domingo, 22 de fevereiro de 2009

Caminho sombrio


Tocaia








Rua escura, céu estrelado. Quem disse que o brilho das estrelas ilumina o caminho?
Ilumina nada, quem faz isto é a Lua. O homem apertou as mãos dentro da japona de lã, coisa de marinheiro. Confirmou que era do mar quando entrou no boteco que não fechava durante a noite. Pediu e tomou uma farta dose de conhaque e uma xícara de café. Comprou cigarros e percebeu que nas quatro mesas com toalhas de plástico, enxadrezadas vermelho e branco, estavam servindo sopa. Com o estômago forrado a conhaque e café, e ainda por cima fumando, havia acendido um cigarro, a visão dos pratos da sopa de entulhos não agradou nada.
O frio tinha aumentado um pouco por causa do vento, mas a dose dupla de conhaque mais o café esquentavam bem.
Passos calmos e lentos, o homem um pouco alto, moreno e de cabelos cortados curtos, apalpou o cabo de uma pistola que carregava na cintura. Arma séria – todas as armas são sérias – mas esta era uma arma de guerra, Colt calibre 45. Havia outro carregador cheio, no bolso de trás da calça.
Alguns casais passavam na rua antiga do bairro velho. Muitas casas, quase nenhum edifício. Todas em razoável estado de conservação. Olhou o relógio: meia-noite e vinte minutos. Pensou mais uma vez que seu trabalho, se é que isto é trabalho, seria fácil. Ato contínuo, levou a mão até o cabo da faca. Mais de 20 centímetros de lâmina, coisa de profissional. Aço cromo-molibdênio, material de primeiríssima ordem.
Conhecia bem a casa para onde se dirigia. Andou olhando por algum tempo, antes. Sentou no meio-fio e esperou. Nem olhou direito o carro da Polícia Militar. Conserva sua carteira de segundo-sargento, embora a Marinha estivesse expulso o verme das suas fileiras. Não demorou, e o homem apareceu. Camisa de lã grossa, cinza. Não se incomodou com mais um bêbado sentado. Vira muitos, na volta para casa. A maioria, dormindo. Bebiam demais!
Não deu para perceber quando o homem saltou. Coisa de gato e já estava em cima da vítima, faca em punho, pistolas fazem barulho. Depois de dois golpes, colocou a mão na jugular do atacado. Nenhuma batida. Era sempre assim, o aço entrava estraçalhando os ventrículos. Nem uma leve batida na veia do pescoço. Morto, mortíssimo, aquele era menos um.
No dia seguinte, recebeu a parte final do pagamento. O traído estava eufórico e deu o dinheiro com prazer.
O matador, não contou o maço que lhe foi entregue.
Também não acreditava, como não acredita, que o seu fim será bem parecido, o que não incomodava.

2 comentários:

Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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