terça-feira, 4 de agosto de 2009

Festa de São João

Fogueira de São João












Lembro que quando era menino, fui à primeira festa de São João, no colégio.
Foi a primeira vez que dormi depois das nove horas da noite; os folguedos estavam animados. Meus pais tomavam conta de um pirralho que demonstrava futuro de moleque danado, sem ser desrespeitoso, o que aconteceu realmente.
A festa de São João... Tinha tudo, ao ar livre. Enfeitada com bandeirinhas, fogueira acesa, delegado tomando conta de tudo, padre para o casório, barraquinhas de pescaria, jogo de argolas. O quentão era só para os adultos, mas meu pai deixou eu provar o dele, um cheiro só, achei gostoso. E comidas, que fartura! Milho, aipim frito ou cozido, ao qual os festeiros adicionavam manteiga, amendoim e os doces mais diversos. Lembro bem do doce de abóbora e o de batata-doce. E a canjica? Com canela, tem gente que come duas vezes e ainda ataca o resto das iguarias.
Nas grandes cidades, tirando as escolas, não se vê mais a comemoração popular, de inteiro congraçamento. Ela sobrevive nas escolas, algumas igrejas e poucos clubes. Mas basta sair dez quilômetros fora do perímetro urbano, que aparecem fogueiras onde a batata é assada usando um espeto de pau.
Calça velha, botina surrada, camisa xadrez, chapéu de palha – quem tem isso hoje? – fazem parte da indumentária obrigatória. As moças com vestido de chita, compridos até os tornozelos, cara pintada de ruge, tranças e olhar folgado. Quantos namoros não começaram numa festa de São João?
Não vou a uma festa junina há muito tempo. Muito tempo mesmo. Juntava muita gente, agregava pessoas desconhecidas, fazia amizades. Uma tradição que não se perdeu, mas como acender uma fogueira grande num edifício de cidade grande? Os moradores mais chatos vão chamar a polícia, mesmo se a festa estiver sendo feita no salão próprio. Muita gente nem sabe que hoje se cultua o santo que batizou Jesus. Conto da carochinha para muitos, mas pode conferir nos Evangelhos. Está escrito bonitinho lá.
São valores que se perdem, enquanto surge a balada, o ecstasy, bem mais interessantes do que música da roça, sorrisos abertos, relacionamento, amor e alegria.
É pena. O azar é nosso. Mas como hoje não é dia de reclamações ou tristezas, já vou preparar uma cachaça com mel, já que rapadura não se encontra em qualquer supermercado.
Saúde, gente! Viva São João!

3 comentários:

Alan disse...

Estes festejos não são brasileiros com exclusividade. Existem nos países do norte europeu, França. Portugal, Espanha, Estados Unidos e México, o que em absoluto tira o valor da crônica de Jorge Sader.

Marialva R. Lemos disse...

Não se veem crônicas assim mais. Educadora, já usei este texto, com a permissão do autor, quando foi publicado no Recanto das Letras.
Obrigada e sucesso, Jorge.

Abraços,

Marialva R. Lemos

José R. Figueiredo disse...

Fogueira de São João, aipim na brasa, quentão ou conhaque, moças bonitas, olhares furtivos. Eitha Jorge Sader, faz isso com a gente não!
Abraço, mano.
Figueiredo