sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Conto e crônica



Esta tarefa de distinguir o que é um conto ou uma crônica costuma confundir escritores, críticos e professores.
Alguém termina de escrever um texto e quer publicá-lo. Vem a dúvida. É crônica ou conto?
A maioria das pessoas acha que a distinção é fácil, quando de fácil não tem nada. Depende do autor, se o texto é nitidamente uma história, com muitos diálogos e envolvendo um grau de poesia, tudo faz crer que seja um conto. Já é um bom início de distinção da crônica, que é sempre mais direta.
Há quem afirme que a crônica não comporta diálogos. Mas esta regra não está escrita em nenhum livro de teoria literária, pelo que sei. Se os diálogos caracterizam a peça, então podemos ter um conto.
É interessante notar como quase todos os professores escrevem sobre o assunto, mas quem vai dizer com segurança se o texto é conto ou crônica é o autor. Se quando ele escreveu tinha intenção de informar sem ser repórter, é crônica.
Caso esteja com o objetivo de criar um fato, uma situação e usa personagens para atingir o seu objetivo, é um conto. Eu penso assim, embora possa estar completamente equivocado – coisa que não acredito. Diria que quando escrevo, tenho um objetivo certo. Ou informar, sem ser jornalista, ou ser um pouco mais poeta dentro da prosa, embelezando o texto e conduzindo o leitor a um final determinado. A primeira hipótese seria uma crônica; a segunda, um conto.
Muitos teóricos são adeptos desta maneira de pensar. Se tiver alguma poesia na escrita, é conto, e não se fala mais no assunto. Mas quantos são os autores que escrevem belas crônicas cheias de poesias! Quem já leu uma crônica de Affonso Romano de Sant’Anna sabe disso, embora o autor seja mais poeta e suas crônicas não andam soltas em jornais, revistas ou sites literários. Por ser poeta por excelência, quando escreve algo o traço vai ser notado, é impossível ser de outra forma.
Já Nelson Rodrigues, embora teatrólogo e acostumado com as paixões humanas, escreveu no fim de sua produtiva atividade muitas crônicas impregnadas de um falso sarcasmo, mas que na verdade era um lirismo. Daí, quem afirmar que escreveu contos, não está apartado da realidade.
Guimarães Rosa, em “Sagarana”, publicou contos e assim os classificou, sendo a obra-prima o “A hora e a vez de Augusto Matraga.”
O assunto não é nada tranquilo quanto parece. Já houve quem dissesse (Fernando Sabino) que se o autor colocar como crônica passou a ser, mesmo que se trate de belo conto.
Complicado… Acho que acabei de escrever uma crônica, aliás, não acho. Tenho certeza. Mas haverá quem diga que foi um artigo didático, ou uma lição.
E estão enganados, por que não estou a fim de dar lição a ninguém…


http://www.literal.com.br/acervodoportal/conto-e-cronica-6066/

11 comentários:

Caio Martins disse...

Jorge, seja lá o que for, não interessa: as verdades contidas é que importam. Esse negócio de dizer, do texto alheio, que é isso ou aquilo é feitio de quem não tem o que fazer.
Boto a digital em baixo, com sua vênia! Forte abraço.

Marcelo Pirajá Sguassábia disse...

Muito bom, Jorge. Esta celeuma parece mesmo não ter fim, e para fugir dela uso a seguinte forma quando quero divulgar o que escrevo: "confira o texto desta semana...". Pronto. Texto ninguém pode dizer que não é, certo?? Um abraço, meu amigo.

Marco Bastos disse...

Para alguns 'textos' (como diz o Squas_sabiamente, rs) não é fácil diferenciar. Pode haver numa crônica um trecho que é conto, e vice-versa. Interessa mesmo a qualidade que há nos escritos do amigo Jorge, a elegância de estilo e o movimento das idéias. abraços.

Célia disse...

