, mestre – botar defeito algum.
            E as seleções que estão, ou estavam por aí?  Coisa horrorosa, nem a Inglaterra escapou da decadência, já embarcou de volta. Como?  Ah! Essa gente hoje só pensa em dinheiro, futebol mesmo, nada.  A hora e a vez é do Brasil.  Absurdo, diziam os entendidos.  Mas com o desenrolar dos jogos, ficou constatada que esta é a Copa dos Pernas-de-Pau.  Tem hífen sim, pelo menos no Aurélio, e expressões tradicionais continuam como sempre foram.  Viu como o futebol tem mesmo parentesco com português?  A Copa é nossa, por interesse da FIFA e pela Seleção ser a melhorzinha.  Desculpem os raros grandes jogadores que dela fazem parte.  Não temos jogos.  É racha mesmo.
            E se perder?  Bom, neste caso, ainda de acordo com  os palpiteiros, nem as forças armadas brasileiras, somadas aos marines e rangers norte-americanos vão dar conta do recado.  Saravá, mangalô três vezes! 


Publicado no Pravda de 04/07/2014http://port.pravda.ru/news/busines/04-07-2014/36974-racha_copa-0/ 

quarta-feira, 18 de junho de 2014

O poder

    
 
            O poder atrai.  Ninguém desconhece este fato.
            Atropelada por uma onda de incertezas, com medo e acuada pela opinião pública, Dilma acreditou no que os verdadeiros donos da República lhe empurram goela abaixo.
            Governar por decreto, sem Congresso, o sonho de qualquer ditador ordinário.  Quem são os autores da ideia?  Tenho responsabilidade, não posso apontar nenhum.  Certamente Lula está de acordo, mas também é cego politicamente e não creio que faça parte deste time de malfeitores, já que a palavra ‘bando’ não é mais reconhecida.  Ele apenas gosta da ideia.
            Assinar e pensar que vai poder governar por decreto até não se sabe quando é uma temeridade.  Politicamente ignorante – tem cara disso – Dilma não foi capaz de perceber que nem mesmo Vargas, se estivesse no poder, tomaria tal atitude.  Sempre foi extremamente arrogante, mandona e bastante incapaz.  Não enxerga nada do delicado jogo que se chama política.  Ele é difícil mesmo.  Putin é um homem poderoso na Rússia.  Não de graça.  Com o fim da União Soviética, poderia sobrevir guerra civil sanguinolenta.  Como antigo diretor-geral da KGB, o coronel Wlado, com habilidade e mão de ferro, soube impedir que tal fato acontecesse.  A Rússia sobreviveu sem muita dificuldade a passagem de um regime político para outro diverso, graças ao homem que sabe jogar em tabuleiros difíceis.
            Obama entrou na presidência dos Estados Unidos também em momento difícil, interna e externamente.  Enquanto o problema social aborrecia o americano, a guerra no Iraque exigia um fim, ou uma solução que a abrandasse drasticamente.  O simpático negro e alto, elegante, conduziu as peças do complicado jogo de xadrez com maestria, e acalmou o protesto americano.
            Alguma alma maldosa cochichou com Dilma que seu destino pode ser histórico.  Talvez possa mesmo.  O exemplo Getúlio ainda está bem vivo.
            Em suma, a democracia plena impede que o executivo legisle, o que é ato de autoritarismo desmedido.  Interessante é que o presidente da Câmara dos Deputados ainda não tenha tomado providência alguma.  Aliás, nenhum chefe político tomou, sabe-se lá por qual motivo. O momento é tenso.
            Ainda manietada pelo ministério da Justiça, a qual está subordinada, a Polícia Federal clama por autonomia.  Não pode obedecer ordens de políticos, mas dos seus próprios chefes, a serem eleitos com regras determinadas.  Se algo ainda não aconteceu de mais grave no país, a PF é uma das responsáveis.  Seu serviço de informações é tão eficiente que nem mesmo se desconfia que ele exista.
            Quando esta séria irregularidade vai acabar, não se sabe.  Verdade que nenhum ato foi tomado pela presidente.  Mas nem por isso se pode cruzar os braços.
 
