O
nome é hoje pejorativo. É como era mais
conhecido, anos atrás, o soldado da Polícia Militar.
Invadido
pelas forças paraguaias de Solano Lopez, a terra brasileira não possuía um bom
e firme exército. O Imperador Pedro II
não tinha esta prioridade. Mas a verdade
estava posta. Era necessário combater os
soldados estrangeiros que invadiram o Brasil, fazendo muitas vítimas.
Deu
exemplo o próprio Imperador, que dormindo em tendas de guerra no Rio Grande do
Sul, em companhia de soldados do Exército Imperial, pouco treinados e com armas
deficientes, convocou o povo a formar os famosos batalhões dos Voluntários da
Pátria. Quem eram estes homens? A História oficial não registra. Diz-se que antigos escravos, todos sem
ocupação e valentes; marginais de todas as espécies, processados e alguns já
condenados, mas com a promessa de esquecimento absoluto das suas faltas e penas
e por fim aventureiros que nada possuíam, mas entenderam boa hora de tirar
proveito da situação.
Verdade
ou não, esta é uma das partes da Guerra do Paraguai, uma parte suja. A própria morte de Solano Lopez, ferido
gravemente e morto sem qualquer motivo pelo cabo Chico Diabo, quando estudei no
primário tido como herói e hoje visto como um covarde desajustado, que liquidou
por conta própria o tirano ferido de morte, é prova disso. Foi punido, segundo o comando do
Exército. Prender, claro. Matar era idiotice.
Tudo
isso nos foi contado pelo saudoso professor e intelectual Josias Alt,
folclorista de renome e conhecedor da guerra citada. Digo nos foi porque era ele, o intelectual
Josias, nosso professor de português no Liceu “Nilo Peçanha”, em Niterói,
cidade onde nasci e vivo até hoje. O
Liceu e o Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro eram símbolos do ensino, naquela
época.
Voltando
aos Voluntários da Pátria. Grande ala
era formada de gente com história de brigas duras. Um batalhão era temido pelas mais instruídas
tropas paraguaias. Duros no combate,
fortes e implacáveis. Eram temidos e
sabiam disso. Não sendo uma tropa
distinta, pegaram um lençol, e fizeram a inscrição “Ninguém me ganha”. Esta bandeira simples, demasiadamente
simples, fazia tremer os inimigos.
Muitos não lutavam: debandavam de pronto. Para a inscrição “Ninguém me
ganha” passar a meganha, o passo é curto, todo brasileiro sabe disso, usa o
mesmo método, hábito. Meganha. Este é o apelido, ou era, os tempos passam, dos
valentes soldados da Polícia Militar.
Eles detestam, não sabendo que não é pejorativo, mas um tratamento de
valentia.
Assim
é! Sem os meganhas não existiriam hoje
as cidades brasileiras, mas locais tomados pelos bandidos!
“Ninguém
me ganha”, esta é a bandeira!
12 comentários:
Não conhecia nenhum fato desses, querido Jorge. Sei que grande parte dos soldados brasileiros que lutaram na Guerra do Paraguai procurava um ofício.
Crônica e tanto, meu caro!
Beijo. Carmem.
Olá, Jorge, como está um frio incrível aqui, fico menos no pc, mas li e reli essa tua bela e didática crônica e gostei muito, saio mais enriquecida daqui, com algumas coisas a mais na minha 'bagagem'!
Uma ótima semana, meu amigo, aí deve estar um clima agradável, que bom! Nosso frio não é o normal.
Beijos!
Uma verdadeira lição de história, Jorge... que levo daqui hoje!...
Desconhecia por completo!... O que me leva a pensar no termo magano... no seu significado... e na possível ligação com o que nos conta... talvez a origem do termo... só pesquisando... pois isto ocorreu-se-me agora mesmo... e nem tenho a noção se haverá relação ou não...
Curioso como a história e a interpretação dos factos muda... ao longo da história dos homens... o que me leva a pensar, no tanto, que de facto desconhecemos, e podemos ser levados a pensar, em uma ou outra época...
Uma notável e muito didáctica publicação, Jorge... que tanto me deu a conhecer, hoje por aqui!
Grata por isso! Beijo. Bom domingo!
Ana
Querido Jorge não conhecia esse fato.Ótima leitura bjus
Pois, Jorge! Raramente a História é contada por perdedores e, a dos vencedores, omite atrocidades, apresentando-as como fatos "heróicos". Era assim no passado mais remoto, segue assim em nossos dias.
Parabéns pelo texto. Com sua permissão, endosso e assino junto! Forte abraço!
Boa tarde, Jotge, tudo bem?
Tal como nos comentários acima, aprendi muita coisa que desconhecia, ou talvez, o tempo ja tenha levado essas lembranças do colegial, ou ainda, porque não suporto assuntos de guerra...
Mas a crônica está deliciosa de se ler!
Outro detalhe que me agrada diz tespeito às soluções engenhosas para resolver grandes problemas, que acabam dando muito certo!
Um abraço
Nos meus tempos de "perigoso comunista, inimigo da nação", chamávamos os PMs do Batalhão de Granadeiros (que deu origem ao BOPE) de meganhas. Os caras não gostavam. Mas a porrada comia do mesmo jeito, gostando ou não.
Lindo texto!
E mais uma vez, saio mais rico de sua página.
Meu carinho,
Anderson Fabiano
Olá Jorge, que maravilha de post, voltei no tempo das aulas de história que eu tto gostava, tive um primo que correu da parada sim. Foi muito reler tais fatos. Se "meganha' era considerado pejorativo, eu penso que pejorativo é a depreciação da justiça , hoje!
Um abraço e boa noite de paz!
Obrigada, Jorge.
Lendo-o e aprendendo.
Adorei.
Jorge, vim ler e comentarei
de fato depois com calma.
Quase voltando das férias
venho deixar meu abraço
e fazer o convite
para conhecer a escrita
da Maria Azevedo aqui:
https://apenasumolharalem.blogspot.com/
CatiahoAlc.
Agradeço muito o meu aumento de conhecimentos.
Desejo uma boa semana e deixo meu abraço.
Jorge,
Respondi a seu questionamento lá
no Espelhando.
E quanto ao termo de seu excelente texto;
meu pai usava esse termo.
Usava porque já não o tenho
fisicamente fazem muitos anos.
Bjins e se desejar
vai conferir lá.
CatiahoAlc.
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