sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Recanto 500



                                             Recanto 500

            Trabalhava com atenção absoluta, em cima de texto grande, era a revisão de um romance.  Não cabem erros.
            Escrever, como toda arte, exige estudo preliminar, dedicação, criatividade e respeito ao leitor.  Caso fique faltando um só destes elementos fundamentais, a cantiga vai ficar desafinada.  Pare e veja: estudo preliminar é sobre o vernáculo.  Quem não domina razoavelmente a língua vai produzir obra defeituosa.  Dedicação é questão de amor pelo que se faz.  Sem ela, os frutos do trabalho ficam sem sentido, ou devendo explicações.
            Criatividade – quem não sabe disso? – dá alma ao que foi escrito, pintado, esculpido, musicado.  É a única qualidade e preliminar que não se aprende estudando.  É pessoal e desconheço como funciona no ser humano. Talvez a leitura constante de bons autores ajude muito, mas sozinha não resolve.  Há que ter atenção: criativo não é quem inventa com facilidade, mas sim quem o faz com arte.
            E afinal, o respeito ao leitor.  Não acredite que a sua verdade seja a dele, de quem lê um texto ou admira um quadro.  Dizem haver uma forte tendência humana neste sentido.  O que é real para um, deve ser para outro, o que absolutamente não é certo, muito menos verdadeiro.  Além disto, existe a regra de sempre ser deixada uma interpretação pessoal do leitor, ou espectador.  Ele também participa da obra, que não é uma peça isolada.
            Trabalhava com atenção absoluta.  Era seu texto postado de número quinhentos. 

imagem:  "O absinto", Edgar Degas, óleo sobre tela, Museu D'Orsay 

15 comentários:

Unknown disse...

Concordo plenamente com o que dizes. Eis um exemplo: estou lendo um romance policial. Não é nenhuma obra-prima, mas nota-se que o autor desenvolve bem o tema, mas no item "correção gramatical" é uma lástima: o romance é repleto de erros graves. Conheço o autor, sei que ele me respeita, vou tentar conversar com ele sobre o assunto. Às vezes passa uma falta de letra, uma vírgula, etc., mas muitos erros tornam a leitura desestimulante. Abrs Mardilê

Célia disse...

Começo meu comentário com uma interrogativa: - seria seu "post" 500? Uma aula com colocações pertinentes a quem se aventura na arte, seja qual for, muito discernimento, responsabilidade e respeito a quem se aproxima da mesma, para elaborar ou apreciar. Excelente reflexão, Jorge.
[ ] Célia.

iderval.blogspot.com disse...

è lendo e estudando que se aprende,bela aula e que deverá ser seguida com muita atenção e pé na tábua.Um abraço e contínuo aqui,sentado,lendo,aprendendo,
estudando e atento.

Vontade é o que não falta.

Brasil,acorda.Iderval.

Caio Martins disse...

Pois, Jorge, como sempre assino em baixo. Dom e talento não bastam... a experiência (sabedoria mais prática) resume o fator. E, parodiando Ismael Silva, há que escrever até aprender. Forte abraço.

petuninha disse...

Jorge, concordo com vc., porquê entendo que escrever é uma arte. E, como tal, a obra literária tem que ser lapidada e transformada, para que sua leitura seja de um som agradável e belo.
Beijos
Petuninha

Marco Bastos disse...

Concordo com tudo o que escreveste!. Acredito que a criatividade passe por uma fase de "libertação" - o autor deve estar desprendido de conceitos do senso comum, sem repetí-los continuadamente, como verdades absolutas. O bom necessariamente não é o belo. A repetição é estéril.
abraços.

marcia disse...


Concordo Jorge com tudo que disse e agradeço por me ensinar o caminho das pedras...bjus

Sueli Fajardo disse...

