terça-feira, 30 de outubro de 2012

Solidão


      
            Caminhava na longa calçada que acompanhava a areia e o mar.
            Dia claro, luminoso, céu transparente e o vento refrescante, vindo do oceano, tornava o passeio bem agradável.
            Muitos anos tinham se passado; estava velho e a idade traz um sentimento de solidão.  Já não sentia o vigor de tempos passados, nem seria normal que isto acontecesse.  Mas os passos eram firmes, a marcha desembaraçada e o olhar ainda atento para o que de belo existia naquele lugar.  A praia, as crianças brincando junto ao mar, baldes de areia sendo transportados para a construção de castelos e fortes, onde a pirralhada empregava toda sua arte.  Algumas mães, ainda bem jovens, chamavam a atenção pela beleza física, como negar?
            Calmo ele prosseguia seu exercício matinal, pensava na vida presente, que mesmo sem o entusiasmo da juventude, tinha o seu gosto saboroso.  Acordar, sentir-se vivo, tomar um café perfumado de prazer, respirar o ar ainda fresco e puro da manhã resplandecente.  Os pensamentos eram rápidos, não sabia se quando estivesse outra vez em casa iria ler, ouvir uma música agradável, talvez imponente, talvez relaxante.  Um banho gostoso, roupa fresca e limpa e os pensamentos fluindo sobre a existência.  Chegara à conclusão de que era bem melhor crer.  Acreditar em tudo desta curta longa Vida, seja fato bom, seja coisa desagradável.  Ambos caminham juntos, não há como evitar.
            Não refletir em cima da solidão é um erro.  Pode até mesmo ser desastroso.  O contrário, pensar sobre o que está nos cercando, é algo luminoso.  “Pronto”, pensou.  “Já sei o que vou fazer hoje.  Vou escrever sobre isto.”  Foi o que fez, despretensiosamente.  

sábado, 20 de outubro de 2012

O refúgio ficou pronto

                                     

            Querida, depois de pensar com seriedade no trato que fizemos, quero que saiba das novidades.
            Fiz em segredo, não anunciei a ninguém.  A casa é pequena, muito bem bolada, você circula com facilidade incrível.  Tem tudo, em apenas sessenta e quatro metros quadrados. 
            Paredes fortes, piso levantado de metro e meio, deixando lugar para um porão, que está isolado da parte principal, menos uma pequena parte, transformada num depósito que pode guardar qualquer coisa.  Pé direito alto, para os dias quentes.
            Cozinha e banheiro independentes, lógico, mas com o mesmo sistema d’água.  Não haverá problema; o encanamento é aparente, bem colado na parede e pintado de amarelo.  Fiz o mesmo com a fiação elétrica.  Por razão que me pareceu lógica, pintei de vermelho.  Não precisa temer.  O interior nada se parece com decoração da cidade no Carnaval.
            Sala muito espaçosa, mesa sólida, poltronas confortáveis.  A estante não é grande, cabe o essencial.  O espaço para o computador também não é grande, e fica junto do aparelho telefônico.  O quarto é pequeno e tem uma grande janela, vemos toda a paisagem.
            Quando ficou pronto, passei um fim de semana, para experimentar.  Toalha xadrez vermelha na mesa, você sabe que gosto.  Dois quadros.  O meu, a abstração azul intensa, e o seu “Chegada de Outono”.  Não levei nada para ler, tinha uma revisão e aproveitei a calma do lugar. 
            Dias comuns, mas muito gostosos, especialmente por causa da temperatura, vinte graus.  Acordava e comia uma pera, uma laranja, um pedaço que queijo branco com torrada e arrematava com um perfumado café quente.  Dava uma caminhada depois.  Não é preciso dizer que senti sua falta.
            Meu almoço favorito.  Bife enorme na chapa, sem nenhuma gordura que não fosse dele mesmo.  Salada de tomates e palmito, arroz integral, que fiz na sexta-feira, durante a noite e foi até o domingo, sem nenhum problema.
            Já falei muito.  A casa está esperando você.  Não demore.
            Beijo

terça-feira, 16 de outubro de 2012

O inevitável


                                     