Ah! Caríssimo Mestre! Sempre aprendo por aqui: "Se Isto ou Aquilo" não me importa, diversificar opiniões, abrir horizontes e não utilizar de "viseiras literárias" é o que me introduz nesse ambiente alfabético! Nada mais! Elucidou como sempre.
[ ] Célia.

Ana Bailune disse...

Bom dia, Jorge. Quando escrevo um texto, o que menos me preocupa é se é conto ou crônica. Quero apenas colocar minhas idéias no papel (ou na tela). Depois, eu decido. Acho que sempre penso assim: crônicas relatam fatos reais, e contos podem ou não ser baseados em fatos reais, mas tem um quê de fantasia e poesia. Uma crônica é mais direta, embora possa ter um pouco de poesia, como você bem diz.

marcia disse...


Crônica ou conto?..O que importa e transitar em seu mundo maravilhoso das letras...bjus

Unknown disse...

Sim, é difícil classificar. Eu uso a seguinte estratégia: se escrevo sobre algo que acontece ou aconteceu, digo que é crônica; se é pura ficção, digo que é conto. Abrs Mardilê

iderval.blogspot.com disse...

Professor Jorge, sem a intenção da providencial aula, a aula foi dada, não sei se encorporada por todos,acredito que todos os que leram o seu texto entenderam , o importante é escrever,o importante é documentar e deixar para a prosperidade aquele momento. Crônica ou Conto, conto com os seus ensinamentos, hoje sou outro,hoje sei até ler.
O difícil é entender estas variações da arte de escrever e conseguir encastoar na cabeça do leitor o que se pensa.

Eu acho que o professor escreveu uma Crônica,como também acho que poderia ser um Conto.
O importante é que foi importante e uma verdadeira aula.
Jorge os bons professores ensinam por osmose. Um abraço Iderval.



Rita Lavoyer disse...

Mário e Andrade disse que toda história é um conto. Logo,penso, um conto pode ser uma crônica, mas uma crônica não será um conto.
Participei de um concurso na categorai "Crônica" tendo certeza absoluta de que o que produzi era e continua sendo uma crônica, fiz em homengaem a uma escritora de Araçatuba.
Foi desclassificada por não corresponder a crônica, mas conto.

Simplesmente contei a vida de uma escritora. Putz!!!!!!!!

Teria me conformado pela convicção de que a minha crônica era ruim.
Mas naõ me conformo e não haverei de me conformar com o que me disseram:

"Pseudo-crônica"

Ainda que "pseudo" afirmaram ser uma crônica.

Estou esperando a comissão me informar onde consta característica de conto naquele meu trabalho.
Putz, de novo!

Aliás, você, Jorge, até já leu,
até fez comentário sobre ela.

É crônica, eu juro por mim mesma!Quando sentei-me diante do monitor eu disse: Vou escrever uma crônica, pô! Escrevi. O que as pessoas produzem têm valor, muito valor. O trabalho de ninguém pode ser tratado como 'pseudo" ainda mais de um candidatoque se propôs a corresponder a um edital de concurso, pô!
Enfim, como diz o Marcelo: É Texto e pronto!

Anderson Fabiano disse...

Jorjão, bom dia!

Certo dia, me bateu às mãos um exemplar da Newsweek, com uma reportagem em que pesquisadores haviam classificado 17 sexos entre o homem "absoluto" e a mulher "absoluta". Putz!

Entrei em parafuso quando descobri que, apesar das minhas boas intenções, não era homem "absoluto".

Conto? Crônica? Pouco importa quando o texto é bom e cumpre seu papel. Deixemos as classificações para os pesquisadores que dirão se escrevemos um conto "absoluto" ou uma crônica "absoluta". Nós, simples mortais, escritores contumazes, cumprimos nossa parte escrevendo. Eles que classifiquem!

Meu carinho,

Anderson Fabiano

...Homem absoluto... conto... crônica... tá bom... rssss

Jota Effe Esse disse...

Não teve um escritor que simplificou dizendo que, se não é aguda, é crônica. Eu fico com ele. Meu abraço.