quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Prólogo ao Lamparina de Oratório Velho




Este trabalho tem o título furtado.  Meu pai pretendia levar até o fim histórias que viveu na sua infância e princípio da juventude, na sua cidade natal, Bom Jardim, Estado do Rio de Janeiro.
            Advogado de invulgar talento, inteligência rápida e muito objetiva, nos dez anos finais da sua vida ocupou-se de trabalhar textos onde pretendia mostrar a luz da Lamparina de Oratório Velho, que nunca pude saber com exatidão se era sua casa quando criança, se alguma capela de fazenda do lugar, ou mesmo se o oratório velho era mesmo seu corpo e sua alma, iluminados por velha lamparina de querosene.  Ele jamais foi taxativo a este respeito.  Escrevia, não falava demasiado sobre o lugar, salvo o essencial.
            Não terminou o seu livro, que fazia devagar e procurando transmitir fatos engraçados, comuns ou mesmo tristes, fatos da Vida.  Herdei dele este gosto por escrever; divido com a minha mãe que era eclética: pintava e tocava piano, era formada nesta última arte.  Incluo meu irmão, conhecedor da música clássica, especialmente óperas, que escutava diariamente.  Jorge, Julinha e João Carlos, tão queridos meus que já se foram e aos quais presto minha homenagem.


http://www.bookess.com/read/14614-lamparina-de-oratorio-velho/
 




terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Arte















Dificilmente alguém dirá com certeza e segurança o que é a arte. Os teóricos dão definições, explicam a atividade humana que necessita e exige espírito elevado quando se dedica ao ramo que prefere e pratica.
Interessante que muitos artistas viveram vidas tumultuadas, mas no momento que praticavam seu ofício a disciplina tomava conta. Não é necessário dar exemplo, creio. Todos conhecem um músico ou pintor com a vida completamente desregrada, mas excelente artista. O que se nota é um grande entrelaçamento entre todas as artes, literatura incluída. Na minha visada, sua irmã mais próxima é a música. A opinião é pessoal e não tenho como justificar; apenas sinto. Não se trata de fato intelectual definido, mas tão somente uma emoção.
 Também não faço distinção entre as formas de determinada arte, se a popular é menos valiosa do que a dita clássica. Muitos livros que eram vendidos nas bancas de jornal são bem melhores do que outros tantos, lançados por grandes editoras. Dou apenas um exemplo: o escritor Ed McBain, autor da série famosa 87º Distrito Policial, era tão bom como qualquer autor da Gallimard. Não é mais encontrado. A antiga Edições de Ouro transformou-se e infelizmente não tem suas livrarias espalhadas pela cidade, nem seus livros mais populares são vendidos nos jornaleiros.
A opinião não é só minha. Há alguns anos, a acadêmica Nélida Piñon observou a poesia de Cartola (Angenor de Oliveira, 1908, 1980). Categoricamente afirmou com autoridade que considera o compositor um dos grandes poetas brasileiros. E justificou com a letra de “As rosas não falam”:

As Rosas Não Falam
Cartola

"Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão,
Enfim
Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim
Queixo-me às rosas,
Mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai
Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim."

Então eu pergunto onde está a supremacia de Drummond, o intelectual, comparada com mestre Cartola, que tomava cachaça nas tendinhas do morro. Não existe. Têm apenas os bons e maus artistas, se é que estes últimos existem. Eu não creio.

sábado, 12 de janeiro de 2013

O casamento da amada



















Muitos estranharam a presença do homem de meia-idade que assistia ao casamento de uma linda moça com um rapaz nem tanto.
Finamente trajado, demonstrando educação esmerada, o homem claramente demonstrava não ser qualquer mortal desconhecido, embora seja isto, na realidade, o que somos. Prestava atenção na elegância e requintada beleza da noiva. Vez por outra, uma lágrima corria dos seus olhos. Explica-se: durante dois anos, foram apaixonados. Paixão que não se concretizou, não namoraram, não ficaram juntos. Mas nem por isso deixou de ser muito intensa.
O encantamento da noiva causava inveja aos magoados pela vida. Nosso homem, não. Exibia um sorriso de contentamento. Seu convite, por especial delicadeza, partiu da própria noiva. Na cerimônia, só ela o conhecia. Podemos dizer que aos olhos dos presentes, era um intruso. Mas com compostura que ninguém se atrevia de perguntar quem era ele, e o que fazia ali. A dignidade da sua aparência não autorizava tal medida. Ele sorria. As lágrimas de amor que rolaram na sua face foram de contentamento.
 Ele jamais poderia casar-se com a bela e delicada jovem que recebia as benções do matrimônio dadas pelo celebrante. Estranho mundo! Quando muitos se odeiam por razões insignificantes, o nosso homem encontrava-se calmo e feliz. Era isto que o seu rosto demonstrava.
Foi abordado por um parente da noiva, com discrição. Perguntado quem era, uma falha terrível de quem se presta a estes papéis, mostrou o convite tirado do bolso interno do paletó, que dava direito a participar da cerimônia e da festa. Muitas questões são misteriosas, nesta vida. Neste exato momento, talvez pressentindo que havia algo a ser resolvido, a noiva virou um pouca a cabeça e viu a cena. Lançou um belo sorriso. Seu tio, sem mais o que fazer, apenas perguntou ao homem que se mantinha inabalável, pelos menos externamente.
  — Estou vendo que é conhecido da sobrinha, e sua fisionomia demonstra ao mesmo tempo alegria e tristeza. Posso saber o que se passa, senhor?
— Pode sim. Fomos apaixonados. A felicidade dela é a minha felicidade.
Terminada a cerimônia, a noiva ao passar por ele deu um olhar, como que de respeito e agradecimento. Os olhos brilhando do nosso homem responderam, com carinho e amor. A felicidade dela era sua também, é bom repetir. 
São coisas da alma, coisas da vida...

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Feliz Ano Novo

       
       Mais um ano se passa.
       A Terra continua sua dança no espaço, entre incontáveis astros que giram nas suas órbitas indiferentes a tudo e a todos, como se fosse um sonho.  O Universo a tudo assiste, como um espectador impassível.
      Somos humanos.  Percorremos uma longa órbita elíptica em torno do Sol em 365,25 dias do calendário gregoriano, trezentos e sessenta e cinco dias e seis horas, mais exatamente.  Completamos mais um ano, mais uma volta inteira em torno do centro do nosso sistema, no harmônico balé universal que talvez não prestemos muita atenção.
Mas na verdade é o que acontece.  Um milagre espacial, do qual fazemos parte.
     Finda uma volta e imediatamente outra se inicia, não permitindo que cesse esta incrível e maravilhosa dança.
    Feliz Ano Novo a todos.  A Grande Festa não pode parar!
    Complementando, a pianista Valentina Lisitsa interpreta com todo o seu talento e virtuosismo, "La Campanella", de Franz Liszt.