            O julgamento do mensalão pelo STF ainda não terminou, mas as consequências, diga o que quiser o PT, o estrago está feito.
            Com a condenação, ainda sem pena aplicada aos principais dirigentes do partido, houve um racha inevitável, todos estão fugindo da banda podre, e a primeira foi a Presidente da República, que não duvido nada funde com outros membros descontentes outra agremiação política.  Afinal, pertencer a um partido que era e ainda sofre grande influência de homens que estão sendo chamados de marginais, o que eles são na verdade, pois traíram a confiança de um povo que os elegeu, é ato muito desconfortável.
            Não interessa o resultado das eleições municipais.  O povo ainda não compreendeu o esfacelamento do PT.  Como dizem, ainda não ‘caiu a ficha’.
            Houve sim uma corrupção desmedida no governo Lula, que é hoje um dos 1.200 homens mais ricos do mundo, segundo a revista Forbes, especialista nas ‘fofocas’ desta área.  Seu filho e irmão fazem parte da lista, e são mais ricos.  Não me perguntem como, não sou policial, nem membro do Tribunal de Contas da União ou mesmo Fiscal do Imposto de Renda.
      O trabalhador ainda não teve como saber com detalhes o que foi decidido no Supremo, não pode acompanhar o julgamento, está praticando ato do seu ofício, garantindo o sustento da família.  Não está alienado, como Lula afirmou taxativamente que o povo não está preocupado com o julgamento do mensalão, mas com o rebaixamento do Corinthians.  É a sua eterna tática, tentar imbecilizar o operário brasileiro, o que fez com sucesso muito tempo, mas não se ilude o povo eternamente.

Alguns querem fazer acreditar que a eleição para prefeito de São Paulo vai mostrar a força do estraçalhado PT.  Esquecem que Serra é um eterno perdedor e que Dilma já acenou com mudança no partido, passando para a ‘banda boa’ ou mesmo, com já se disse, fundando outro.  Salve-se quem puder...
     


domingo, 7 de outubro de 2012

O Velho e o Mar


                                     

            O homem sentado, bem vestido esportivamente, aparentava ter passado dos cinquenta e cinco anos.  Eram onze horas e poucos minutos, céu claro, mar limpo, céu transparente.
            Bebia um gim-tônica, lentamente, enquanto escrevia num caderno de boa aparência.  Via-se que não tinha medo, fato incomum nos dias atuais.  A caneta era uma Parker 51, com a tampa em ouro.  São poucos os que se atrevem a cometer atos assim.  Qualquer desocupado com intenções menos honestas poderia com facilidade roubar seu precioso objeto.
            Atento ao que escrevia, pouca importância dava ao fato.  A caneta corria firme, com pequenas observações de quem estava redigindo à beira-mar.
            Misteriosa figura.  Corpulento, de bermudas e camisa polo impecáveis, sapatos tipo mocassim leves e confortáveis, só prestava atenção ao que escrevia, ninguém sabe o quê, além dele.  O gim-tônica descia vagarosamente, embora tomado em doses significativas.  Acendeu um cigarro, fato que hoje é bastante incomum, mas tempo era passado.  O garçom serviu outro copo, limpo, quando percebeu que já havia chegado a pouco menos da metade o que estava na mesa.  Recebeu um leve aceno de cabeça, como aprovação.
            A caneta corria, cada vez mais.  As leituras de revisão eram poucas.  Tudo fluía como um verdadeiro rio correndo nas suas margens.  Pela expressão de quem escrevia, o resultado era bom.
            Outro cigarro, e mudança de copo.  Bebia quatro, antes do almoço, segundo os locais, que apreciavam o trabalho solitário e constante daquele homem de barba branca, vezes aparada, vezes não.
            O bar ainda existe.  A cidade é Havana, Cuba.
            O homem, todos dizem, era Ernest Hemingway, quando escreveu “O Velho e o Mar”, talvez o melhor livro de alguns séculos passados.  Santiago continuava lutando contra o espadarte, sozinho e sangrando nas águas do Golfo.  Falando consigo mesmo. A falta de Manolín, o menino que o acompanhava, era grande.  O Sol queimava-lhe os olhos.  Tudo era contra, mas Santiago desafiava o combate.  O peixe era um lutador.  Sente-se a Vida, o drama humano.
            É história; todos falam.