terça-feira, 4 de julho de 2017

História de lareira

        

            Pois sim.  É história de lareira mesmo.
            Frio.  Um frio da gota serena, como dizem os nordestinos e o João Ubaldo.  Foi um problema, o “Sargento Getúlio”.  Começa assim, mas a edição era em inglês.  Como fazer a versão?  Ubaldo não tinha, e tem fama por conta das graças que dizia nas entrevistas. 
            — Quem iria traduzir isto?
            — Isto o quê?
            — Da gota serena.  Tem muito brasileiro que não sabe do que se trata.
            — E você meteu a cara.  Além de ter escrito o livro, fez a versão inglesa.
            — Inevitável, ou iria comprometer toda a obra.
Ubaldo estava tomando um Ballantine’s, beleza de cor amarela, transparente, pálida.  Gostava de beber destilados bons, o que provou em “Noites leblonianas”.  O frio não lhe permitia o chinelão dois andares, a camisa regata e a bermuda confortável.  Mas que não falassem em genebra.  Essa não!  Havia presenciado um morador do seu edifício sob os efeitos da coisa, estava torto, empenado, perdera o tênis de caminhada matinal, começara os trabalhos alcoólicos muito cedo, antes de flanar pelo calçadão.  Caiu duro, durinho, vomitou o táxi, mas conseguiu ser levado para casa.  O escritor estava saindo, testemunhou tudo.  Um médico, amigo dos dois, salvou a pátria.  O moribundo sarou, vomitou horrores, mas recuperou os sentidos.  Quis comemorar com mais genebra.
            — Nem pensar — disse de pronto o cura.  — Um chope duplo, vai lá, dois até pode.  Genebra, de jeito nenhum.
            Imaginem.  O camarada sai de um ataque pesado, causado pelo álcool, não pode tomar a bebida causadora.  Mas dois chopes duplos sim, ele pode!  Esta conversa foi entre o próprio autor de “Viva o povo brasileiro”, vencedor do Prêmio Camões, pela obra e não pelo livro agora mencionado.
            Dá para entender?  Dá sim!  Basta olhar a atual situação política brasileira. Vamos localizar-nos no tempo.  Estamos em 3 em julho de 2017.  Você entende o que está acontecendo? Não?  Nem eu, meu amigo, nem eu... 


8 comentários:

Sueli Fajardo disse...

A vida, em geral, querido amigo, é menos confusa e paradoxal do que a vida do brasileiro. Com um agravante:os políticos brasileiros. Abraço.

Célia disse...

Há tempos aposentei minha bola de cristal... Não há guru que entenda!
Abraço.

Carmem Velloso disse...

Se voce que gosta e entende do assunto confessa que não está entendendo nada, o que vou dizer, Jorge?
Beijo
Carmem

Tais Luso de Carvalho disse...

Sim, Jorge, entendo o que está acontecendo! Será? Não... estou perdida, confusa, são tantos, é um elo sem fim. Quando penso que o homem vai ficar lá pela Papuda, tomando um sol limitado, soltam! Depois prendem; logo soltam... É como se eu estivesse vivendo um circo, no quadro de mágicos com o coelho que não pára de parir...
Você acredita, hein meu amigo? Acredita que vai ter um fim? Um dia, daqui a algumas gerações, talvez. Dizem que devemos ser otimistas... pode ser, faz bem sonhar, mas eu fora!

Beijo, Jorge, ótima crônica!
Desculpe a pitada de ironia... mas estamos afogado, meu amigo!

Ana Bailune disse...

Olá, Jorge.
Só sei que eu não entendo, e há muito, deixei de tentar entender...

Marcelo Sguassábia disse...

Não entendo nada, mas é o suficiente para entender que não tem jeito. Entende?

Caio Martins disse...

Simples, meu caro e preclaro Mestre: é a ribimboca da parafuseta multiplicada pela tripuleta da mancoleta elevada a "n". Tire a raiz quíntupla, divida pelo fator inconstante diferencial e está tudo resolvido...

marcia disse...

Uma coisa é uma coisa outra coisa é outra coisa...entendeu! bjus