segunda-feira, 25 de abril de 2011

Folhas

















                                          Folhas
                            Tantas folhas espalhadas
                            Tantas folhas pelo chão.
                            Qual lágrimas derramadas
                            E todas elas em vão!

sábado, 16 de abril de 2011

O Serviço Especial













                                                O Serviço Especial

            A notícia correu rápida.  Um fato desta natureza tem divulgação imediata.  Todos ficaram aparvalhados.
            O capitão Callado dormia profundamente.  Havia retirado o elegante terno, engraxou os sapatos, limpou a pistola que o coronel Fonseca não havia pedido, quando da voz de prisão ao subordinado.  Tomou um longo banho, após quarenta flexões de braço, vestiu a camisa de malha branca, o calção do exército e mergulhou no secreto mundo dos sonhos.
            - Callado! Callado!  Acorda, porra.  Mataram o coronel!
            Tem certas palavras que mesmo dormindo acordam qualquer um.  Morte é uma delas.  O capitão não acordou.  Literalmente, deu um salto da cama e viu-se diante de dois oficiais, alguns soldados e sargentos.
            - Que está acontecendo?
            - Mataram o coronel Fonseca, homem!  Um tiro no rosto.
            - O quê?
            - O que eu estou dizendo.  Um tiro na cabeça, de espingarda de cartucho.  Coisa de profissional, deve ter sido seguido. - Fora seguido.  Os três marginais estavam de olho na delegacia do lugar, deixaram o carro estacionado numa rua próxima.  Bebiam, no balcão, uma cerveja.  Era apenas um disfarce para vigiarem o lugar.  Viram quando o coronel entrou na delegacia e para surpresa deles, que esperavam uma prisão em flagrante, mas nunca se sabe, o homem demorou pouco, saiu e entrou no seu automóvel.
            - Esse cara é milico.  Olha o andar dele e o cabelo.  Vamos logo atrás.
            - Aqui quem resolve isto sou eu, cara.  Fica na tua, seu otário.  Claro que vamos atrás dele. 
Estava de bermudas, camisa ordinária metida a chique, e sapatos mocassim, não gostava dos tênis da moda.  Ao lado do motorista, preparou logo a escopeta.  Bastava ultrapassar, apontar para a janela do carro azul do coronel e fazer fogo a queima-roupa.  Assim fez.  O tiro foi a menos de metro de distância.  Largaram o carro com as armas, limpando as digitais com as camisas.  Eram burros, mas nem tanto.  Sumiram em direção ao antro de vagabundos que ocupavam a bem organizada favela, onde os trabalhadores ficavam cegos, surdos e mudos.
Comemoraram com muitas cervejas e caipirinhas, num bom bar existente no local.  Depois foram dormir, estavam empanzinados com as cervejas e o angu com linguiça e salsicha, uma das especialidades do botequim bem arranjado.
O enterro do coronel Carlos Alberto Fonseca de Barros foi uma cerimônia militar triste, séria e de honras.  Os soldados da Polícia do Exército dispararam seus fuzis, a bandeira que cobria o caixão, depois de cuidadosamente dobrada, passou às mãos da viúva desconsolada, segura por uma filha nova e um rapaz que deveria ter poucos anos menos do que a irmã.
O corneteiro executou com sentimento o toque de silêncio, quando as lágrimas de todos ficaram abundantes, mas não se disse uma só palavra.  É a hora mais triste de um enterro militar, e também a mais solene.
Assistindo tudo, não de muito perto, o capitão Callado e um major das Forças Especiais do Exército, estavam ao mesmo tempo tristes, raivosos e indignados.  A vingança seria cruel, muito cruel.  Basta ver o apelido do capitão Callado.  “Coisa Ruim”, o que ele era, realmente.      