Amigo Jorge, é lógico que o trabalho com a obra, enquanto construção, é necessário. Porém, o que vai realmente determinar o sucesso dela, por melhor que seja, é a recepção do apreciador, em qualquer segmento artístico e literário. E é aí que esbarramos no incompreensível: por que tal obra, tal peça de teatro, tal filme, tal música não obtiveram o reconhecimento merecido? Sinceramente não sei. Acredito que seja uma daquelas célebres peças que a alma humana costuma pregar na própria humanidade: seu paradoxal comportamento. Meu professor do PDE dizia que o que faz a arte e a literatura alcançarem a alma humana tem pouco a ver com perfeição e muito a ver se conseguem, ou não, ativar, no interlocutor, o PHATOS. Assim como o político safado que consegue convencer, com seu discurso, seus eleitores, entre outros exemplos. De qualquer forma, viva toda forma ou expressão artística! Pois é a partir dela que respiramos um pouco mais de humanidade. Grande abraço, com muita admiração pelo seu talento e por sua percepção.

Marcelo Pirajá Sguassábia disse...

Um guia irretocável, Jorge. E seguido à risca por você. Sorte nossa.

Anderson Fabiano disse...

Bom dia, Jorjão,

Certa vez, um crítico de fama reconhecida, me perguntou o que aquela minha obra representava, respondi: Sinceramente não sei, só conheço a minha metade.

Ele ficou fulo da vida e "meteu o pau" na sua coluna.

Fazer o que, né? Eu não conhecia a opinião do espectador...

Meu carinho,

Anderson Fabiano

PS: Nosso livro zarpou de Blumenau.

Maria Luzia Fronteira disse...

Hum Jorge gostei imenso da sua postagem...para refletir principalmente quando "se" escreve seja o que for para publicar...vou passar por este seu "recanto 500"...gosto sempre de ler o que escreve...
Abraços
Luzia

Carmem Velloso disse...

Escrever para o leitor, sem contudo impor suas ideias é uma arte, Jorge.
Bjs. Carmem

Unknown disse...

Caro Jorge, concordo plenamente com a sua abordagem - escrever é uma arte. Quanto ao nosso idioma, muitíssimo difícil, diante das recentes mudanças ortográficas, escrever satisfatoriamente, se tornou mais difícil; erramos mesmo quando pensamos saber. É uma escorregadela no emprego do LÊ e LER; VER e VÊ ( 3ª pessoa e forma infinitiva... e, outras mais - perceptíveis aos letrados.
É confortável saber que, escritores consagrados, dentre eles, um brasileiro - o mais lido no mundo, não publica os seus textos sem que, antes, esses sejam revisados, por alguém altamente capacitado. A nossa língua é difícil, importante é o esforço - denodo de responsabilidade e respeito para com o leitor – em melhorarmos sempre a nossa ortografia e amadurecermos a forma de repassar a nossa criatividade - Preciso muito chegar lá.
Quanto à interpretação textual... Comumente o leitor se transporta para o texto - se faz um com ele; implica que, essa interpretação tem a ver com a emotividade, percepção e psique... de cada leitor ( Ele é e deve ser livre nos seus sentires). Por outro lado, os chamados críticos literários exigem do autor, verdades que possam ir ao encontro de suas verdades, curioso é que, não abrem mão disso. Um exemplo bem relevante dessa abordagem está no comentário postado nessa página por Anderson Fabiano

(...) Certa vez, um crítico de fama reconhecida, me perguntou o que aquela minha obra representava, respondi: Sinceramente não sei, só conheço a minha metade.
Ele ficou fulo da vida e "meteu o pau" na sua coluna.
Particularmente, costumo tirar lições das críticas. A que mais me doeu foi a que mais me ensinou.. Mudou completamente a minha escrita. Em cada uma delas há um pouco de verdade – quando não, toda!

Até a próxima e abraço poético,
EstherRogessi

Rita Lavoyer disse...

A gente tenta, mas há os que tentam e conseguem! Isso também é outro dom discutível.
Acertar tudo acaba deixando a arte sem espaço para a crítica,a que corrige. Essa é a boa.

Jorge Luiz Alves disse...

Escrever é uma arte. E requer um cuidado preliminar no manuseio das palavras e esmero na utilização do idioma (o mais complexo dos neolatinos)que nos torna responsáveis por cada letra na folha ou na tela. Considero leviandade escrever uma obra sem levar em conta tais assertivas. Escrever é uma arte mas não pode ser tratada de forma aleatória, justificando-se em modernismos oportunos toda forma de desleixo literário. Abração no xará de Charitas!