domingo, 18 de abril de 2010

Sorte

Moedas

















Veio, como tantos outros, estudar na cidade grande. Ainda hoje é assim.
São poucas as universidades no interior. Já havia prestado os exames para o ingresso, foi aprovado no vestibular. Em suas indas e vindas, descobriu uma vila antiga, casas de dois pequenos quartos. Cozinha e banheiro que davam perfeitamente para organizar a sua casa, sonho de muitos.
Em pouco tempo estava instalado. Amigos não faltavam homens e mulheres. Era opinião daqui, sugestão dali e em pouco tempo nosso amigo dava-se ao luxo de receber os mais chegados. A mesada permitia, sem excessos.
Estudar ciência exata, no caso a Física, não é fácil. Tinha pretensões em transformar-se cientista e gostava muito do seu estudo. Bom aluno, dedicado, reconheciam os mestres e colegas.
Casa bem cuidada, com o auxílio de um conhecido faz-tudo da área, reunia os amigos em noitadas de violão e bebidas. Da sua cidade natal, trazia a receita de uma caipirinha perfeita. Todos os sábados havia reunião.
Num destes, uma moça, poeta de mão cheia, falou sobre a mega-sena acumulada. Fizeram um “bolão”. E acertaram. O que está escrito não se altera. Eram muitos, mas mesmo assim a divisão garantiu um bom dinheiro.
Quando ele foi receber, foi atendido como se príncipe fosse. O dinheiro de lá não sairia, mas a renda era grande. Não sucumbiu entre tantos seios e pernas mostradas, mas tão logo comprou a casa onde morava, que sofreu uma mudança total, pintura, reparos na alvenaria, canos de chumbo tocados por plásticos, pequeno jardim arranjado por ele mesmo.
Uma das suas assessoras financeiras conseguiu o intento. Por lá morou uns bons quinze dias. Talvez, quem sabe, poderia ter conquistado o dono, já que além de corpo perfeito, sabia usar todo ele na hora de dar prazer.
O que não sabia é que ele era apaixonado, e tão logo aceito, uniu-se à antiga enamorada. Em ano e meio, tinham um filho, e a casa na rua de pedras ganhou mais dois quartos, respeitando à arquitetura local.

6 comentários:

chica disse...

Esse é maravilhoso,Jorge, não lembro onde foi que já o li! Mas foi bom reler!abração,chica

Caio Martins disse...

Pois, seu Jorge, sempre aparecerem tranqueiras quando o freguês está com a burra cheia...

Como sempre, articulado, prendendo a atenção de início ao fim, e o gostinho de coisa bem feita, após a leitura... E começamos a lembrar tantos e tantos causos que conhecemos...

Abração! Mande mais!

Unknown disse...

A Chica levantou a lebre. Já reparei, Jorge, que muitos textos aqui você publicou no Recanto das Letras.
Bem escrito, e como sempre. com final inesperado.

Anônimo disse...

É com imenso prazer que chegamos até a sua casa e convidamos você a fazer parte do Espaço Aberto – Um blog para todos! Lá você em breve encontrará proposta para postagens coletivas (Tem uma ótima que já está pronta para ir ao ar!), sorteio de brindes, entrevistas, publicações dos mais diversos assuntos, enfim você não pode ficar de fora. Venha participar!

Maria Auxiliadora de Oliveira Amapola disse...

Bom dia.
Adorei!! Queria saber se ele se formou...

Um grande abraço.

Estações da Vida disse...

Olá, Jorge. Gostei! Fica um gostinho de curiosidade...mas vamos imaginar um final feliz para esse senhor: que ele conseguiu se realizar como ser humano, sobretudo; que acabou descobrindo que dinheiro é bom, com certeza, mas que cultivou valores interiores, que o tornaran um ser inteiro,leve, livre e feliz ...Beijinhos.