domingo, 10 de abril de 2011

Olhos vendados













                                           Olhos vendados

            Caminhava devagar no estreito corredor do edifício.  Por incrível que pareça, o tempo estava frio no Rio de Janeiro.
            Todo de cinza.  Paletó, calça e camisa.  Sapatos e cinto pretos.  Gravata vermelha, listada com ocre escuro.  Era a única peça do vestuário que aparecia, distinguindo o homem quando estava na multidão.
            O Leme já foi um lugar bastante tranquilo, e hoje ainda é, relativamente. O edifício estava situado de frente para o mar. Era alto, o cidadão de cinza.  Ajeitou alguma coisa na cintura, parecia uma arma.  Das grandes, pois precisava ficar bem colocada para não fazer volume.
            “Que diabo! Eu poderia ter evitado o atropelamento daquele gato. Não gosto de matar animais, mesmo sem ser de propósito”, pensava.  Foi na estrada de volta.  Vinha a pouca velocidade, mas o gato, provavelmente velho ou faminto, atravessou na frente do carro como fosse suicídio.  Não, não me consta que animais se matem. Nunca ouvi falar. Nem ele, tão-pouco.
            Veio pensando nisto toda a viagem.  No quarto da simpática pousada, como a casa dele, diante do mar de águas limpas e azuis.  Confortável, lugar calmo e aprazível.  Não, não fora acompanhado, a cidade estava vazia, era dia de semana, mas poderia ter levado sua companheira, que não morava com ele.  Melhor assim.  Cada um com sua vida e privacidade.  No mais, moravam a menos de cem metros.
            A guria que almoçou com ele era realmente uma senhora mulher.  Provou na mesa, usando um conjunto marrom-avermelhado, e na cama, sem nada.  Foi uma longa noite, e ele pensou que poderiam ter aproveitado mais.
            É sempre a mesma coisa: mais.  Mais tudo, dinheiro, sexo, comida, bebida, e só isto mesmo.  A lista está completa.  Não entram na contagem vestuário, automóveis e outras bugigangas.
            A porta estava aberta, muito pouco mas estava.  Sacou a Colt quarenta e cinco.  O primeiro tiro pegou no homem menor.  O acompanhante nem com arma na mão estava, mas quando foi puxar, tomou um coice no peito.
            Numa poltrona, de olhos vendados, fato incomum, e amarrada, Duda sangrava.  Morta.

domingo, 3 de abril de 2011

A Morena fez plástica










                                      A Morena fez plástica

            Veja que tolice fez a Morena, é, aquela mesma, bonita de dar pena, que já foi apresentada e por quase todos cantada.
            A Morena fez plástica, gente!  Está toda contente, se exibindo como sempre, sorrindo mostrando o dente objeto da tal cirurgia.  Era torto, mas para sua alegria, o que ela julgava morto, ganhou vida nova, quem diria!  A paquera aumentou muito, quem viu gostou, amou, adorou o novo belo sorriso que se abre até o siso.  E vai ela toda sestrosa, rebolando toda prosa, metida só por ser bela.
            Dizem que agora, mesmo requebrando não dá bola aos incautos desprevenidos que aborrecem os seus sentidos: reclama, diz que quer briga, mas todos sabem que é na cama o local da intriga.  Deitou, dormiu, há quem diga que esta linda Morena, bonita de fazer pena, está apaixonada.
            Tá nada, é mentira, ela não perde tempo com coisa que traga alento.  Virou artista de tinta, e com toda esta pinta, quando pega algum vento, a saia levanta e todo o povo se espanta.  Aquilo é corpo?  Coisa de deixar vivente morto, basta ver as pernas, minha gente.
            E ela, sorridente, fica mexendo com a gente, pensa que somos de ferro, mas vai acabar no berro de algum infante mais quente.
            Tudo voltou, minha gente!  Muita pessoa contente, querendo a Morena cantar.  Perda de tempo, ela quer é casar.  Foi noiva, mas o coitado morreu apaixonado, de tanto a ela agradar.  Morreu duro, durinho, estava feito um muro de pedra lavrada, pois a Morena é muito malvada quando o ambiente é escuro.
            Não caia no seu encanto; vai ser tremendo seu espanto.  Deixem a Morena passar!  Ela ninguém vai matar, a tal linda Morena, bonita de fazer pena, só gosta de se mostrar!

            Ei, eu disse a esta garota pros cabelos não pintar.
            Imagem:  G1