sábado, 28 de agosto de 2010

Linda mulher

Abraço












O senhor que falava no telefone com um cliente, tinha por volta dos seus cinquenta e poucos anos.
Médico competente reunia grande clientela. Sua capacidade e dedicação já haviam curado muitos pacientes portadores de deficiências hormonais, uma especialidade médica difícil.
Sua agenda, sempre cheia, permitiu-lhe amealhar bom dinheiro, que soube investir bem.
Família não grande: mulher e duas lindas filhas.
O convívio era harmonioso, e alguns hábitos eram sempre seguidos. O café da manhã, sempre os quatro reunidos. Frutas, queijos, torradas e um café delicioso. A conversa, como a que iria acontecer durante a noite, era sempre muito agradável. Uma família perfeita, diziam.
A mulher, exímia encadernadora, principalmente em couro, tinha trabalhos e mais trabalhos por fazer. Amava aquilo, que aprendera por muito gosto quando jovem.
As moças não eram diferentes; a mais velha seguia o curso de medicina, onde se mostrava brilhante. Sua irmã, lindíssima, fazia curso para ser modelo. Tinha apenas dezessete anos, corpo esguio, rosto muito firme e bem postado, era uma linda mulher.
Os homens, ainda não se sabe e acredito que não vão saber nunca, por uma questão de equivocada virilidade e masculinidade, volta e meia gostam de provar a si mesmos que ainda têm o vigor da juventude.
Assim é que o doutor Ferraro, nas tarde de quinta-feira, ligava para um determinado número telefônico e tinha ao seu dispor sexual belas e jovens moças que cobravam caro e exigiam o uso de preservativo. Tinha este hábito por pouco tempo, seis meses.
Os encontros eram feitos nos mais diversos locais. Era por escolha de quem contratava, a preço alto, as mulheres sempre lindas.
Foi ao encontro de uma, num edifício elegante.
Quando a porta se abriu, num vestido longo, tom pastel, sapatos elegantes como todo o resto da mulher, um espanto para os dois. Dourada, e lindíssima, sua filha Rita agarrou-se com ele.
Foi o choro mais sofrido que ambos tiveram.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Os olhos da amada

Les demoiselles d'Avignon/Picasso
















Admiráveis criaturas, as mulheres. Eu as adoro! Afinal, sou filho de uma, e casado com outra.
Qualidades da mulher? Quem não as conhece? A mim me parece ser a mais intensa, a dádiva absoluta. Se não me engano, o fato de ser mãe, mesmo para quem filhos não teve, é mãe do mundo, principalmente dos necessitados, a mulher alegra a terra.
Traz a palavra exata no momento necessário. Não peça seu acalento; não é necessário.
Quem de nós não conhece mulheres admiráveis? Algumas são putas, putas que amam e querem amor. Por necessidade ou não, ela não perdeu as qualidades de mulher. Foram mal encaminhadas, mas quem pode colocar o dedo em riste? A vida tem e sempre teve suas vicissitudes e defeitos.
Conquistar o amor de uma é fácil. Basta que você transmita no olhar o seu sentimento. O crédito é imediato.
Digo que
Os olhos da minha amada
Têm um brilho tão encantado,
Que tal como bela fada
Tornam-me maravilhado!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Dias frios

Fondue













Não parece que estamos no Rio de Janeiro! O verão deste ano foi considerado um dos mais rigorosos em cinquenta anos.
Agora temos temperaturas de dezoito ou menos graus Centígrados, o carioca não está acostumado, e vamos de moletons, casacos, vestidos de lã grossa, meias, mulheres elegantes sem a maquilagem escorrendo pelo rosto.
Café com torradas e geléia, queijo mozarela, presunto. No verão este cardápio é perigoso!
Um tinto ‘honesto’ pouco antes e durante o almoço.
No sul do país, calefação funcionando. Nas serras, igualmente. O fogo nas lareiras é lindo, convida a pensar e outras coisas mais...
Fondue de queijo, sopas, chocolate durante a noite. Feijoadas no almoço, descanso depois, cheiro de banho tomado, sabonetes que deixam rastro.
Conversa animada, boas leituras, o conforto dos sofás.
Vamos aproveitar. Os brasileiros conhecemos muitas belezas e comodidades do país.
É aproveitar, antes que dezembro chegue!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A caneta de Vargas