 

domingo, 8 de junho de 2014

O Brasil vai mal, desculpe

 
            Quando era chanceler na ONU, Oswaldo Aranha sempre que cumprimentado respondia “o Brasil vai bem, obrigado”.  Já escrevi isso não sei quantas vezes, e vou continuar escrevendo, sou discípulo de Nelson Rodrigues desde o ginásio, e o nosso teatrólogo maior adorava uma repetição.
            Vou fugindo do assunto propositadamente.  Escrever falando o que sente da pátria no momento dói.  Mas estou velho no assunto, tenho que enfrentar.  Explico: a coisa vai mal. O povo deseducado, os políticos cada vez mais omissos, ou até mesmo maldosos demais. 
            Estamos a poucos dias do início da Copa Mundial de Futebol. Normamente, o brasileiro fica numa euforia gostosa de se ver.  Coloca enfeites nas ruas, pinta a bandeira no asfalto, as prefeituras dão prêmios aos lugares mais bem decorados, é tudo uma alegria só.  Aqui, como se não bastassem os estádios superfaturados que não servirão para nada quando os jogos terminarem, o aeroporto de Brasília ficou inundado com uma chuva comum. Ainda não está totalmente construído, mas o telhado deixou passar muita água. Ora, construir um telhado é fácil.  A gente fica com medo da estrutura do prédio.  Se o telhado não vai bem, e o resto?  Faz pouco tempo, coisa de dias, que um cidadão morreu de enfarte por falta de atendimento.  Em frente ao Instituto Nacional de Cardiologia!
            A presidente diz que tudo vai bem.  Que nada vai cair.  Esperamos que sim.  Enquanto isso, ela baixa um decreto criando ‘comissões populares’ para votarem leis.  Não se entende.  Quem legisla é o Congresso, eleito pelo povo, e não comissários nomeados, ganhando sabe-se lá quanto.  Um deputado não custa menos do que cinquenta mil reais por mês, fazendo as contas por baixo. O salário mínimo gira em torno de pouco menos do que mil reais, ou seja, o parlamentar ganha cinquenta vezes mais do que um operário sem qualificação profissional.  Não vai fazer mais nada, as ‘comissões populares’ vão assumir esta responsabilidade?  Diante da lei, esta criação é um absurdo dos maiores, a Constituição veda tal procedimento, que é uma afronta ao Legislativo.
            Inflação crescente, educação cada vez mais precária, alunos agredindo professores, a guerra do tráfico matando uma média de vinte pessoas por dia, entre bandidos e policiais, o número já supera muito a Guerra do Vietnã – diabos, onde o Brasil vai parar?
            O mais interessante é que mais de setenta por cento da população quer reformas, mas a presidente continua liderando as pesquisas eleitorais. Dizem os entendidos que o seu governo foi o pior que o país já teve, desde as Capitanias Hereditárias.
              

Publicado no Pravda de 7/6/2014  http://port.pravda.ru/news/desporto/08-06-2014/36879-brasil_copa-0/

terça-feira, 3 de junho de 2014

Demorou

   
 
            Quieto, dando poucas entrevistas e ainda escondido, o senador Aécio Neves foi o entrevistado de Roda Viva, em 2/6/2014.
            Pode expressar com clareza seus pontos de vista políticos, mesmo quando apertado por entrevistadores mais duros.
            Simpático, não deixou de responder a nenhuma pergunta, mesmo quando inquirido, com muita habilidade, se fazia uso de drogas.  Além de negar, afirmou ser contrário à legalização.
            Não se admite como que em país onde setenta por cento do povo quer mudar, a presidente conservadora se mantenha como favorita nas pesquisas eleitorais, uma contradição.  Custou, mas quando teve oportunidade, Aécio foi firme.  Não é possível que um neto de Tancredo Neves, duas vezes governador de Minas e atualmente senador da República fosse um pasmo.
            A formação popular veio de Getúlio Vargas, atualizada no tempo.  Ficou também claro que possui excelente equipe de conhecidos nomes nacionais, tendo sido citado o nome de Armínio Fraga.
            Cuide-se, Dilma.  Vai ser engolida e nem sabe como!
            Convenceu, senador.