sábado, 28 de janeiro de 2012

Resposta a e-mail: Literatura


















Resposta a e-mail: literatura

Shakespeare já foi acusado de não ser o autor de tantas obras. Acusado, inclusive, de não existir.
Existir, existiu, burrada desta gente.
Quando estive na Abadia de Westminster, notei que havia nomes escritos num longo corredor. Eu estava pisando exatamente em William Shakespeare, pulei assustado.
Caí em outro nome famoso, não me lembro qual. Vimos, eu e minha mulher, outros nomes que a humanidade vai guardar para sempre: Winston Churchill, Isaac Newton e outros. O que realmente pode ter acontecido é a produção de obras pelos seus alunos, e o homem assinou.

Autores não são muitos. Platão, em "Diálogos", impressiona. Shakespeare, Umberto Eco, William James, Hemingway, Jorge Amado (li quase toda a obra), Guimarães Rosa (só não li "Corpo de Baile"), João Ubaldo (todos, menos o último), Nelson Rodrigues (não sei quantos, mais de sete), Mário Palmério, Machado, que tenho as Obras Completas, Zé Cândido, Antonio Callado, Rubem Fonseca. Outros eu andei passando os olhos, não li.
Poetas são poucos. Camões, que tenho a Chave dos Lusíadas, quando você não entende existe uma explicação abaixo, obra da Academia Portuguesa. Ainda não acabei de ler e talvez não acabe, é coisa demais. Gosto especialmente do "cesse dos gregos e troianos.../ Cesse tudo o que a antiga musa canta/ Pois outro valor mais alto se alevanta". Poetas, a lista é pequena. Mas de grandes. O brasileiro contemporâneo preferido é Vinícius. O respeito continua: Castro Alves, Bilac, Raimundo Correia, Alphonsus de Guimarães, Casimiro...
Conversa para uma noite fresca, com vinho e muita água mineral, declamações, risos, e alegria.
Indo... Até mais.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Até que nem a morte os separe - reeditado
















Até que nem a morte os separe




Não eram mais jovens como antes. No entanto, felizes, caminhavam com desenvoltura, levando-se em consideração que a longa faixa de areia da praia estava molhada.
Não estavam abraçados nem de mãos dadas; descalços, sentindo a areia úmida sob os pés, respirando o ar fresco da tarde, fazendo um e outro comentário a respeito do lugar. Andando separados sentiam mais a grandeza da liberdade.
Um olhar desatento diria que eram amigos. Pessoa mais experimentada perceberia de imediato que amizade existia sim, e não era pouca. Mas havia mais, muito mais, algo muito superior que a compreensão comum não alcança. Se o olhar fosse realmente agudo, constataria no casal o mistério do fascínio consciente, ligado à grande força oculta que move os homens.
Vingavam-se da face malvada de Zeus, que vendo sua criação perfeita, capaz de desafiar os deuses, dividira com a espada o Um, para enfraquecê-lo, tornando duas as criaturas. Conseguiu seu intento, mas parcialmente.
Mas eles não pensavam nisso. Nem mesmo sequer pensavam; sentiam. Sentiam a calma e a beleza do lugar, sentiam o infinito do céu e do horizonte, sentiam a união do céu e da terra. Sentiam a união de um com o outro.
Sentiam o quanto era difícil determinar o ponto onde um começava e o outro findava. Sentiam, afinal, que de nada adiantava o mais elementar princípio aritmético, pois dois era igual a Um, e Um era indeterminado. A relatividade evidente também não era objeto do que sentiam.
Iniciava o crepúsculo vespertino e já as primeiras estrelas mostravam seu brilho. Castor e Polux, os valentes irmãos gregos que a guerra separou, mas Júpiter, por compaixão, lançou-os ao espaço onde permanecem eternamente juntos na constelação de Gemini, meditavam de longe, muito longe, se algum dia aqueles dois não teriam o mesmo destino.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Diante a Morte

