A arma












A última reunião no Palácio do Catete não é bem descrita por motivos políticos entre os jornalistas. Esqueceram do profissionalismo e noticiaram segundo suas convicções político-partidárias.
A morte do major da Aeronáutica, Rubens Florentino Vaz, que fazia a segurança do jornalista e político Carlos Lacerda, autor de pronunciamentos terríveis no seu jornal "Tribuna da Imprensa", maior inimigo do então presidente Getúlio Dorneles Vargas, colocou o oficialato jovem das três forças armadas contra o assassinato do colega. Decidiram não mais obedecer ordens dos oficiais-generais que fossem para defender o status quo.
Ora, o major manda na tropa. Major significa maior. Os generais traçam seus planos, mas quem os faz a tropa cumprir são os majores.
No Galeão, sob o comando do coronel João Adyl Oliveira, estava instaurado um inquérito rigoroso que prendia ou convocava quem bem quisesse, a despeito do Ministro da Aeronáutica, Nero Moura.
Vendo desesperadora a situação. Getúlio convoca os seus ministros. A idéia era pedir um afastamento do cargo, até que o impasse se definisse.
Não funcionou, os ministros não chegaram a acordo algum, naquela fria madrugada de 24 de agosto de 1954. Terminada a reunião, ele teria chamado o seu Ministro da Justiça, Tancredo Neves e conversado bom tempo. Entregou a sua caneta, uma Parker 21 de ouro dizendo “ao amigo certo das horas incertas.”
Fato complicado. Ou já teria escrito a “carta testamento”, ou usou outra caneta.
O Museu da República é farto. Mas tem presidente que na legará nada, vergonha para um país.
A imagem que ilustra a crônica não tem por objetivo chocar. De modo algum. Serve como advertência.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Doçura mandou lembranças

Doce de abóbora













São seis bilhões de almas em cima do planeta. Só na China, um bilhão e trezentos milhões.
É muita gente vivendo neste cisco do Universo. Cada qual com sua mania, ou modo de ser. Muitas guerras, muitas lutas, fome, ódio. Tudo isso enquanto damos um passeio sideral pelo Cosmo.
Tem cabimento? Claro que não. Tudo neste mundo tem vida, e num dia ainda muito distante, o Sol vai findar, morrer. Acabam os países e quem quer que seja, basta estar ainda vivo, suportando um frio que não podemos imaginar. Dona Graça, ou Gracinha, como era chamada por todos, o que tinha de estranha, possuía de bondade.
Sabendo que não poderia resolver a alimentação dos que na pequena cidade onde habitavam, fazia doces diversos, para aquietar a fome e dar prazer aos que na sua cidade morava. Não era rica.
Tinha no quintal uma plantação de abóboras. A pensão que recebia do marido era curta, mas afinal o quilo de açúcar não é caro.
Começou sozinha. Conhecia uma receita de doce de abóbora de colocar o mais exigente gosto embevecido.
Acordava muito cedo, o Sol ainda estava descansando. O fogão e forno a lenha estavam disponíveis. Descascava a grande e vermelha nascida no seu quintal, fazia procedimentos que eram transmitidos de mãe para filha há longo tempo, e em breve tempo o doce descansava na pedra fria. Durinho e crocante por fora, um creme por dentro. O destino, ela mesma levava, era a escola municipal e a prisão. O falecido marido tinha sido um recluso, mas passemos por cima deste episódio.
A criançada adorava o doce, e os presos, com café mambembe e pão fresco, a única alimentação que agradava, eram servidos de um doce bem grande. Amavam a velha senhora, que viam pelas grades, levar tão delicioso quitute.
Com o passar do tempo, Gracinha tinha uma boa quantidade de ajudantes. Pessoalmente, todos colaboravam.
O doce de abóbora ganhou coco, ficou mais saboroso, e foi introduzido também o de batata. Sucesso! Apareceu um jovem padeiro. Também tinha o pai um ex-recluso. Sabia fazer pães recheados, com linguiça principalmente.
Existe até hoje, a cozinha de dona Gracinha. Morreu há alguns anos, mas seus anjos, além de continuarem a obra, levaram-na para o lugar devido.