quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Alcoolismo e neurose sobre tela

                                                           Blue Poles

 

            Os biógrafos do maior pintor americano, Paul Jackson Pollock, contam histórias sobre o conturbado artista que parecem absurdas.

            Pollock era fumante e bebedor inveterado.  Usava como suporte para sua pintura papel impermeável; era muito difícil encontrar tela de pano, devido aos tamanhos que empregava, imensos.  Tinha tendência suicida, conhecida pelos amigos.

            Certa noite ligou para um deles.  Disse que iria se matar, estava avisando.  O amigo pediu que ele esperasse um pouco, era velho companheiro de bebedeiras e gostaria de tomar a última na companhia do pintor.  Perguntou se havia bebida suficiente no estúdio.  Havia.

            Em pouco tempo estava diante do potencial suicida, que se encontrava embriagado, como de costume.  Confraternizaram-se e passaram a piorar o estado em que se achavam.  Pollock reclamando muito, inclusive da sua última obra, que chamou de “Alcoolismo e Neurose sobre tela”. O clima era este.

            O amigo estava eufórico e deu a sugestão de antes de morrer, Pollock pintasse com ele a última tela, ideia prontamente aceita.  Papel esticado no chão, pote, tubos e vidros de tinta começaram a obra freneticamente.  O uísque não parava de ser tomado, à medida que as tintas eram atiradas sobre a tela, a característica da obra do autor. Vidros se quebraram sobre a superfície, foram pisados e até hoje existe marca de sangue na pintura, que quando terminada, os autores já estavam quase dormindo.

            Quando amanheceu, Pollock já não falava mais em morte, mas passou a examinar o resultado.  O amigo preparava um café.

            O pintor escolheu a área que mais gostou, e deu o nome de “Blue Poles”, que em 1973 foi vendido ao governo australiano por dois milhões de dólares, hoje irrisórios, mas na época o mais alto preço de pintura não convencional.  Encontra-se na National Gallery of Australia, em Camberra.

            É o que se conta. 

   

 

14 comentários:

Calfilho disse...

Muito bom, Jorginho. Aliás, uma constatação: alguns dos considerados "gênios" da pintura eram alcoólatras e mentalmente perturbados. Exemplos: Van Gogh, Toulouse Lautrec.
Não conhecia Pollock.

Carmem Velloso disse...

Excelente, como sempre, Jorge! Nunca havia escutado ou lido este fato!
Mas você, todos sabem, é um apaixonado por mistérios! Ótimo!
Beijo,
Carmem

Reflexos Espelhando Espalhando Amig disse...

Jorge,
No face eu só curto e
compartilho, mas
ler mesmo
leio aqui com
calma e alegria.
Adorei a história muito bem
contada.
Já passei por situação de
a pessoa falar (via mensagem)
comigo que ia se matar
e eu agir como o do pintor
e conversar até que a vontade da
pessoa se matar se diluir...
No caso da sua narrativa
ainda rendeu um bom
caraminguá.
Bjins de boa noite de
quarta-feira.
CatiahoAlc.

Nadir disse...

Por vezes essas misturas de doença e vicio, resultam em ótimos, trabalhos artísticos!
Nunca havia tido a curiosidade de ler sobre esse artista. Sua crônica aguçou minha curiosidade em, saber mais, sobre esse artista, Paul Jackson Pollock.
Obrigada pelo convite Jorge!
Gostei da leitura desta noite.

Nadir D'Onofrio

Caio Martins. disse...

Hehê! Lembrei do Péricles, autor do "Amigo da Onça"!... Encheu o ap. de gás, mas deixou um bilhete na porta: "Por favor, não acendam fósforo". Abração, Jorge!

solange disse...

Conhecia a obra de Pollock, mas não sua personalidade. Realmente, para ser gênio há que ser descompensado! hahha... Obrigada por compartilhar! Bjs

Gil Façanha disse...

Não entendo nada dessa arte. Mas gostei da história. O que ela carrega ne encantou mais que o quadro...rs. Como disse...não entendo nada dessa arte.

marcia disse...

Querido Jorge ninguém queria morrer só fazer bagunça.Puxa!como esses artistas antigos gostavam de de viver no mundo da...deixa pra lá.Aproveitando (fessor) vai na minha página no Face e veja se fiz a lição direitinho...bjus

Ana Freire disse...

Alguns dos pintores mais geniais, teriam o seu mundo interior completamente virado do avesso... talvez só assim, conseguissem chegar à sua verdadeira essência... e pintar algo único... que só eles sentiriam... e conseguiriam expressar...
No momento... todos nós experienciamos um pouco de caos... nas nossas vidas, por força das circunstâncias... mas muitos artistas, trazem-no com eles, a vida inteira!... Talvez seja isso, o segredo do seu talento...
Belíssimo texto, Jorge, que me deu a conhecer a história dessa pintura, que ainda não conhecia!... E que nos permitiu reflectir mais um pouco, sobre o mundo das artes... o sector também mais duramente atingido por esta pandemia...
Beijinho! Estimando que tudo esteja desse lado, o melhor possível!
Feliz semana, com saúde... o bem mais precioso, no momento!...
Ana

Tais Luso de Carvalho disse...

Querido amigo Jorge, pois eu não sabia desses detalhes, mas sei que os gênios são esquisitos, seres diferenciados. Gostei muito de saber dessa história muito bem contada.
Uma boa semana, cuide-se.
bjs

CÉU disse...

Um amigo, mesmo tão bêbado quanto o outro, dá sempre jeito -rs.
Felizmente que acabaram por dormir e o quadro foi vendido, apesar das suas particularidades ou devido a elas.

Beijos, Jorge e boa semana.

Majo Dutra disse...

Fez-me recordar o alcoolismo de Clarice Lispector que no início, bebia intencionalmente para se inspirar...
Retribuindo cumprimentos.
Boa semana. Tudo pelo melhor.
~~~~~

Elvira Carvalho disse...

Desconhecia por completo a história do quadro.
Grata pela partilha.
Abraço e saúde

SILO LÍRICO - Poemas, Contos, Crônicas e outros textos literários. disse...

Bela história suicida
De quem brinca com a morte,
Por não ter na vida um norte
E nem saber que a vida
Se faz, talvez, parecida
Com o que pensa o seu ser.
Quem pensa em ter prazer
Sente n'alma que ele existe,
Porém quem pensa em ser triste
Pensa também em morrer.

Abraço cordial! Laerte.