Diante a Morte

Os pensamentos que aquele homem experimentou, diante da morte que se aproximava por sua decisão, eram terrivelmente tumultuados.
Aborrecido com a vida em si, já não ligava mais para o mundo que o cercava. Não tinha doença terminal; a família sempre foi companheira. Muito amiga e solidária com o já velho homem que gostava de ler no parque próximo.
O primeiro local que pensou para por termo à vida foi ali. Desistiu tão logo viu as crianças brincando. Um tiro faz muito barulho. Alguma criança iria ver, seria um choque.
Fechou o livro que fingia ler, enquanto preparava mentalmente a famosa carta do suicida, quando este a faz. Ninguém era culpado, de nenhuma forma não havia pessoa ou pessoas que o levassem ao gesto extremo. Doaria todos os seus órgãos que sobrassem do estrago do tiro. Resolveu que hoje seria o seu dia, que encerraria a passagem pela terra já completamente sem graça.
Caminhou lentamente, os pensamentos mais negros cada vez tomando conta da sua mente. Sim, a arma era boa. Não iria falhar no momento exato. Dizem que feito o disparo, ainda que no coração, estraçalhando os ventrículos principalmente, a morte não é imediata. Ele sabia disso. Tinha um medo. Medo terrível de ainda ficar consciente depois do disparo, e arrependimento de tal gesto. E se ele quisesse viver? De nada mais adiantava, a morte era certa. Este fato deve piorar muito a angústia de quem vai matar-se.
Chegando a casa, tomou um banho ligeiro. Não queria ser lavado por outrem, sem saber que isso aconteceria na autópsia. Examinou a pistola e ficou olhando a máquina de aço, negra, feia, atemorizante.
A carta, pensou. Não a redigira. Só de bermudas, começou a despedida. Interessante, a mão não tremia.
Súbito, um barulho infernal na rua. Choque de carros, gritos, desespero. Olhou o que se passava da janela. Quando viu os ferros retorcidos, lembrou-se do que estava para fazer. Abriu a porta correndo, os dois automóveis estavam amassados e o cheiro de gasolina era forte. Olhou o chão. Gasolina por toda parte, e uma criança presa nas ferragens gritava. Ele gritou mais alto, pedindo aos porteiros dos prédios próximos que usassem as mangueiras de lavar calçadas, proibidas mas ainda usadas, e dessem um banho longo nos automóveis e na rua. O perigo de incêndio era grande. Imediatamente a água jorrou pelos dois automóveis.
O menino que berrava, conforme ele pode constatar, aparentemente estava só com um corte na testa. Sem muito esforço, ele o retirou e levou para a calçada. Parecia simples, só o sangue assustava. Cortes na testa costumam sangrar muito. Rua cheia, ninguém morto e médicos que moravam nas proximidades já examinavam os outros feridos, aguardando a ambulância dos Bombeiros. Uma senhora, de acordo com um médico, estava com a costela quebrada.
O barulho não tinha sido tão grande assim, e os ferros retorcidos só foram visto pelo escritor da última carta, que logo voltou a casa, queimou-a e guardou a arma.
Ele hoje é monge capuchinho. Segundo me disse seu superior, já convenceu muitos e muitos que estão desesperados, assim como um dia ele esteve, a procurarem ajuda, além da que ele mesmo fornece com eficácia e ardor.
Anda feliz, barbado, com suas mãos fortes e santificadas.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Publicando


















Não sei não

Pois é a verdade. Não sei onde vou parar. Todos os dias digo a mim mesmo que só vou comentar nos sites. Impossível!
Após o “A Regra do Jogo”, já preparei outra publicação, mas não enviei.
Estou acabando de ter livro lançado, desta vez com editora nova e bom trabalho. E já possuo um livro novo, com cinquenta contos e crônicas, todos aprovados no Portal Literal com ampla margem de votos.
A gente sabe que está sendo bem aceita. Para ser publicado no Portal, tem que ter ao menos vinte votos de outros escritores. Tenho sempre o dobro, ao menos.
Mas não é a minha intenção falar sobre isto, mas divulgar um fato que muitos desconhecem. Todo autor quer publicar. Não sou egoísta.
O Projeto Lume, da Editora Protexto, ainda pequena, mas que vai estourar no mercado tem uma proposta que é tentadora.
Explico. Você envia seu original para o Projeto Lume. Caso ele seja aprovado pelo conselho editorial, começa o processo de edição do livro. Totalmente isento de qualquer remuneração, salvo uma taxa pequena. Tudo isto em rápido tempo, comparado ao que as ‘grandes editoras’ submetem o futuro autor, que geralmente é recusado. Trabalham nos moldes de 1900.
Em suma, em menos de dois meses, se o texto for aprovado, e pode ser poesia, negada por todas as grandes, a editora publica seu livro.
São requesitos indispensáveis à originalidade da obra e uma revisão perfeita. Qualquer erro, por menor que seja, elimina o pretendente.
O site da editora é http://www.protexto.com.br/ .
Tente! Realize o seu sonho, sem pagar um centavo.
Não sou promotor de vendas deste site. Não estou o usando para promover a editora. O que eu quero, apenas, é auxiliar os colegas que têm seus sonhos, e pensam que não os podem realizar. Todos aqui conhecem meu procedimento, felizmente.
Boa sorte!

PS. Quando escrevi esta crônica, ainda estava organizando os textos que deveriam ser enviados. Nesta data, já os remeti.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Almoço de fim de ano













Almoço do fim de ano

Costuma se caprichado. Casal meio fora de esquadro. Ele, quase cinquenta. Ela, vinte e três.
Tem fatos que a gente não entende. Cuidadosa, preparou um almoço que serviria também para a ceia. Duas formas de empadão de palmito, salada de rúcula com agrião e tomate, arroz na manteiga e passas, peito de peru fatiado.
- Vou provar este empadão.
- Não estraga. Espera o almoço.
- Não faz diferença nenhuma, mulher!
- Faz sim. Vai para a mesa sem um pedaço, é feio.
Perto de casa tinha uma pastelaria. Daquelas de movimento, entram e saem tipos de todas as espécies.
Calmo, ele em pé no balcão devorou três pasteis. Carne, camarão e queijo. Estavam sequinhos, sem gordura, eram muito bem feitos.
Não tomou o caldo de cana. Preferiu uma cachaça e dois chopes. Não almoçou, claro. Dormiu até as coisas melhorarem.
Feliz Ano Novo.